Clarice se aproximou da bancada, onde a orquídea parecia observar tudo em silêncio. Daniel estava ao lado dela, mas diferente de outras vezes, havia uma calma nova em seu olhar. A presença dele parecia ter se moldado ao ambiente, e não o contrário.
— A orquídea… é bonita — ela comentou, quase num sussurro.
Daniel assentiu, os olhos na flor.
— Trouxe porque ela sobrevive até em lugares improváveis. Achei que combinava com o que estamos construindo aqui.
Clarice sorriu de leve. O silêncio entre eles não era desconfortável. Era como uma pausa proposital entre dois movimentos de uma música.
— E você? — ela perguntou, sem rodeios. — Por que está mesmo aqui, Daniel?
Ele passou os dedos por uma mancha de tinta dourada no balcão e respondeu devagar, como quem escolhe cada palavra com intenção.
— Vim pra cá pra viver intensamente o meu sonho de pintar com verdade. De transformar cor em significado. Sempre soube que a arte podia tocar — mas só quando nasce sem pressa, sem armaduras. Como um ens