▪︎Candidata Perfeita▪︎

Fernanda

Depois de apagar por completo, agendo o despertador do celular para umas três horas antes do tempo da entrevista, mas eu esqueço de colocar o aparelho no carregador, por sorte ou um milagre, acordo bem cedo, até um pouco mais do que eu tinha programado. Tomo um bom banho e desço para ajudar minha mãe a preparar o nosso café. Depois de ficar um tempo conversando com ela, subo para o meu quarto e começo a me arrumar bem bonita. Sei que estava muito cedo para sair, mas como a ansiedade gritava dentro de mim, decidi não ficar em casa por muito tempo, pois isso me deixaria ainda mais nervosa. Me despeço da minha mãe e como a empresa era longe da minha casa, eu decidi chamar um taxi. Sei que era um dinheiro extra e que nessa altura do campeonato qualquer gasto poderia nos fazer falta, mas eu estava esperançosa de que dessa vez as coisas seriam diferentes e essa quantia no final, seria muito bem gasta.

Pouco tempo depois chegamo na empresa. Pago o taxista e desço já com o coração à ponto de saltar pela boca. Primeiro por puro nervosismo e segundo pelo que aconteceu no dia anterior. Mas, nada me faria parar, se Deus me fez vir aqui novamente foi por alguma razão, e espero que seja para receber boas novas, porquê de pedradas já estava cheia.

Cumprimento um novo segurança que estava próximo aos elevadores, que logo me entrega o crachá de visitante e diz que posso seguir direto para a recepção. Faço isso, e mesmo já conhecendo um pouco esse lugar, não pude deixar de observar com mais atenção, era enorme e cada detalhe mais luxuoso do que o outro. Entro no elevador e em segundos chego no quinto andar e avistando uma outra recepcionista, logo penso:

"Graças à Deus, àquela velha chata não está aqui, a bruxa deve ter pego a vassoura e levantado voo." — penso caminhando e sorrindo por dentro imaginando a cena da bruxa na vassoura, mas me contenho e me aproximo da mesa dizendo:

— Oi, eu me chamo Fernanda Gusmão! Eu vim por causa do anúncio com vaga para acompanhante, como o jornal estava rasgado, eu não tinha o número do telefone e não pude ligar antes. A vaga já foi preenchida? — disparo a falar e a recepcionista me observa com um sorriso no rosto respondendo em seguida

— Ah sim! A vaga ainda não foi preenchida. Qual é a sua idade? Já fez isso alguma vez? — a recepcionista pergunta e ao mesmo tempo digitando algo no computador

— Tenho vinte e dois anos, e nunca fiz isso, mas estou disposta, e modéstia a parte sou uma ótima companhia. — respondo sorridente, sequer imaginando do que realmente se tratava a vaga de emprego

— Hum, isso é excelente! Por favor, preencha essa ficha, e aguarde que o senhor Castelamari, nosso cliente já vai te chamar. — a recepcionista fala e eu arregalo os olhos assustada

— Como assim cliente? Então a vaga anunciada era para... — engasgo e sequer consigo terminar de pronunciar a frase

— Sim acompanhante de luxo, e o senhor Castelamari ira te analisar, até o momento não foi encontrado ninguém que si encaixe no perfil que ele deseja.

A recepcionista fala tranquilamente empurrando uma folha diante de mim mas levanto na hora e nervosa falo:

— Ah não, ouve um engano da minha parte. Eu não sirvo para isso, quando eu li o anúncio, ou melhor, metade dele, eu pensei que fosse outro tipo de acompanhante! Jamais esse tipo de trabalho. — falo sem jeito e quando viro meu olhar me deparo com um par de olhos esverdeados me examinando minuciosamente

Era um homem de aparentemente cinquenta ou sessenta anos, mas muito conservado, com um porte másculo e um olhar intimidador, que me causava arrepios. Ele estava acompanhado pelo segurança do dia anterior, que ao me ver, lançou um olhar curioso, pois pelo visto estranhou o meu retorno depois do, não, bem grande que eu havia recebido no dia anterior.

O homem, que com certeza era o dono daquilo tudo, se aproximou da recepcionista perguntando se já havia encontrado alguém pra vaga de acompanhante, e em seguida ele me olhou de cima embaixo, como se eu fosse uma peça de carne fresca.

— Não senhor Castelamari. Essa moça  veio, mas houve um engano, e essa vaga não é o que ela estava esperando.

A rexepcionista responde, e o homem torna a me olhar, mas dessa vez de um jeito analítico e eu tremo por dentro. Mas antes de aguardar qualquer resposta, viro de costas e com passos largos desaparecendo dali.

"Empresa de loucos. Uma hora é assistente do departamento pessoal e outra é acompanhante de luxo. É Fernanda, as coisas não estão fáceis para você. Precisa orar mais menina."

Penso enquanto caminho até o ponto de ônibus, sem emprego, preciso economizar, já basta ter gasto dinheiro no táxi em vão. Já estava subindo no ônibus, quando ouço alguém me chamar pelo meu nome. Olho de relance, pois não conhecia ninguém por esses lados, e quando vejo, era a mesma recepcionista simpática que me atendeu a pouco, me chamando.

O que será que essa mulher quer comigo?

*******

Castelamari Cosméticos

[Minutos após Fernanda sair da recepção]

— Quem era àquela garota que estava na recepção? — Pietro pergunta enquanto se servia de uma dose de whisky

— Era uma garota que imaginou que a vaga de acompanhante fosse para outra finalidade. — Antônio diz observando o filho que a cada dia o decepcionava mais, Pietro sempre odiou álcool, não suportava sequer sentir o cheiro, quisera beber. Mas desde o que houve em Roma, ele tem se afundando cada vez mais nesse vício maldito e Antônio não sabia mais o que fazer para ajudar o filho. Afinal, ele se sentia culpado pelo fato de ter feito esse arranjo para tentar casa-lo com Anna Grecco, uma mulher que ele nunca amou, e praticamente arrancou de seu filho a oportunidade de viver por si.

— Eu quero que seja ela! — Pietro fala num tom autoritário, surpreendendo até mesmo Antônio, que nunca ouviu o filho falar dessa maneira

— Por que exige isso? Gostou da moça? — Antônio pergunta curioso

— Ela é perfeita! Só isso que o senhor precisa saber. — Pietro fala grosseiramente e Antônio respira fundo, falando tranquilamente

— Pode ser mais explícito? Quais são os seus planos para querer tanto essa moça?

— O senhor não deseja me obrigar a viver uma farsa, para ficar a frente dos nossos negócios? — Antônio assente curioso e Pietro continua — Então, tenho ao menos o direito de escolher uma mulher que me agrade, é só isso!

Pietro fala com um sorriso no rosto, Antônio o observa desconfiado e do jeito que conhecia o filho, sabia muito bem tudo o que ele poderia fazer com aquela moça e o quão mal poderia ser com ela. Mas, como para os Castelamari, tudo o que importava era o prestígio e manter seu status, Antônio cederia à vontade do filho, fazendo até o impossível para que Fernanda fosse a acompanhante de Pietro e com a esperança de que ela pudesse transforma-lo no homem que ele já foi algum dia.

Antônio liga para a recepção, e Ruth, a recepcionista substituta, já estava no seu lugar de costume e prontamente atende:

— Sim, senhor Castelamari.

— Alcance aquela moça que esteve a pouco aqui e diga para vir imediatamente, tenho uma proposta para ela.

— Sim senhor.

Antônio finaliza a ligação com a recepcionista, torna a sentar na sua cadeira e faz outra ligação, dessa vez para o seu advogado.

— Jarbas?

— Sim, Antônio, em que posso ajudar?

— Prepare o contrato, imediatamente, acabo de encontrar quem eu procurava.

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