▪︎Cilada do Destino▪︎

Fernanda

Depois daquela conversa tensa com o Luan, não preguei o olho à noite inteira, fiquei fritando na cama e assim que amanheceu, a primeira coisa que eu fiz foi ligar para o Senhor Antonio, falando sobre a minha decisão. E como eu imaginava, ele ficou muito satisfeito com minha resposta. Decidi ainda não contar pra minha mãe, por hora preciso inventar uma boa desculpa para ela não desconfiar de nada. Quer dizer, conseguir um outro emprego, mas isso, eu resolvo depois.

Marcamos de nos encontrar no mesmo lugar de antes, ele me ofereceu um motorista particular para me buscar, mas não aceitei, pois não quero chamar atenção dos vizinhos e menos ainda da minha mãe. Já basta o carão do Luan, que tenho que suportar, agora ser a causadora de um desgosto da minha mãe, isso sim, eu jamais superaria.

Antes de sair, me peguei um pouco curiosa, e decidi pesquisar sobre o tal Pietro Castelamari nas redes sociais, mas não achei nada sobre esse homem. Vasculhei tudo o que pude, mas não tinha absolutamente nada, nem mesmo nas festas dadas pelo pai. Esse homem é um verdadeiro mistério e confesso que estou ansiosa para conhecê-lo, mas depois do que o senhor Antônio disse, ele com certeza não está nem um pouco ansioso por isso.

O que ele deve está pensando sobre mim?

Com certeza, deve estar falando, que sou a garota fácil, que topou ser uma namorada de aluguel, por dinheiro.

Confesso que não me sinto contente com isso, mas talvez, possa ser divertido. Pois, se ele for parecido com o pai, o Senhor Antonio, que é um coroa bem enxuto, cabelos grisalhos, olhos claros, eu ficarei no lucro. O pai não é de se jogar fora, mas a mãe dele também é uma mulher maravilhosa, estilo modelo de capa de revista. E com essa combinação, com certeza esse tal Pietro Castelamari não deva ser um monstro que eu imaginava.

Durante esse tempo, o Luan já havia me ligado várias vezes, tadinho. Me fez prometer que tudo isso seria só de mentira. Eu não o entendo, se ele gosta de mim, por quê nunca se declarou?

Fico pensando em tudo o que está acontecendo e quase caio pra trás, quando olho para o relógio pendurado na parede bem em frente a minha cama e vejo a hora.

"Eu preciso correr, se não, vou me atrasar." — penso me levantando e indo até o guarda roupa em busca de algo apresentável para vestir

Em seguida corro para o banheiro, tomo um vanho rápido, me apronto, pego minha bolsa, e sigo meu caminho. Durante toda noite fiquei pensando se aceitar essa proposta foi realmente a melhor alternativa, pois sei que essa decisão mudará completamente a minha vida. Contudo, também surgiram outras dúvidas e como sempre não tenho respostas.

Mas, qual alternativa eu tinha nesse momento?

Aceitar esse acordo ou continuar levando porta na cara, à cada tentativa de emprego?

Eu ainda não sei se tudo mudará para melhor ou pior, pois, não sei o que me espera. Mas quando penso nas festas, nas roupas, nas pessoas que irei conhecer e principalmente, como esse dinheiro ajudará a minha mãezinha, isso me tranquiliza.

Ao chegar na empresa sou muito bem recebida, diferente do dia anterior, que faltou pouco para ser chutada escadaria abaixo. Hoje, aquela velha bruxa, estava no seu lugar de sempre, me olhou de cima abaixo, contudo nada disse e quem me levou até o senhor Antônio foi a recepcionista que conversou comigo, ontem, no ponto de ônibus. Mas, antes de segui-la, eu tive o prazer de ir até a mesa da bruxa, cheguei bem próximo do seu ouvido e lhe disse:

— Um dia da caça e o outro do caçador. Pelo visto as coisas mudaram de lugar por aqui e se prepare, pois logo você poderá ser devorada.

Vejo seu olhar de espanto com minhas palavras, sorrio por dentro, e sigo meu caminho deixando àquela bruxa para trás, que com certeza estava tremendo de medo de que eu pedisse sua cabeça para o Senhor Antônio. Mas, sou superior, jamais pagaria o mal com mal, não foi isso que minha mãe me ensinou e o pagamento dessa mulher viria do alto, de Deus.

Entro na sala, e logo avisto o senhor Antônio, que estava no mesmo lugar de ontem, me aguardando. Ele levanta, gentilmente me cumprimenta, e vai logo direto ao assunto:

— Fernanda, assinado o contrato, a partir de hoje você será minha nora, prefiro te considerar assim, do que uma mera acompanhante de luxo, pois gostei de você. Amanhã o meu motorista irá buscá-la pra ir as compras e...

O interrompo, sendo muito direta:

— Antes de mais nada, eu preciso esclarecer algumas coisas, senhor Antonio. Então, a minha mãe ainda não sabe desse nosso encontro e se depender de mim, nunca saberá desse nosso acordo. Por isso, eu prefiro aguarda-lo duas quadras antes da minha casa. Pode ser?

Ele me observa atentamente, parecia que meu jeito atrevido o encantou, e isso para mim era ótimo, pois assim ele ficaria ciente de que comigo não seria tão fácil assim conseguir as coisas e com certeza deixaria o filho de sobreaviso.

— Como quiser Fernanda, o meu motorista te liga antes de ir buscá-la, pode ser? — assinto positivamente e continuo atenta a cada palavra que ele dizia — Continuando, amanhã terá uma festa de comemoração de quarenta anos da empresa, e você será apresentada para pessoas importantes do nosso convívio social. O Pietro não poderá vir, mas irei mandar buscá-la um pouco mais cedo, para que possam se conhecer. Qualquer coisa que precise ou alguma dúvida que possua, é só me ligar. No começo será difícil, mas acredito que vocês podem se dar muito bem.

— Tudo bem. Combinado, só uma coisa, não tem uma foto do seu filho, não o vi na internet e fiquei curiosa.

— Claro, já ia me esquecendo. — ele pega um porta retrato dourado que havia em cima da mesa e o vira em minha direção — Aqui está, Pietro, é o de verde à esquerda.

Fico boquiaberta e sinto minha garganta secar. Meus olhos não acreditavam no que viam, lindo era pouco pra ele, olhos cintilantes, um corpo todo malhado, barba cerrada, muito bem vestido, cabelo impecável e um olhar sedutor que deixava qualquer mulher molhada na mesma hora. Eu simplesmente fiquei em estado de choque.

O senhor Antônio percebe a minha reação e com um meio sorriso diz:

— Vejo que gostou dele, não é mesmo Fernanda? Pietro realmente é muito bonito, puxou a mãe, não é atoa que ele chama muita atenção por onde passa. Porém, se tornou o oposto do que era, desde que perdeu a esposa e por essa razão, você está aqui.

Ao ouvir as palavras do senhor Antonio, volto a si e uma dúvida martelava a minha cabeça. E como não tenho freios na língua, logo pergunto:

— Sim, ele é muito bonito, mas não sou ciumenta. — falo e lanço um sorriso fraco — Desculpe perguntar, mas de que a esposa dele morreu? Alguma doença?

— Não Fernanda. Ariela foi assassinada, por um de nossos inimigos. Como já percebeu, sou italiano, e infelizmente em nosso meio existem as chamadas vendettas e Ariela, minha ex-nora, foi resultado de uma escolha errada feita por nossa família.

Engulo em seco ao ouvir isso. Estou sendo entregue nas mãos do filho de um mafioso italiano, e eu posso ser a próxima vítima? Meu Deus, onde fui me enfiar?

Percebendo minha reação, o Senhor Antônio logo fala:

— Ficou assustada, Fernanda? Não precisa ficar, pois o compromisso de vocês será por pouco tempo e até o término, você terá toda segurança necessária, além de sua família, é claro.

Ajustando o meu corpo na poltrona, volto à minha postura inicial e francamente falo:

— Confesso que fiquei um pouco apreensiva depois do que me disse, mas por alguma razão, que não sei explicar, confio no senhor e tenho certeza que cumprirá com suas promessas.

Ainda me analisando e atento a cada gesto meu, ele abre um botão do seu paletó, ergue seu corpo inclinando seus antebraços na mesa e com firmeza na voz, diz:

— No mundo de onde venho, a palavra é que faz o homem, Fernanda. Portanto, pode ficar tranquila, pois tudo que um Castelamari diz ou promete, será cumprido. Nem que para isso, seja necessário pagar com a própria vida. Mais alguma dúvida?

Engulo em seco e ainda um pouco receosa respondo:

— Não! Por enquanto não tenho nada para perguntar.

— Então, até breve, minha nora!

Me despeço do senhor Antônio com um leve aperto de mão e saio daquela empresa muito mais apreensiva do que entrei.

Ao lembrar da imagem do Pietro, eu até comecei a gostar da parte, em que serei obrigada a fazer sexo, afinal, perder a virgindade com um deus grego daqueles não seria nada mal. Mas, depois de ouvir sobre a morte da esposa e ainda pelo fato de ter sido por motivo de vingança, me deixou muito assustada. Eu esperava tudo, menos ouvir que eram uma família de mafiosos. Certo, que o senhor Antônio não chegou a afirmar isso com todas as palavras, mas para quem sabe ler um pingo se torna uma letra, e esse negócio de vendetta tem haver com máfia, e ser namorada de um mafioso está totalmente fora de cogitação. Mas, agora já era tarde demais, assinei o contrato, e não tenho como voltar atrás. Portanto, tudo o que me resta, é seguir em frente e pedir à Deus que me protegesse de todo mal. Porque virar presunto antes do tempo e ainda virgem, não era o meu objetivo.

É Fernanda, que enrascada você se meteu garota?

E agora, como sair dessa cilada que o destino lhe colocou?

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