Capítulo 01 - Um Destino Imprevisível - Parte 02

Desesperada com aquilo e sabendo que não havia saída alguma, começou a orar para que Deus desse uma oportunidade de sair daquela situação algum dia. Lágrimas ácidas e doloridas começaram a cair de seus olhos castanhos. Era alguém de índole boa e muito temente a Deus, de coração puro. Sempre imaginou que se casaria com um homem honrado e honesto, com quem dividiria o resto de seus dias. Sonhava com sua primeira vez, que seu esposo teria paciência e ensinaria-a o valor do amor verdadeiro. Aquele coração tão puro e ingênuo chegou a sonhar com Perse, primo e esposo de sua falecida irmã Madison, mesmo sabendo ser alguém impossível. Madison havia sido assassinada e Perse veio a ser apontado como culpado, apenas conseguindo se livrar da cadeia por causa de bons álibis. Mas Amabel e sua mãezinha Petra, nunca acreditaram naquilo e permaneceram ao lado de Perse. Muitas pessoas odiavam-no e tinham motivos para quererem vê-lo preso. Petra era a única pessoa com quem Amabel podia contar na vida, só que naquela situação em que se encontrava agora, era provável que nunca mais se vissem de novo. Petra nunca levou desaforo para casa e enfrentava todos para guardar suas duas filhas, enquanto tinha um esposo e um filho totalmente desprezíveis. Agora, tudo estava perdido para Amabel e teria que se conformar em ser acompanhante de luxo. Antes que pudesse pensar em algo mais, ouviu a porta sendo aberta. Engoliu o choro e limpou as lágrimas com as mãos. Sabia que caso reagisse, apanharia e muito daqueles homens cruéis.

— Oi, tudo bem contigo? — uma garota aparentando uns vinte anos, de cabelos castanhos e olhos negros, entrou e estava com algumas peças de roupas na mão esquerda. — Me chamo Dora! Vim avisar que precisa estar vestida e maquiada até às oito horas da noite! Hey, eu sei que é desagradável estar aqui, mas você termina se acostumando!

— Me acostumar? — Amabel estava chocada com o conformismo de Dora. —Esses canalhas pretendem leiloar aquilo que tenho de mais precioso e você me comenta isso?

Dora esboçou alguns trejeitos sem graça e colocou as roupas em cima de uma cadeira. Não seria muito fácil de lidar com tudo aquilo. Afinal, passou pela mesma situação que Amabel e teve sua virgindade leiloada também. Tentou reagir na noite em que tudo aconteceu e terminou apanhando muito, mas de uma maneira que não deixou hematomas aparentes, porque cada garota da boate valia muito dinheiro e não poderiam desperdiçar nada daquela maneira.

— Eu sei que não será muito bom nos primeiros dias. — Dora se aproximou e se sentou do lado de Amabel, segurando suas mãos delicadas. — Eu cheguei na mesma situação que você e demorou algum tempo para que aceitasse meu destino.

— Como eu posso tolerar em saber que quem deveria me proteger, acabou me colocando nessa situação hedionda? — Amabel estava tentando não chorar de novo, enquanto Dora continuava segurando suas mãos em consolo. — Eu decidi não reagir pelo meu próprio bem, pois sei que poderá ser muito pior!

Dora se compadeceu de Amabel e acarinhou seus longos cabelos castanhos, num gesto de afeto. Após conversarem alguns minutos, Dora convenceu Amabel a tomar um banho e se trocar, porque precisava estar pronta no horário estipulado. Dora contou que as meninas que estavam dentro da boate serviam para o tráfico sexual, não podendo saírem desacompanhadas, enquanto que outras garotas que buscavam clientes ali durante a noite também, vinham de uma agência de acompanhantes de luxo e tinham um pouco mais de liberdade. O próprio Jason tinha sociedade com outra pessoa em duas filiais desse tipo de estabelecimento, cedendo o local para as prostitutas angariarem mais dinheiro e dividirem partes do lucro com os donos. Depois que Amabel soube daquilo, se sentiu nauseada e assim que entrou dentro do banheiro, se lavou e permaneceu chorando por saber que sua virgindade seria roubada naquela noite. Antes de se preparar, comeu alguma coisa para que não desmaiasse de fome durante o evento e escovou os dentes também. Foi escolhido para a ocasião, um vestido escarlate e longo, com uma grande fenda na perna direita e totalmente transparente, além de mostrar as costas por inteiro e um decote imenso. A maquiagem estava bastante carregada e muito sensual, para desespero de Amabel, que detestava aquilo cada vez mais. Um perfume extremamente forte havia sido indicado para usar e deu alergia de tanto que espirrou. Dora voltou a ressaltar que não reagisse e que permanecesse quieta todo tempo, para seu próprio bem pessoal. Amabel concordou e tentaria não chorar para borrar a maquiagem, quando sua vontade era gritar com todos que aparecessem na sua frente e sair correndo para longe, mas sabia que ninguém permitiria isso.

Ao se olhar no espelho, estava extremamente sexy e odiou o seu reflexo, sabendo que olhariam-na simplesmente como um objeto sexual e que serviria apenas para satisfação masculina a partir daquele dia. Quando Amabel ficou pronta, antes de sair, Dora pediu que esperasse, porque um dos guardas da boate viria buscá-la para o evento da noite. Com isso, Amabel aguardou por alguns minutos e um homem que se identificou como Jair, apareceu na porta do seu quarto e informou que tinha vindo levá-la. Assim sendo, Amabel suspirou e se levantou da cama, rumo a um destino imprevisível.

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