CAPÍTULO 04

JULIAN

Conheci a Amanda por meio de uma amiga em comum. Na época, eu estava procurando um quarto para alugar, e ela me contou que havia fechado um apartamento com outra amiga — e que ainda havia um quarto disponível. Aceitei a proposta na hora.

Teria um quarto só para mim, o que significava mais privacidade — algo que eu valorizava bastante. Na maior parte do tempo, quase não nos encontrávamos em casa. Mas, em um dia específico, enquanto eu estudava na sala, uma garota entrou. Ela parecia tão distraída que nem percebeu minha presença... mas eu reparei nela imediatamente. E não consegui deixar de notar o quanto era linda.

Ela foi direto para o quarto e, algum tempo depois, voltou do banho, enrolada apenas em uma toalha. Caminhou até a cozinha, ainda sem notar que eu estava ali, quieto na sala.

Foi só quando retornou, com um sanduíche e um copo de suco nas mãos, que seus olhos finalmente encontraram os meus. O susto foi tão grande que ela deixou tudo cair. O copo estourou ao atingir o chão, espalhando suco e cacos de vidro por toda parte.

— Acho melhor você ir trocar de roupa enquanto cuido disso aqui. Não tive intenção de te assustar. Me desculpe! — disse, um pouco constrangido por ter causado tudo aquilo.

— Ai, meu Deus! — ela exclamou, ainda assustada. — A culpa não foi sua. Eu é que devo pedir desculpas... estava tão distraída que nem percebi que você estava aí, estudando. Vou me vestir e já volto para te ajudar a limpar isso, tá?

Depois daquele dia, passamos a nos encontrar com mais frequência no apartamento. Aos poucos, a convivência foi se tornando mais natural… até que, algum tempo depois, aconteceu nosso primeiro beijo.

Desde o início, ela deixou bastante claro que não queria um relacionamento sério. Seu foco era nos estudos, e ela não queria distrações.

Assim, mantivemos uma “amizade com benefícios” que durou quatro anos, atravessando toda a fase da faculdade e da especialização — ela em cardiologia, eu em neurologia.

Depois que já estávamos empregados, decidi pedi-la em casamento — e, para minha felicidade, ela aceitou. Fiquei imensamente feliz.

Agora, só restava uma etapa… contar às nossas famílias. Sabíamos que seria um choque para todos, afinal, nunca havíamos assumido oficialmente um namoro… e, de repente, estávamos prestes a nos casar.

Depois do que aconteceu com o irmão dela mais cedo, imaginei que as coisas poderiam se complicar um pouco. Estava certo de que ela pediria para adiarmos nossos planos até que o tratamento dele fosse concluído — e, sinceramente, eu estava preparado para isso. Compreendia que, naquele momento, a prioridade dela era a família, e eu respeitava isso profundamente.

Quando ela disse que precisava conversar comigo, imaginei que fosse justamente sobre isso — adiar o casamento por causa do irmão.

No entanto, nada me preparou para o que veio a seguir. Quando Amanda contou que o irmão e a cunhada haviam dado entrada na clínica de fertilização… e que ela pretendia gerar a criança deles, senti o chão fugir por um instante. Eu definitivamente não esperava por essa notícia.

Embora eu já tivesse imaginado algumas vezes Amanda grávida, sempre a visualizei carregando um filho nosso — mesmo que ainda não tivéssemos tido qualquer relação sexual. Toda aquela situação, no entanto, era difícil demais para eu assimilar de uma vez só.

— Como você tomou essa decisão sem falar comigo antes? Amanda, estamos em um relacionamento, e isso é algo que precisa ser decidido juntos. Essa escolha vai afetar a minha vida também — tentei explicar, tentando fazê-la enxergar a situação de forma mais clara.

— Mas, Julian, meu irmão pode não ter muito tempo de vida. O maior desejo dele é ser pai. O médico explicou que a situação está complicada, que a doença está bastante avançada — ela tentou argumentar.

— É exatamente por isso que você não deveria ter tomado essa decisão tão rápido, Amanda. Você nem sabe se seu irmão vai aguentar até o final da gravidez. Precisamos conversar sobre isso com calma e pensar em como isso vai afetar nossa vida e nosso relacionamento.

— Ele vai aguentar, Julian! — ela disse, com lágrimas nos olhos. — Imaginei que você me apoiaria nessa decisão, mas acho que me enganei.

— É uma decisão séria demais para você ter tomado assim, no impulso. Você nem considerou os prós e contras, nem pensou em como eu me sentiria, Amanda. Sinceramente, não sei nem o que pensar sobre isso — disse, levantando-me em seguida e indo para o meu quarto.

Eu estava muito chateado para conversar naquele momento. Precisava de um tempo para digerir tudo aquilo. Não conseguia acreditar que ela havia tomado uma decisão tão importante sem me consultar, sem nos incluir nessa equação.

Eu entendia que ela podia estar abalada, tomada pela emoção ao ver o irmão fragilizado e sonhando com algo que talvez o tempo não permita realizar. Mas, ainda assim, me doía perceber que ela tomou essa decisão sem pensar em mim, em nós. Como se minha opinião fosse um detalhe secundário.

Ela não parou para imaginar o que seria ver a mulher que amo carregando o filho de outro homem, mesmo que fosse o irmão dela. Sei que não é um filho gerado por amor entre duas pessoas, que há um propósito maior por trás, mas isso não torna tudo mais fácil.

Ela também não pareceu considerar os olhares tortos, os julgamentos. A pressão social, os comentários maldosos — tudo isso vai nos atingir. Vai atingi-la. E, inevitavelmente, vai respingar em nosso relacionamento.

Além disso, há o impacto emocional. As mudanças no corpo dela, os riscos, o desgaste físico e psicológico de uma gestação. Não é só um gesto bonito. É uma entrega imensa, e não sei se ela está realmente pronta para isso.

Acima de tudo, o que mais me machuca é ter sido excluído dessa decisão. Se ela tivesse me chamado para conversar, talvez eu tivesse reagido de outra forma. Talvez eu até a apoiasse, se sentisse que havia espaço para minha voz. Mas do jeito que foi, me senti deixado de lado... como se meu lugar na vida dela fosse menor do que eu imaginava.

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