Ao pisar na cidade, Lua sentiu uma mistura de expectativa e nervosismo pulsando em seu peito. Como havia prometido à sua tia Graça, dirigiu-se à casa de Dona Sônia, uma mulher de sorriso acolhedor. Dona Sônia a levou até a mulher que alugava os apartamentos, e ao entrar no espaço que seria seu novo lar, Lua ficou encantada quando observou atentamente o apartamento e viu que, embora pequeno, exalava conforto e charme, com móveis que pareciam acolhedores.
Respirou fundo, absorvendo a energia vibrante do lugar, ciente de que, por seis meses, o aluguel não seria uma preocupação — pagara adiantado, afinal sempre economizara para esse momento. Seu foco agora estava na busca por emprego, e o primeiro alvo era a Belle Famme, a renomada empresa de cosméticos dos Alcântaras, conhecida por sua excelência. Depois de um dia de compras e arrumações, Lua se deitou cansada, mas satisfeita. Enquanto a noite envolvia a cidade, revisou mentalmente cada passo que daria no dia seguinte. A conversa reconfortante com sua tia por telefone e a oração silenciosa — pedindo a orientação de sua mãe — a deixaram mais segura. Na manhã seguinte, Lua se arrumou com cuidado. Ao chegar à Belle Famme, foi recebida por Hanna, a bela secretária de negócios, e assistente de Júlio Vasconcellos, sócio e amigo de Rodrigo, porém Lua não sabia, na verdade pensou que ela era apenas uma recepcionista. E sem perceber, Hanna a avaliou rapidamente, mas Lua estava tão concentrada em sua própria ansiedade que não notou. Ao virar-se, encontrou o sorriso falso da secretária, que disse-lhe de forma automática: — Por favor, senhorita, queira me acompanhar! Ela acompanhou a mulher, que a conduziu a uma sala repleta de outras candidatas. O ar estava carregado de expectativa. Lua cumprimentou as outras mulheres, percebendo que todas estavam bem vestidas e maquiadas. Tanto que uma leve insegurança a invadiu — sentiu que deveria ter caprichado um pouco mais com suas roupas e também se maquiado melhor. Notou ainda que as mulheres eram um pouco mais velhas que ela e, provavelmente, tinham mais experiência profissional. Naquele momento, o nervosismo aumentou quando ouviu uma delas comentar: — Nossa, ouvi falar horrores do senhor Alcântara! Dizem que ele é arrogante, frio com todos e muito, muito exigente com os funcionários. Confesso que estou um pouco nervosa com essa entrevista... As outras concordaram em coro, pois já haviam ouvido falar do humor tempestuoso de Rodrigo Alcântara — com exceção de Lua, que arregalou os olhos, surpresa. Uma candidata mais velha, tão bem vestida quanto as demais, falou de forma firme, porém resoluta: — Acredito que todas estamos nervosas, mas o que tiver que ser será! Além disso, o senhor Alcântara não é nenhum bicho-papão! Ao dizer aquilo, a mulher sorriu. Porém, ao contrário de ficar menos nervosa, Lua sentiu o coração acelerar ainda mais. Nesse momento, Sabrina — irmã de Júlio, que era mais uma sócia da empresa — entrou na sala. Sorrindo, perguntou se elas desejavam beber algo. Todas dispensaram, menos Lua, que respondeu: — Sim, eu quero uma água, por favor! A moça sorridente então falou: — Oh, por favor, querida me acompanhe? Ela assentiu e seguiu Sabrina até uma sala adjacente à das entrevistas. Ao abrir a porta, a designer mostrou-lhe os copos e o bebedouro. Lua, porém, notou que as mãos da mulher tremiam ao segurar o copo. Com um sorriso suave, arriscou: — Está nervosa? Lua limitou-se a sacudir a cabeça. Sabrina — num gesto compreensivo — tomou o copo de suas mãos e encarou-a intensamente: — Entendo, senhorita. Ouvi o que as outras disseram sobre Rodrigo... Mas aquela candidata tinha razão: mesmo que ele pareça um ogro ou um homem das cavernas às vezes, não é nenhum bicho-papão. E se é exigente — fez um gesto amplo com as mãos, abarcando a grandiosidade do escritório —, é por tudo isso que você está vendo. Aproximou-se mais, baixando a voz como se compartilhasse um segredo: — Ele e meu irmão deram duro para manter essa empresa. Agora não podem vacilar — precisa estar sempre atento para saber quem contratar. Ambos só escolhem os melhores, do auxiliar de limpeza ao gestor. Tudo para manter a Belle Famme no topo do mercado. Entende? Lua sentiu uma onda de determinação percorrer-lhe a espinha. Sorriu, lembrando-se das aulas: — Compreendo, senhorita. Meu professor do curso sempre dizia: uma empresa é como um relógio. Todas as peças — pequenas ou grandes — precisam funcionar perfeitamente para não haver atrasos. Sabrina franziu os lábios, impressionada: — Exato! Você captou a essência. É bem inteligente, hein? Ah... Como disse mesmo seu nome? — Lua Fernandes. Muito prazer! — Sabrina Vasconcelos, muito prazer, Lua! Olhando para ela, Lua sorriu suavemente. A conversa fluiu entre ambas com naturalidade, como se fossem amigas há séculos. Sabrina soube que Lua viera do interior para buscar oportunidades na capital, enquanto Lua descobriu que Sabrina tinha 28 anos era sócia e trabalhava na Belle Famme desde os 18 como designer. A designer compartilhou histórias inspiradoras — e alguns desafios — da empresa. Após alguns minutos, Sabrina foi chamada em outra sala e confessou: — Espero do fundo do coração que o Rodrigo perceba sua inteligência. Não conte às outras, mas estarei torcendo por você. Lua riu, encantada com a sinceridade. Notou, porém, a intimidade no modo como Sabrina se referia a Alcântara — pelo primeiro nome, que achara bonito. Pelo que entendera, o irmão de Sabrina era sócio dele. Ao retornar à sala de espera, Lua estava revigorada. Hanna, a secretária que a avaliara com desdém desde o início, continuou a observá-la com olhos críticos. Quando viu Sabrina passar pelo corredor, abordou-a com um tom ácido: — O que tanto conversava com aquela jeca, hein? Sabrina, conhecedora do veneno verbal da colega, revidou com uma pergunta: — Por que deseja saber? Hanna não hesitou: — Não fui com a cara dessa daí. Tem cara de sonsa, e odeio gente falsa. — Que isso, Hanna! Nem conhece a garota para falar assim! — Vá defendendo essa songa-monga... — cuspiu a secretária, os olhos estreitados. — Vai ver quando ela te passar a perna na primeira chance! — Você é louca, só pode! — Louca não! Eu, diferente de você, sou bem esperta com esse tipo de garota, isso sim! — Hanna cruzou os braços, o vermelho de suas unhas cintilando sob a luz fluorescente. — Não sou tola de achar que, por serem jecas com carinhas de santinha, são boazinhas! Saiba que, se dependesse de mim, essa garota jamais passaria dali. Apontou com desprezo para a sala das candidatas. Sabrina balançou a cabeça, exasperada com a paranoia da colega: — Mas não depende de você, Hanna! Só depende do Rodrigo. Então acho bom preparar seu coraçãozinho... — inclinou-se, sussurrando com ironia proposital — Essa garota tem futuro. E se eu percebi a inteligência dela, tenho quase certeza de que meu amigo também vai notar. Ao dizer isso, Sabrina virou-se, deixando Hanna esbravejando sozinha no corredor. A secretária martelou o salto no chão, sibilando entre dentes cerrados: — Tenho certeza de que, se Rodrigo perceber algo nessa mulherzinha, não será a inteligência... — Os olhos estreitaram-se, vítreos de possessividade. — Mas não aceitarei... Jamais aceitarei outra mulher tentando roubar o que é meu! Rodrigo é meu, e de mais ninguém!Lua notou que ficara por última na entrevista, embora houvesse chegado cedo. “Nossa, deve ter havido alguma desordem lá dentro... As moças que chegaram depois de mim já foram chamadas todas” — pensou, mordendo o lábio inferior. Tentando tranquilizar-se, murmurou: — Não vou me importar de ficar por último. Se isso me der mais chances de conseguir o trabalho... Enquanto esperava, recordou as palavras da tia Graça: "Os empecilhos não são sempre ruins. Às vezes servem para tornar a vitória maior". Além disso, a conversa com Sabrina lhe dera um fio de confiança. Mesmo sem experiência prática, sentia seu potencial pulsando. Após a última candidata sair, porém, ninguém a chamou. O silêncio prolongou-se por meia hora até que, decidida, Lua bateu na porta da sala de entrevistas. Sabia ser indelicado — afinal, não fora convocada —, mas precisava entender o ocorrido. Do interior, ouviu vozes masculinas em debate: — Quem pode ser? Uma resposta grave ecoou, impaciente: — Entre!
Ao entrar na sala de reuniões, Lua sentia-se nervosa, mas determinada a dar o seu melhor. Aquele momento era crucial não só para a empresa, mas para seu futuro. Enquanto organizava os materiais, observou Rodrigo e Júlio revisando documentos com expressões severas. — Precisamos que essa reunião transcorra sem contratempos, senhorita Fernandes. Entendeu? — Rodrigo fixou-a com intensidade glacial. — Estou aqui para ajudar, senhor. Se possível, informem-me se há pontos específicos que preferem priorizar na tradução. — Sua voz manteve-se firme, embora o coração martelasse contra as costelas. O olhar do CEO persistiu sobre ela como um peso físico. Antes que pudesse responder, a porta abriu-se. Hanna entrou conduzindo os sócios franceses. O choque nos olhos da secretária ao ver Lua no centro da ação foi capturado apenas por Sabrina — já a par do "sumiço" do currículo, graças a Júlio. Ao ser dispensada por Rodrigo, Hanna lançou um olhar assassino à rival antes de sair. Sabrina conteve
Lua entrou na sala de Rodrigo, a ansiedade apertando-lhe o estômago. Ele a encarava com uma expressão incomum — uma ruga profunda na testa, como se reprovasse algo que ela sequer compreendia. Desviou o olhar para os papéis nas mãos, pigarreou e iniciou: — Senhorita Fernandes… — A voz grave ecoou calculista. — Você foi incrível. Trabalhou excepcionalmente bem hoje. — Obrigada, senhor Alcântara — sussurrou ela, os olhos fixos nas mãos largas dele, que organizavam documentos com precisão militar. — Sua mediação foi fundamental. Graças a você, os franceses darão resposta amanhã. — Que bom, senhor — respondeu, ela de forma contida, notando como seus próprios dedos tremiam disfarçadamente no colo. Ele alinhou os papéis na mesa com um gesto brusco. Quando ergueu o rosto, os olhos azuis-gelo perfuraram-na como adagas: — Prometi que o emprego seria seu, se saísse bem. — Uma pausa carregada. — E você… excedeu as expectativas. Lua sorriu, a euforia misturando-se ao medo do desconhe
Lua bateu na porta de Rodrigo e entrou após ele a mandar entrar, ela deu bom dia: — Bom dia doutor Alcântara! Já sentado na sua mesa, olhando para ela com uma expressão severa, Rodrigo falou: — Bom dia, senhorita Fernandes! Por favor sente-se. Após ela sentar-se, ele continuou: — Entendo que você esteja ansiosa, senhorita, mas não pense que vai ser fácil, você terá que provar seu valor aqui. — Entendo senhor Alcântara, mas acredite estou pronta para o desafio! —Respondeu Lua, confiante, Rodrigo deu um sorriso frio, então respondeu: — Isso é o que vamos ver! E naquele dia, ele atribuiu à Lua uma tarefa complexa, com prazo curto. Ela, porém, trabalhou incansavelmente, e lhe entregou antes da hora marcada, mas Rodrigo continuou a questionar sua capacidade. — Isso não é bom o suficiente. — disse ele, analisando seu trabalho. — Você precisa melhorar. Porém, ao lembrar-se das palavras de Sabrina sobre Rodrigo só empregar os melhores, Lua sentiu sua determinação crescer, por is
— Não precisa agradecer — respondeu Sabrina. — Somos colegas e amigos e estamos sempre aqui pra ajudar.E assim que Sabrina terminou de falar Rodrigo entrou na sala, e estranhou ao ver os seus amigos lá, porém nada falou apenas direcionou o seu olhar para Lua e falou:— Senhorita Fernandes, precisamos falar!— Sim, senhor — respondeu Lua.Ele olhou para Júlio e Sabrina. — Vocês podem nos deixar a sós? Eles saíram, mas não antes do seu amigo Júlio lhe lançar um olhar duro, porém ele nem se abalou, e esperou eles fecharem a porta, então encarando Lua falou:— Senhorita Fernandes, você está fazendo progresso!— Obrigada, senhor — respondeu Lua.— No entanto, ainda há muito a melhorar — acrescentou ele.Lua sentiu-se frustrada, porém respondeu de forma profissional:— Sim, senhor! Ela sabia que o que ele falaria a seguir seria muito importante, por isso se preparou e o encarou de forma a
No carro, Júlio e Lua conversavam animadamente sobre o projeto. Ao chegar ao apartamento dela, Júlio desceu para abrir a porta para ela.— Obrigada pela carona, e por sua boa companhia Júlio — disse Lua, sorrindo.Júlio pegou na mão dela encarando-a.— Você não precisa agradecer linda, faço tudo porque gosto muito de você, de uma forma que jamais pensei que iria gostar de alguém — disse ele, beijando-lhe a mão e olhando fundo nos olhos dela.Lua não entendeu o tom romântico por isso falou:— Eu também gosto muito de você e da Sabrina! — encarando-o disse-lhe — Vocês são grandes amigos.Júlio sorriu, porém em seu pensamento disse: “Não estava falando de amizade, minha princesa”.Depois que Lua entrou, Júlio voltou ao carro, sorrindo, e estava decidido que ele não desistiria de conquistá-la.Enquanto isso, Rodrigo estava aborrecido no estacionamento. Quando viu Lua sorrindo ao entrar no carro de Júlio, sem entender a s
Lua Fernandes era uma jovem de beleza delicada: cabelos castanhos, olhos verdes, estatura mediana e silhueta esbelta. Contudo, a aparência pouco importava para ela; o que realmente a movia eram os sonhos que desejava realizar com ardor, pois sempre nutrira ambições próprias. Naquele dia, uma agitação contagiante a invadia. Enquanto agradecia a Deus, sussurrou para si mesma: — Ai, meu Deus, finalmente vou realizar meu sonho! Não consigo acreditar... Obrigada! Era o dia de sua mudança para a capital, onde buscava uma oportunidade como assistente de negócios. A alegria a envolvia, especialmente por ver seus esforços sendo recompensados. Desde jovem, Lua sempre fora incansável e estudiosa. Embora tivesse o apoio incondicional de sua tia Graça e do falecido tio Jorge — que partira três anos antes —, sentia que o amor deles era um presente, e jamais quisera abusar dessa dádiva. Ao completar a maioridade, após a perda do tio, assumira a pequena floricultura herdada dos pais, aliviando um