CHIARA

Preciso segurar no corrimão enquanto desço as escadas, ao perceber quem está bem na minha frente, minhas pernas ficam bambas.

Desço o último degrau e caminho até eles, ainda confusa e tentando assimilar. 

Estou tão nervosa, que acabo esbarrando o braço em um jarro de decoração. O Estranho pega ele no ar.

— Você? — pergunto, o fitando.

— Pois é! — sorri.

— A propósito, obrigada pelo jarro! — falo, mantendo uma expressão séria.

— Não precisa agradecer.

Como se tudo isso não fosse muita coincidência, eu olho para o lado e vejo Atlas, que conheci à tarde no churrasco.

— Você? — pergunto.

— Você os conhece, filha? — minha mãe pergunta.

— Ele… — aponto para o estranho, que eu ainda não sei o nome —, eu conheci há um mês na boate do Matteo. E ele… —  aponto para Atlas —, eu conheci hoje na casa do Luca.

— Coincidência! — minha mãe fala, sorrindo com sua testa enrugada. Ela deve está achando isso tão inusitado quanto eu. — Deixa eu te apresentar: esse aqui é o Theodore.

— É um prazer conhecê-lo! — falo, com cordialidade, me aproximando para um cumprimento.

— O prazer é meu! — responde.

— E agora, formalmente, esses são Eros e Atlas. — minha mãe faz as apresentações.

Eros? Então quer dizer que esse é o nome dele?

— Olá! — Eros estende a mão. Eu ergo a minha, o calor familiar me deixa momentaneamente paralisada.

Ele aproxima seu rosto do meu e dá um beijo mais demorado.

— Você está linda, estranha! — o hálito quente dele envia arrepios pela minha espinha.

O cara que eu escolhi para tirar a minha virgindade e, que apesar de ser grego, saiu a francesa, sem se despedir, vai se tornar enteado da minha mãe. O que isso faz de nós?

Sou dominada por uma súbita frustração e lanço um olhar furioso para ele.

Saio do meu pequeno transe e percebo que Atlas está falando comigo.

 

— Oi, novamente, Chiara! — ele me cumprimenta com um abraço.

— Oi! — sorrio.

— Eu vou até a cozinha ver se está tudo em ordem.— minha mãe fala. — Vamos comigo, Theodore?

O pai do Eros coloca a mão na cintura da minha mãe e anda com ela em direção a cozinha.

Estou intrigada com uma coisa em relação a Atlas, então decido perguntar:

— Você já sabia que...?

— Que você é filha da namorada do meu pai? — ele pergunta, sorrindo, com o cenho franzido. — Não fazia ideia. Foi tudo uma grande surpresa para mim também.

— É que você sabia o meu sobrenome.

— É que, só talvez, alguém... 

— Chegou alguém. — Eros interrompe.

Elena e Matteo adentram a sala. Minha mãe e Theodore vêm logo atrás.

— Desculpem a demora! — Elena fala. — Acabei dormindo após ter passado a manhã e uma parte da tarde trabalhando em alguns desenhos, por isso o Matteo não quis me acordar.

— Chegou na hora certa, filha! — minha mãe fala, cumprimentando Lena e Matteo.

— Essa é a filha que está grávida. — Eros fala, parece confuso.

Ele achou que eu estou grávida?

— Sim — Elena fala, estendendo a mão. — Eu sou a filha que está grávida. Prazer, Elena Médici!

— Eros Makris! — ele fala, retribuindo o cumprimento. Em seguida, faz o mesmo com o Matteo.

Makris?

Só agora me dou conta que o estranho é um Makris. O que significa que o hotel onde tivemos a nossa noite, é dele.

Todas as apresentações são feitas.

Theodore sempre muito cordial, expressa a alegria que sente em nos conhecer. O problema é que eu ainda estou tão extasiada com tudo, que mal consigo escutar suas palavras.

Sabe quando você quer prestar atenção em uma conversa, mas a sua mente barulhenta não te deixa concentrar? Pois é, assim que estou me sentindo.

Sempre que olho para Eros, seu olhar está voltado para mim.

O que ele está pretendendo com isso? Que alguém desconfie?

Eu não sei que tipo de jogo esse garoto está jogando, mas se acha que pode brincar comigo, está muito enganado. 

Elena me fita com um olhar questionador. Ela me conhece como ninguém, e sei que percebeu algo.

Mas que droga! Qual a probabilidade de você conhecer os dois filhos do namorado da sua mãe, em situações diferentes e antes de ser apresentada a eles?