Doutora Mariana narrando
O som das hélices zunia na minha cabeça como uma sentença. Desde que entrei naquele helicóptero com a bebê nos braços, o peso do que eu estava fazendo apertava meu peito como se me faltasse o ar. A Antonela chorava baixinho, exausta, com as mãozinhas fechadas e o rostinho franzido. Eu a balancei nos braços, tentando acalmá-la. Mas como acalmar uma criança quando nem eu conseguia manter meu coração em paz?
O piloto não falava nada. Só seguia coordenadas. Trocamos um olhar rápido, mas ele já sabia: o risco era alto demais, e se algo desse errado, não haveria volta. O plano era simples — rápido, silencioso. Saída da cidade, pouso numa fazenda isolada, aguardar o carro que nos levaria até a próxima etapa. Mas nada no meu corpo estava calmo.
A cada curva no ar, eu apertava a bebê mais forte contra mim. Sentia os olhos dela tentando abrir, buscando um rosto que ela reconhecesse. E não era o meu. Não era o meu que ela queria. Era o da mãe dela. E isso doía. Doía mais