O hospital parecia calmo à primeira vista. As luzes fluorescentes acesas, o som rotineiro de monitores e conversas abafadas ecoando pelos corredores, os enfermeiros caminhando com suas pranchetas em mãos. Para quem observava de fora, era só mais uma noite comum.Aquela calmaria estava prestes a acabar porque Samantha estava ali. Ela traria o caos. Escondida sob o capuz preto de um casaco que não usava há anos, sentada em um banco de espera no térreo do hospital, misturada entre os visitantes comuns, ninguém a notava. Ninguém desconfiava. Aprendeu a se camuflar, a desaparecer, mesmo estando no centro de tudo.Nos olhos, óculos escuros grandes demais para o horário. No rosto, a expressão vazia de uma mulher que já não pertencia à própria realidade.Enquanto fora ela estava em frangalhos, por dentro sentia… poder. Um poder sombrio e silencioso, queimando em seu peito como brasa viva.Havia passado a noite anterior em claro. Sem comer. Sem dormir. Sem respirar direito.Seu apartamento es
O hospital estava em festa. Após vinte e um dias de angústia e mais sete de observação, Joshua finalmente teria alta. O medo, a incerteza e a dor ficaram para trás, dando lugar ao alívio e à esperança. A sensação de renovação pairava no ar, um novo capítulo se abrindo para todos.Luna caminhava ao lado de Valentina, sorrindo, os dedos entrelaçados com os da filha, enquanto conversavam sobre os planos para a comemoração. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentia que estava segura. O sol brilhava no céu aquecendo sua pele e o riso suave de Valentina enchia seu coração de alegria.O que ela não imaginava era que o perigo estava próximo.Samantha observava tudo de dentro do carro. Seus olhos chamuscavam em puro ódio. Ela segurava o volante com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos. Não havia mais lucidez, apenas uma única certeza pulsando em sua mente: vingança.Tudo o que ela fez, o que planejou, não foi por nada. Seu casamento estava destruído, Jacob deu entrada nos p
Luna HarrisonO som, foi o que veio primeiro.Não o impacto. Não a dor. Simplesmente o som.Um rugido brutal, feroz, vindo em nossa direção. Não era de um carro, era de algo muito mais primitivo. O som do ódio. Da loucura. Da morte.— LUNA, CUIDADO!Kevin gritou tão alto que sua voz cravou em mim como uma lâmina. Eu me virei, com Valentina ainda falando sobre o sabor do sorvete que queria na volta para casa, o tempo parou.Eu a vi.Samantha.Atrás do volante. Os olhos alucinados, rasgados de fúria. O cabelo desalinhado, as mãos cravadas no volante, o rosto contorcido de uma maneira que eu nunca tinha presenciado. Aquilo não era mais uma mulher, era um demônio solto na Terra.O carro vinha direto em nossa direção, rápido, sem hesitação.Tudo em mim gritou.Peguei Valentina no colo e me lancei para o lado. Não houve tempo para pensar, nem mesmo para temer. Era puro instinto de proteção, total desespero. Caímos sobre o concreto, o som do carro rasgou o ar tão perto que senti o calor do
Duas semanas haviam se passado desde o atentado.O tempo, apesar de breve, parecia ter se dilatado, como se cada dia carregasse o peso de uma década. As cicatrizes ainda eram visíveis. Algumas na pele, outras mais profundas, na alma.Valentina ainda acordava de madrugada, ofegante, com os olhos arregalados, buscando a voz da mãe em meio ao pesadelo. Joshua, permanecia ao lado de sua irmã sussurrando palavras de conforto. Luna, apesar de forte, sentia-se quebrada por dentro, mas havia uma coisa que mantinha todos de pé: a justiça. Ela estava prestes a acontecer.A notícia da prisão de Sophie e Victor já havia percorrido o país como um vendaval. Sites de notícias, programas de TV e perfis de redes sociais exploravam cada detalhe do escândalo. Dr. Victor, homem outrora respeitado, agora era o rosto da perversidade disfarçada de medicina. Sophie, apanhada ao tentar fugir, estava sendo processada por uma lista de crimes tão longa quanto as mentiras que sustentou.No entanto, nenhum julga
O céu estava encoberto por nuvens cinzentas, o vento carregava uma melancolia antiga. Era uma manhã que combinava com a alma de Jacob.Ele dirigia em silêncio pelas ruas estreitas que levavam ao cemitério. As mãos firmes no volante não escondiam o tremor sutil dos dedos. Ao seu lado, Luna mantinha o olhar silencioso voltado para ele, respeitando o peso daquele momento.Quando o portão do cemitério apareceu à frente, Jacob reduziu a velocidade e estacionou com cuidado. Respirou fundo, mantendo os olhos fixos na entrada, tentando reunir coragem para enfrentar o que estava por vir.Luna quebrou o silêncio.— Tem certeza de que quer fazer isso? — sua voz era um sussurro.Jacob engoliu em seco. — Eu preciso — seus olhos não se desviaram do caminho à frente.Ela assentiu tocando sua mão por um instante, transmitindo força sem dizer mais nada e então, soltou. Ela sabia que ele precisava fazer aquilo sozinho.Jacob desceu do carro com passos lentos. A cada metro que avançava, sentia o peso d
Quinze dias passaram desde o julgamento. O tempo, embora breve, foi gentil.As noites começaram a ser mais tranquilas, os sorrisos mais frequentes e os silêncios menos dolorosos. Luna ainda tinha seus momentos de reflexão, mas agora eram preenchidos por lembranças boas e promessas doces.Valentina voltou a desenhar corações com “mamãe”, “papai” e “Joshua” no centro. Joshua ria mais, brincava mais. E Jacob… Jacob parecia mais leve, como se um fardo de anos tivesse finalmente caído de seus ombros.Naquela manhã de céu limpo, Luna acordou com beijos suaves no rosto e a voz de Valentina.— Hoje é dia de surpresa, mamãe…— a pequena cochichava emseu ouvido.Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, Joshua surgiu com uma venda preta nas mãos e um sorriso sapeca.— Vai ter que confiar na gente!O carro seguia em silêncio. Jacob dirigia com uma expressão misteriosa. No banco de trás, Joshua segurava a mão da irmã com firmeza, os dois vibrando em animação.— Posso saber qual é a surpresa? — L
A casa de Jacob e Luna estava iluminada com luzes suaves e decorada com flores frescas. O aroma de pratos deliciosos preenchia o ar, enquanto risos e conversas animadas ecoavam pelos cômodos. A noite era especial e todos os entes queridos estavam reunidos para um jantar que prometia ser inesquecível.Valentina e Joshua corriam pela sala, rindo e brincando, contagiando a todos com sua alegria. Jacob observava os filhos com um sorriso no rosto, sentindo o coração transbordar de felicidade.Luna, ao seu lado, segurava sua mão com carinho. Eles trocaram um olhar cúmplice, sabiam que era o momento certo para compartilhar a grande notícia.— Atenção, pessoal! — disse Jacob, erguendo a voz para chamar a atenção de todos. — Temos algo muito especial para compartilhar com vocês.Todos se voltaram para o casal, curiosos.— Luna e eu… vamos nos casar! — anunciou Jacob, com um sorriso radiante.Um silêncio surpreso tomou conta da sala por um instante, seguido por aplausos, gritos de alegria e ab
A tarde se transformava em noite e a casa de Jacob e Luna estava repleta de risos e alegria. Após a divertida manhã de decoração do quarto dos gêmeos, todos estavam ansiosos para o jantar de comemoração.Luna, com a ajuda de Mia e Kate, preparava a mesa na varanda com uma iluminação suave. A decoração era simples, cheia de amor: flores frescas, velas aromáticas e guardanapos dobrados com carinho.Jacob, agora vestido com uma camisa casual e jeans, cuidava da churrasqueira, preparando carnes suculentas, estilo churrasco brasileiro, e legumes grelhados. O aroma delicioso se espalhava pelo ar, aguçando o apetite de todos.Kevin, sempre animado, apareceu com uma caixa misteriosa nas mãos.— Preparem-se para uma surpresa que vai deixar este jantar ainda mais especial!Todos se entreolharam, curiosos. De onde ele tirou aquela caixa?— O que você está aprontando agora, Kevin? — perguntou Mia, rindo.— Vocês vão ver, mas só depois do jantar.As crianças, Valentina e Joshua, corriam pela casa,