Na manhã seguinte, Emma tentou agir normalmente, ignorando a mensagem perturbadora da noite anterior. Era só uma provocação. Ele não podia encontrá-la. Não aqui.
Ela focou em Sofia ajudando-a com o café da manhã e lendo histórias para a menina no jardim. O sol brilhava, e a risada de Sofia enchia o espaço com leveza. Então, Alexander apareceu. Vestindo um terno escuro impecável, ele parou na varanda, observando a cena por um momento antes de descer os degraus. — Vejo que Sofia está bem — disse, com um tom neutro. Emma se levantou, ajeitando a saia. — Sim, ela está ótima. Passamos a manhã brincando. Alexander olhou para a filha, que corria atrás de uma borboleta, e depois voltou sua atenção para Emma. — Preciso falar com você. Ela assentiu, seguindo-o para um canto mais afastado do jardim. — O que foi? Alexander hesitou por um instante, cruzando os braços. — Sobre ontem à noite… Emma sentiu o coração acelerar. — O que tem ontem? — Você me desafiou — ele disse, a voz carregada de algo indecifrável. — E não estou acostumado com isso. Emma ergueu uma sobrancelha. — Então deve ser bom para você experimentar algo novo. Os lábios de Alexander se curvaram em um meio sorriso. — Você não tem medo de mim, tem? — Não vejo motivo para ter. Ele se aproximou, e Emma sentiu o cheiro amadeirado do perfume dele. Seus olhos se prenderam nos dela, como se tentassem desvendar cada segredo escondido. — Talvez devesse. Emma deveria recuar, mas não conseguiu. Havia algo perigoso naquele homem, e ainda assim, algo nela queria entender cada camada que ele escondia. Alexander olhou para seus lábios por um breve segundo. E então aconteceu. Ele a beijou. Foi rápido, intenso, roubando-lhe o ar. Emma sentiu a força da presença dele, o calor da sua pele, o desejo mal contido naquele instante. Quando ele se afastou, os olhos azuis estavam sombrios. — Isso não devia ter acontecido — ele murmurou. Emma ainda estava em choque. Seu coração batia forte demais. — Concordo. Mas nenhum dos dois parecia convencido disso. E, no fundo, Emma sabia que aquele beijo mudaria tudo. O beijo que aconteceu no jardim não foi como Emma imaginou. Ela havia pensado que, ao se aproximar de Alexander Carter, conseguiria manter o controle, ser profissional, mas naquele instante, algo nela se quebrou. O desejo, o magnetismo entre os dois, era inegável. E agora, ela se via mergulhada em algo que não sabia como sair. Ela ficou parada por um momento, a mente turbilhonada, até que Alexander se afastou, seu olhar ainda fixo nela, mas com uma expressão enigmática. — Eu… eu preciso ir. — Emma conseguiu articular, a voz mais baixa do que gostaria. Alexander a observou em silêncio, como se estivesse ponderando suas próximas palavras. — Eu entendo. Ele se virou e saiu, seus passos firmes e rápidos, como se quisesse distanciar-se o mais rápido possível de tudo o que aconteceu. Emma ficou ali, ainda tentando recuperar a compostura. O gosto do beijo ainda estava em seus lábios, o cheiro de seu perfume ainda a envolvia. Ela respirou fundo e se forçou a caminhar para dentro da casa. Não podia deixar aquilo afetá-la. Ela tinha um trabalho a fazer, uma responsabilidade com Sofia . Mas, enquanto caminhava pelos corredores frios e silenciosos, não conseguia tirar da cabeça a imagem de Alexander, a intensidade do seu olhar, o calor de sua boca. Ela sabia que algo dentro dela tinha mudado, e talvez fosse tarde demais para voltar atrás. Mais tarde, quando Sofia estava cochilando, Emma se retirou para o seu quarto e pegou o celular novamente. A mensagem ainda estava lá, sem resposta. Ela sabia que precisaria lidar com aquilo, mas não agora. Não enquanto o calor do momento ainda a envolvia. Mas mal sabia ela que, por mais que quisesse fugir, o passado estava começando a se aproximar novamente. E, por mais que se esforçasse para manter a distância, Alexander Carter estava começando a se tornar uma parte inevitável de sua vida. E o que começou com um beijo poderia facilmente se transformar em algo muito mais complexo. Naquela noite, Emma demorou a dormir. Rolava de um lado para o outro na cama, tentando convencer a si mesma de que tudo estava sob controle. Que o beijo tinha sido um erro impensado, um momento de fraqueza que não se repetiria. Mas no fundo, ela sabia que não era bem assim. O celular vibrou em cima da cômoda, arrancando-a de seus pensamentos. Seu coração deu um salto. Por um segundo, pensou que poderia ser Alexander. Mas não era. Era ele. Uma nova mensagem apareceu na tela: “Você acha que pode simplesmente desaparecer? Eu avisei que sempre sei onde você está.” Emma sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A garganta secou, e o calor do quarto pareceu desaparecer de repente. Seu passado estava mais próximo do que imaginava. E se ele realmente soubesse onde ela estava? E se estivesse observando? Apagou a mensagem, mas a sensação de estar sendo vigiada não foi embora. Na manhã seguinte, Emma colocou um sorriso no rosto e desceu como sempre, fingindo normalidade. Sofia a recebeu com um abraço apertado, como se percebesse que algo estava errado. A menina era sensível, notava tudo. Emma preparou o café da manhã, serviu frutas, pães e suco. Tentava manter os pensamentos afastados, mas a cada passo pela casa, tinha a sensação de que alguém a observava por entre as cortinas, por trás das janelas. Paranoia, talvez. Ou não. Alexander apareceu apenas no fim da manhã, o rosto sério, o olhar distante. — Bom dia — ela disse, tentando soar natural. Ele a olhou por um segundo a mais do que o necessário. — Podemos conversar? — perguntou, sem rodeios. Emma hesitou. — Claro. Foram até o escritório, onde ele fechou a porta atrás de si. O ambiente ficou pequeno demais, silencioso demais. — Sobre ontem... — ele começou, os olhos cravados nos dela. — Já falamos sobre isso. Não precisa se desculpar — ela cortou, rápida demais, defensiva demais. Alexander franziu o cenho. — Não foi um pedido de desculpas. Foi... um aviso. Emma cruzou os braços. — Aviso? — Eu não costumo me envolver com ninguém. E o que aconteceu entre nós... mexeu comigo de um jeito que não entendo. — Ele se aproximou um pouco, mas parou a meio caminho. — Só que você precisa saber: eu tenho meus limites. Meus fantasmas. Ela manteve o olhar firme. — Eu também. E talvez seja exatamente por isso que esse “nós” seja uma péssima ideia. Alexander sorriu, mas era um sorriso triste. — Possivelmente. Os dois ficaram em silêncio, como se qualquer palavra fosse arriscar demais. Mas antes de sair, ele disse algo que a deixou ainda mais inquieta: — Se alguém te ameaçar, me diga. Eu não brinco com segurança. Emma congelou. — Por que está dizendo isso? Alexander a observou por um instante. — Só um pressentimento. Tenho bons instintos. Ela tentou esconder o tremor em suas mãos. Ele sabia de algo? Ou apenas suspeitava? Seja como for, ela precisaria ser mais cuidadosa. Quando ele saiu, Emma fechou os olhos por um instante. A verdade é que ela não podia fugir para sempre. Nem dele, nem do passado. E se queria proteger a si mesma — e a Sofia — teria que enfrentar o que vinha pela frente. Mesmo que isso significasse encarar seus piores medos... e também o homem que, sem pedir permissão, começava a ocupar espaço demais dentro de si.