Gabriel voltou para o quarto já vestido, com os cabelos ainda um pouco úmidos, mas com o sorriso calmo de sempre no rosto.— Ei, que tal ir pra cozinha comigo? Vou preparar nosso café — disse ele, com a voz suave.Celina se sentou na cama e balançou a cabeça com um sorriso sem graça.— Não precisa, Gabriel... Eu já dei trabalho demais. Na verdade, eu acho que já está mais do que na hora de eu ir pra casa.— De jeito nenhum. Não aceito você sair daqui sem tomar café comigo. É o mínimo que posso fazer, depois de ontem — respondeu ele com aquele jeito encantador que a fazia se sentir acolhida.Celina cedeu com um suspiro leve e o acompanhou até a cozinha. Enquanto ele pegava as xícaras e ligava a cafeteira, virou-se para ela.— Como você está se sentindo hoje?Ela apoiou os cotovelos sobre a mesa e cruzou os dedos, respirando fundo.— Melhor que ontem, sem dúvidas... — fez uma pausa e o encarou com ternura — Obrigada, Gabriel. Por tudo. Por ter me acolhido aqui, por ter ido atrás de mim.
Celina assentiu devagar, enxugando discretamente uma lágrima que teimava em cair. — Claro que pode. Ele se aproximou mais um pouco, apoiando os antebraços na mesa. — Você precisa conversar com ele, Celina. Pra resolver tudo. Num relacionamento, mesmo os mais complicados, precisa ter diálogo. Você não pode fugir disso. Ela desviou o olhar, mas permaneceu ouvindo. — Ele errou em te assumir sem antes terminar com a noiva. Errou em te levar pro apartamento dele com a vida ainda bagunçada... Mas, pelo que você contou, ele não sabia daquela surpresa, então... ele teve culpa, mas também não teve. Foi pego de surpresa, assim como você. Celina respirou fundo, os olhos marejados novamente. — Mas se você ama esse homem, se enxerga futuro com ele, então cai dentro. Não desiste assim não. Gabriel fez uma pequena pausa, e sua voz suavizou ainda mais. — E não demora pra contar que você tá grávida. Ou melhor, grávida de dois. Ele tem o direito de saber. Porque o filho da outra tá sendo cele
Mas antes que pudesse concluir, Thor a agarrou pelo braço, a mão forte como um grito silencioso.— Vem comigo agora. — disse entre os dentes, já a conduzindo em direção ao carro.Celina tentou resistir, o coração acelerado.— Me solta, Thor! — protestou, tentando se livrar da pressão da mão dele, que apertava com mais força do que ele imaginava.Gabriel avançou.— Você não ouviu o que ela disse? — a voz dele firme, autoritária, sem levantar o tom.Ele segurou o braço de Thor, num gesto de contenção. Foi o estopim.Thor, no auge do cansaço, do ciúme e da preocupação, explodiu. Num impulso cego, o punho dele se fechou e avançou antes mesmo que a razão pudesse contê-lo.O soco atingiu Gabriel com força.O som seco do impacto ecoou no ar.Gabriel cambaleou e caiu no chão, levando a mão ao rosto atingido.— Gabriel! — gritou Celina, o coração disparado. Ela correu até ele, se ajoelhando ao seu lado com desespero.— Você tá bem? Fala comigo, por favor... — disse ela, com a voz trêmula e os
Lá dentro, Celina caminhava como quem pisava em cacos de vidro, tentando não se despedaçar ainda mais.Assim que chegaram à sala, Tatiana deixou a mala de Celina no canto e a conduziu até o sofá. Sentou-se ao lado dela, segurando suas mãos trêmulas.— Senta, amiga. Respira. — pediu com carinho. — Você não precisa ser forte agora, só precisa estar aqui. Pelos seus filhos... por você.Celina desabou mais uma vez, recostando a cabeça no ombro da amiga. O corpo dela tremia. As emoções transbordavam em lágrimas silenciosas.— Eu não queria isso. — murmurou. — Não assim... Não com o Gabriel machucado, o Thor fora de si. Eu só queria... paz.Tatiana acariciava seus cabelos com delicadeza, como quem embala uma criança ferida.— Você tentou, Celina. Tentou demais. Mas agora você tem que pensar em você... e nos bebês. Eles sentem tudo, lembra?Celina levou a mão até o ventre, como se pudesse sentir o coração dos gêmeos batendo com força, a fazendo lembrar que ainda estavam ali, vivos, presentes
Depois de umas duas horas, o quarto de Celina estava mergulhado em uma penumbra suave. As cortinas semiabertas deixavam entrar uma luz tímida, pintando as paredes com tons de melancolia. Celina estava deitada, coberta até a cintura, os cabelos soltos e levemente bagunçados. Seu olhar perdido no teto denunciava o turbilhão interno que ainda não cessara. Sentada ao seu lado, Tatiana ajeitava uma compressa fria em sua testa, como quem cuidava de uma irmã ferida — não no corpo, mas na alma.— Amiga… — disse Tatiana com a voz baixa, mas firme — agora que está mais calma, vamos conversar. Eu entendo o que você passou, de verdade. Thor esteve aqui. Contou tudo que aconteceu… — ela fez uma pausa curta — tudo o que rolou naquele jantar horrível.Celina desviou os olhos para ela, sem força para reagir.— Não tô dizendo que ele tá certo, tá? Mas eu quero que você se coloque no lugar dele um pouquinho. Você sumiu. Ele veio aqui desesperado atrás de você. Eu vi, Cê. Desesperado mesmo. E você… você
Thor subiu devagar, cada passo ecoando no silêncio da casa. Quando chegou diante da porta do quarto, parou por um instante. Respirou fundo e, com delicadeza, empurrou a porta, entrando.Lá dentro, Celina estava de pé, olhando pela janela. O som suave da porta se fechando fez com que ela se virasse lentamente.Os olhos dos dois se encontraram.Thor ficou parado próximo à porta. Celina, ao lado da janela. Nenhuma palavra foi dita. Não ainda. Mas naquele silêncio, havia uma tempestade de sentimentos.O olhar de Thor estava triste, cansado, quebrado. O de Celina, profundamente ferido, mas cheio de amor não dito.As lágrimas começaram a escorrer dos olhos dela, sem que ela pudesse controlar. Um soluço contido escapou de sua garganta, enquanto ela apenas o encarava.Durante dois minutos, eles ficaram assim.Um diante do outro.Silenciosos.Partidos.Mas conectados por algo que nem mesmo a dor conseguiu apagar.Thor quebrou o silêncio, a voz firme, mas sem agressividade.— A gente precisa co
Após as apresentações, a senhora perguntou:— Vão querer alguma coisa pro lanche? Pro jantar?— Hoje não, dona Lúcia. Amanhã a senhora faz algo bem gostoso pra gente. Hoje é só descanso, tá bom?Ela sorriu e assentiu, indo embora com o marido.Thor entrou na casa, Celina logo atrás. Ele subiu as escadas caminhando pelo corredor e, sem sequer olhar para ela, falou:— Vou te mostrar o quarto que você vai dormir.Celina parou por um segundo. O peso da frase caiu sobre seus ombros como uma rocha. Não era o quarto deles, era o quarto dela. O afastamento era claro. O desprezo dele era palpável.E, mais do que nunca, ela sentiu o que era estar distante de quem ainda se ama.Thor empurrou a porta do quarto com suavidade. O espaço era amplo, arejado, com uma decoração que mesclava o rústico ao acolhedor. Entrou primeiro e colocou a mala de Celina com cuidado sobre a poltrona de couro que ficava perto da janela.Sem virar-se completamente para ela, apenas com o corpo inclinado de lado, disse co
Sentada na rede, ajeitou os cabelos com os dedos, tentando se recompor. Lembrou-se do copo de água e o pegou do chão ao lado da rede. Caminhou lentamente até a cozinha.Colocou o copo na pia com cuidado e foi então que percebeu uma fruteira de madeira sobre a bancada, cheia de frutas frescas. Pegou uma banana e comeu. Estava tão madura e doce que, ao terminar, pegou outra sem pensar. Só então percebeu o quanto estava com fome. A falta de apetite dos últimos dias começava a dar lugar a uma necessidade física que seu corpo não conseguia mais ignorar.Abriu a geladeira à procura de algo mais. Seus olhos pousaram sobre uma garrafa de iogurte de morango. Serviu-se em um copo pequeno e bebeu devagar, sentindo o sabor doce e suave invadir a boca. Fechou os olhos por um segundo. Aquela simplicidade lhe trouxe uma sensação estranha de conforto.Passou a mão no ventre, como se buscasse ali um pouco de força, um pouco de coragem. E encontrou.Levantou a cabeça. Era hora de ir até ele.Decidida,