Angélica sentou na poltrona, absorvendo cada palavra.— Eu tentei, mãe. De verdade. Tentei evitar. Quis me afastar dela em todos os sentidos. Mas não deu. — Os olhos de Thor estavam úmidos. — O que eu sinto por ela… é diferente. É mais forte. Eu nem sei explicar. É mais do que eu senti pela Karina. E isso me assusta. Porque com a Karina eu achava que era tudo. Mas com a Celina... — ele balançou a cabeça, como se não coubesse em palavras. — É como se eu tivesse acordado pra algo que nunca vivi antes.Angélica se manteve em silêncio por um instante. Seus olhos marejaram, mas sua expressão era serena. Ela entendia. Via verdade no olhar do filho. Mas ainda assim…— E agora, Thor… agora tem um bebê sendo gerado. — Ela levou a mão ao peito. — A Isabela está esperando um filho seu. Isso muda tudo. A Celina vai precisar de mais do que promessas. Você vai precisar escolher com maturidade, com responsabilidade.Thor fechou os olhos. A culpa, o amor, o medo e a angústia se misturavam num nó em s
Thor pegou o celular e tentou ligar para ela. Uma vez. Duas. Três.Chamava, chamava até cair na caixa postal.Insistiu mais algumas vezes, o desespero crescendo a cada chamada ignorada. Por fim, abriu a tela de mensagens e digitou:“Celina, por favor, me atende. A gente precisa conversar. Me liga quando puder. Amor, estou muito preocupado.”Pausou. Olhou para a tela. Respirou fundo.“Onde você está? Me responde, por favor. Eu só quero saber se está bem.”Apertou “enviar” e encostou o celular na mesa, mas não desgrudou os olhos da tela. A esperança tola de ver os dois risquinhos azuis aparecendo se tornou quase um vício. A cada minuto, ele desbloqueava o aparelho, apenas para ver o mesmo silêncio estampado na tela.Nada.Celina havia desaparecido.Thor se afundou na cadeira, levou as mãos ao rosto e tentou conter a angústia que se espalhava como veneno. Aquela noite havia mudado tudo. Ele sabia que tinha cometido um erro. Sabia que falhou ao não colocar um ponto final no que já estava
Gabriel voltou para o quarto já vestido, com os cabelos ainda um pouco úmidos, mas com o sorriso calmo de sempre no rosto.— Ei, que tal ir pra cozinha comigo? Vou preparar nosso café — disse ele, com a voz suave.Celina se sentou na cama e balançou a cabeça com um sorriso sem graça.— Não precisa, Gabriel... Eu já dei trabalho demais. Na verdade, eu acho que já está mais do que na hora de eu ir pra casa.— De jeito nenhum. Não aceito você sair daqui sem tomar café comigo. É o mínimo que posso fazer, depois de ontem — respondeu ele com aquele jeito encantador que a fazia se sentir acolhida.Celina cedeu com um suspiro leve e o acompanhou até a cozinha. Enquanto ele pegava as xícaras e ligava a cafeteira, virou-se para ela.— Como você está se sentindo hoje?Ela apoiou os cotovelos sobre a mesa e cruzou os dedos, respirando fundo.— Melhor que ontem, sem dúvidas... — fez uma pausa e o encarou com ternura — Obrigada, Gabriel. Por tudo. Por ter me acolhido aqui, por ter ido atrás de mim.
Celina assentiu devagar, enxugando discretamente uma lágrima que teimava em cair. — Claro que pode. Ele se aproximou mais um pouco, apoiando os antebraços na mesa. — Você precisa conversar com ele, Celina. Pra resolver tudo. Num relacionamento, mesmo os mais complicados, precisa ter diálogo. Você não pode fugir disso. Ela desviou o olhar, mas permaneceu ouvindo. — Ele errou em te assumir sem antes terminar com a noiva. Errou em te levar pro apartamento dele com a vida ainda bagunçada... Mas, pelo que você contou, ele não sabia daquela surpresa, então... ele teve culpa, mas também não teve. Foi pego de surpresa, assim como você. Celina respirou fundo, os olhos marejados novamente. — Mas se você ama esse homem, se enxerga futuro com ele, então cai dentro. Não desiste assim não. Gabriel fez uma pequena pausa, e sua voz suavizou ainda mais. — E não demora pra contar que você tá grávida. Ou melhor, grávida de dois. Ele tem o direito de saber. Porque o filho da outra tá se
Mas antes que pudesse concluir, Thor a agarrou pelo braço, a mão forte como um grito silencioso.— Vem comigo agora. — disse entre os dentes, já a conduzindo em direção ao carro.Celina tentou resistir, o coração acelerado.— Me solta, Thor! — protestou, tentando se livrar da pressão da mão dele, que apertava com mais força do que ele imaginava.Gabriel avançou.— Você não ouviu o que ela disse? — a voz dele firme, autoritária, sem levantar o tom.Ele segurou o braço de Thor, num gesto de contenção. Foi o estopim.Thor, no auge do cansaço, do ciúme e da preocupação, explodiu. Num impulso cego, o punho dele se fechou e avançou antes mesmo que a razão pudesse contê-lo.O soco atingiu Gabriel com força.O som seco do impacto ecoou no ar.Gabriel cambaleou e caiu no chão, levando a mão ao rosto atingido.— Gabriel! — gritou Celina, o coração disparado. Ela correu até ele, se ajoelhando ao seu lado com desespero.— Você tá bem? Fala comigo, por favor... — disse ela, com a voz trêmula e os
Lá dentro, Celina caminhava como quem pisava em cacos de vidro, tentando não se despedaçar ainda mais.Assim que chegaram à sala, Tatiana deixou a mala de Celina no canto e a conduziu até o sofá. Sentou-se ao lado dela, segurando suas mãos trêmulas.— Senta, amiga. Respira. — pediu com carinho. — Você não precisa ser forte agora, só precisa estar aqui. Pelos seus filhos... por você.Celina desabou mais uma vez, recostando a cabeça no ombro da amiga. O corpo dela tremia. As emoções transbordavam em lágrimas silenciosas.— Eu não queria isso. — murmurou. — Não assim... Não com o Gabriel machucado, o Thor fora de si. Eu só queria... paz.Tatiana acariciava seus cabelos com delicadeza, como quem embala uma criança ferida.— Você tentou, Celina. Tentou demais. Mas agora você tem que pensar em você... e nos bebês. Eles sentem tudo, lembra?Celina levou a mão até o ventre, como se pudesse sentir o coração dos gêmeos batendo com força, a fazendo lembrar que ainda estavam ali, vivos, presentes
Depois de umas duas horas, o quarto de Celina estava mergulhado em uma penumbra suave. As cortinas semiabertas deixavam entrar uma luz tímida, pintando as paredes com tons de melancolia. Celina estava deitada, coberta até a cintura, os cabelos soltos e levemente bagunçados. Seu olhar perdido no teto denunciava o turbilhão interno que ainda não cessara. Sentada ao seu lado, Tatiana ajeitava uma compressa fria em sua testa, como quem cuidava de uma irmã ferida — não no corpo, mas na alma.— Amiga… — disse Tatiana com a voz baixa, mas firme — agora que está mais calma, vamos conversar. Eu entendo o que você passou, de verdade. Thor esteve aqui. Contou tudo que aconteceu… — ela fez uma pausa curta — tudo o que rolou naquele jantar horrível.Celina desviou os olhos para ela, sem força para reagir.— Não tô dizendo que ele tá certo, tá? Mas eu quero que você se coloque no lugar dele um pouquinho. Você sumiu. Ele veio aqui desesperado atrás de você. Eu vi, Cê. Desesperado mesmo. E você… você
Thor subiu devagar, cada passo ecoando no silêncio da casa. Quando chegou diante da porta do quarto, parou por um instante. Respirou fundo e, com delicadeza, empurrou a porta, entrando.Lá dentro, Celina estava de pé, olhando pela janela. O som suave da porta se fechando fez com que ela se virasse lentamente.Os olhos dos dois se encontraram.Thor ficou parado próximo à porta. Celina, ao lado da janela. Nenhuma palavra foi dita. Não ainda. Mas naquele silêncio, havia uma tempestade de sentimentos.O olhar de Thor estava triste, cansado, quebrado. O de Celina, profundamente ferido, mas cheio de amor não dito.As lágrimas começaram a escorrer dos olhos dela, sem que ela pudesse controlar. Um soluço contido escapou de sua garganta, enquanto ela apenas o encarava.Durante dois minutos, eles ficaram assim.Um diante do outro.Silenciosos.Partidos.Mas conectados por algo que nem mesmo a dor conseguiu apagar.Thor quebrou o silêncio, a voz firme, mas sem agressividade.— A gente precisa co