O DESTINO DOS ALFAS
O DESTINO DOS ALFAS
Por: Romislaine Corrêa
Capítulo 01

O motor do táxi velho roncou antes de parar em frente à casa isolada. Angela apertou a alça da mochila contra o peito, respirando fundo. O ar era diferente ali — mais denso, carregado de uma eletricidade invisível que arrepiava a pele. A vila de Montemori parecia saída de um conto antigo: ruas estreitas de paralelepípedos, janelas fechadas com cortinas pesadas, sombras longas que dançavam nas paredes de pedra.

O motorista, um senhor de poucos dentes e menos palavras, desceu para abrir o porta-malas. Angela agradeceu em italiano arranhado. Ele apenas assentiu e voltou para o carro, deixando-a sozinha diante da cabana que agora chamaria de lar.

A casa era pequena, mas encantadora — tijolos rústicos cobertos por trepadeiras, uma varanda de madeira gasta e janelas circulares como olhos atentos. Tudo parecia silencioso demais. Nenhum pássaro cantava. Nenhuma brisa agitava as folhas. Era como se a própria vila prendesse a respiração diante dela.

Angela girou a chave na fechadura e empurrou a porta. Um cheiro de madeira velha e ervas secas a envolveu. Lá dentro, tudo estava exatamente como nas fotos: móveis simples, uma lareira de pedra, prateleiras cheias de livros empoeirados.

Ela largou a mochila no chão e se permitiu um suspiro trêmulo.

Você conseguiu, Angela. Está livre.

Ou pelo menos era o que queria acreditar.

A tarde avançou lentamente. Depois de limpar um pouco a casa e instalar seu mínimo de pertences, Angela decidiu explorar os arredores. Seguiu um caminho estreito atrás da cabana, que levava a uma floresta densa e antiga. As árvores pareciam sussurrar em uma língua que ela não conhecia, suas copas formando um teto quase impenetrável de sombra.

Enquanto caminhava, sentiu algo a observando. Um frio rastejou por sua espinha, e ela se virou — nada.

Você está imaginando coisas.

Continuou andando, embora cada passo ecoasse alto demais na trilha silenciosa.

Foi então que o viu.

Uma figura parada entre as árvores. Um homem alto, de cabelos negros como a noite e olhos dourados que brilhavam mesmo na penumbra. Ele não se movia, apenas a observava com uma intensidade que fez seu coração disparar.

Angela engoliu em seco.

— Ciao...? — arriscou, a voz mais fraca do que gostaria.

O homem inclinou levemente a cabeça, como se a estudasse. Depois, sem dizer uma palavra, virou-se e desapareceu entre as árvores, tão rápido e silencioso que pareceu um fantasma.

Angela ficou ali por um longo momento, o coração martelando no peito.

Quem era ele?

E por que, em algum nível primal e inexplicável, seu corpo inteiro havia respondido à sua presença?

Ela sacudiu a cabeça, tentando afastar o medo — ou seria a excitação? — e voltou apressada para casa, sem perceber que, nas sombras da floresta, três pares de olhos a seguiam... e nenhum deles estava disposto a deixá-la escapar.

O céu se tingia de laranja e roxo enquanto Angela caminhava de volta para a vila. A floresta atrás de sua nova casa parecia quase viva, com sombras que se alongavam e sussurravam segredos entre as árvores antigas. Seus passos ecoavam na trilha estreita, e, apesar da beleza selvagem ao redor, o medo sussurrava em sua mente.

Aquele homem...

Seus olhos dourados ainda queimavam em sua memória.

Nunca, em toda sua vida, alguém havia olhado para ela daquela maneira. Como se ele a conhecesse. Como se pudesse ver cada cicatriz invisível que ela tentava esconder.

Angela se abraçou, sentindo o vento frio acariciar sua pele exposta. O vestido leve que usava era pouco contra o arrepio que se espalhava por seu corpo — e ela sabia que não era apenas o frio da noite.

Assim que pisou na rua principal da vila, notou como o ambiente mudava. As janelas estavam fechadas, as portas trancadas. Nenhum som de conversa, nenhum riso de crianças. Era como se a vila inteira segurasse o fôlego sempre que ela aparecia.

Ela sentiu os olhos. Observando. Julgando.

Eram diferentes dos olhos do estranho na floresta. Esses olhos eram frios, desconfiados. Já o dele... havia fome ali. Não a fome de um predador comum, mas algo mais primal, mais antigo.

Angela apertou o passo, desejando o conforto da cabana que agora chamava de lar.

Foi quando o sentiu de novo.

Aquele arrepio — aquela consciência de que não estava sozinha.

Virou a esquina da viela e parou abruptamente.

Ele estava ali.

De pé, encostado na parede de uma casa de pedra, como se tivesse surgido das sombras. Seus cabelos negros caiam sobre a testa, e seus olhos dourados — meu Deus, aqueles olhos — a prendiam como algemas invisíveis.

Angela abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu.

Ele caminhou em sua direção, passos lentos e predadores. Cada fibra do seu ser gritava para correr, mas ela não conseguia se mover. Era como uma mariposa hipnotizada pela chama.

Quando ele parou a poucos centímetros dela, Angela teve que inclinar a cabeça para olhá-lo nos olhos.

Ele era... grande. Alto, largo, sólido como uma muralha. O calor que emanava dele era palpável, e seu cheiro — uma mistura de madeira queimada, terra molhada e algo puramente masculino — a envolveu, intoxicante.

O estranho falou pela primeira vez, sua voz rouca e profunda.

— Você é nova aqui.

Não era uma pergunta. Era uma constatação. Como se ele já soubesse tudo sobre ela.

Angela umedeceu os lábios, nervosa.

— Sim. — Sua voz saiu mais fraca do que gostaria. — Acabei de chegar.

O homem inclinou a cabeça, como se estudasse cada nuance dela — o tom de sua pele, o tremor quase imperceptível de seus dedos, a pulsação acelerada em sua garganta.

— Este lugar... — ele murmurou — não é seguro para você.

Um arrepio a percorreu.

— Por quê?

Ele sorriu, mas não foi um sorriso gentil. Foi um sorriso predador. Como um lobo brincando com sua presa.

— Porque você é diferente — ele disse. — E coisas diferentes não sobrevivem aqui... sem proteção.

Angela deu um passo para trás, mas ele avançou junto, sem tocá-la — apenas mantendo a distância mínima para que ela sentisse seu calor, seu cheiro, sua presença esmagadora.

— Quem é você? — ela sussurrou.

Ele hesitou por um momento, como se considerasse se devia contar a verdade.

— Zane.

O nome deslizou pela língua dele como uma promessa.

Angela olhou para ele, sentindo a pulsação martelar em seus ouvidos.

Algo dentro dela — algo antigo, esquecido — reconhecia aquele nome. Reconhecia aquele homem.

Zane a observava com olhos de fera, e por um instante ela viu algo mudar neles — uma sombra de dor, talvez? De desejo?

Ela não sabia.

O que sabia era que sua vida acabara de mudar para sempre.

E ela ainda nem fazia ideia.

Ele se inclinou um pouco mais, e Angela prendeu a respiração, esperando... o quê? Um beijo? Um ataque?

Mas Zane apenas inalou seu cheiro, os olhos fechando por um breve segundo, como se estivesse se alimentando dela de alguma maneira invisível.

— Você ainda não sabe, pequena — murmurou contra sua pele — mas agora... você é minha.

E então, tão rápido quanto apareceu, Zane se virou e desapareceu na escuridão, deixando Angela tremendo de medo... e algo mais sombrio, mais perigoso, fervendo em suas veias.

Desejo.

Ela caiu de joelhos na rua deserta, sem forças, tentando recuperar o fôlego.

O que havia acabado de acontecer?

E por que, no fundo da alma, uma parte dela gritava para segui-lo?

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