POV CASPIAN.
Dei um soco na mesa. Um som seco ecoou pelo escritório. Minha paciência já estava no limite, e o olhar tenso de Octávio, meu beta, só piorava minha irritação.
— Aqueles malditos renegados atacaram mais uma alcateia sob nossa proteção — disse ele, com a voz firme, mas carregada de preocupação. Rosnei e o som profundo saiu de minha garganta. Os renegados haviam ultrapassado todos os limites. Era um insulto direto a mim, ao meu comando. Esses malditos vira-latas.
— Já lidei com eles antes e posso fazer isso de novo — respondi, tentando controlar minha fúria. Mas foi o que Octávio disse em seguida que me preocupou.
— Caspian… — ele hesitou, como se reunisse coragem para continuar. — O médico-chefe do hospital da alcateia informou que cinco lobos foram diagnosticados com a doença que está se espalhando pelas outras alcateias — comunicou, tenso.
Fechei os olhos por um momento, respirando fundo. Era isso que eu temia. Essa maldita praga havia chegado até nós. Eu, Caspian Roy, o alfa mais cruel e impiedoso do Canadá, o temido CEO do império Roy Industries, o alfa da alcateia Crescente, estou diante de um problema que não consigo resolver. Suspirei, impaciente.
— Ele tem certeza? — perguntei, ríspido, abrindo os olhos e focando em Octávio.
— Sim. Os cinco lobos perderam a capacidade de se curar e estão doentes. Contraíram uma infecção desconhecida que os médicos não conseguem combater — respondeu ele, lamentando.
Andei de um lado para o outro, tentando processar a informação. Passei a mão em minha barba, a preocupação me consumindo. Uma doença que nos derrubava e fazia nossa capacidade de cura falhar… Era um pesadelo que se tornava realidade. Sem nossa capacidade de nos curar rapidamente, nos enfraquecemos — e nossos inimigos vão se aproveitar disso. Fora que estamos adoecendo e perecendo.
— Vou encontrar o causador dessa praga, e ele vai se arrepender de ter nascido. Porque essa doença não é natural, disso tenho certeza. Sei que tem magia nisso — rosnei, minhas garras começando a emergir enquanto a raiva tomava conta de mim. Octávio observou-me em silêncio por um momento antes de falar novamente, como se não quisesse piorar meu humor.
— Caspian… talvez seja hora de considerar solicitar auxílio a alguém com mais experiência em questões mágicas — disse com cautela, pois sabia do meu ódio por bruxas.
Rosnei outra vez. Pedir ajuda era algo que eu detestava. A humilhação de admitir que não conseguia resolver um problema sozinho era insuportável. Ainda mais se isso significasse pedir ajuda a uma maldita bruxa. Eu as odeio, desde que uma ousou me sequestrar e torturar quando eu era filhote. Eu ainda hei de encontrar aquela maldita e vou despedaçá-la com minhas garras.
Enquanto imaginava como mataria aquela bruxa maldita, de repente minha mente foi inundada por lembranças indesejadas. Olhos violetas brilhantes, cheios de dor e decepção. Gaia… por que esse nome veio à minha mente? Maldição, por que pensei nela? Eu nem lembrava daquela infeliz. Fechei os punhos, afastando os pensamentos e voltando ao presente, sem responder ao que Octávio sugeriu.
— Reforce as patrulhas. Quero os limites da alcateia vigiados dia e noite. E encontre qualquer pista, qualquer rastro do causador disso. Não importa o que seja. Precisamos saber como esses cinco lobos foram infectados — ordenei, minha voz fria e dura.
Octávio assentiu e saiu às pressas, deixando-me sozinho no escritório. A sensação de impotência era esmagadora. Cada decisão, cada ação, parecia insuficiente. E, pior, algo me dizia que o destino ainda tinha mais surpresas reservadas — e nenhuma delas seria agradável.
— Talvez tenha lembrado dela por culpa — falou Odin, meu lobo, invadindo meus pensamentos.
— Não comece com essa ladainha agora, depois de tanto tempo — falei, impaciente.
— Você foi um grande babaca, rejeitando minha companheira. E saiba que nunca te perdoarei por isso — disse, irritado em minha mente, rosnando.
Odin nunca me perdoou pelo que fiz. Nossa relação não foi mais a mesma. Ele está sempre presente quando eu preciso, mas não conversamos tanto como antes. Eu sinto falta das nossas conversas e da cumplicidade.
— Sério que vai voltar nesse assunto, nesse momento? Nós estamos no meio de uma crise, e não preciso me estressar com águas passadas — falei, querendo colocar fim nessa conversa inútil.
— Sim, voltarei nesse assunto quantas vezes eu quiser. Você errou e tem uma grande dívida comigo. Eu ainda hei de ver você sofrendo por sua escolha estúpida. E vou rir muito quando isso acontecer — falou Odin, rindo cruelmente, e se calou.
Rosnei, irritado com suas palavras. Como meu lobo ousa me desejar o mal? Tenho que disciplinar Odin, ele anda muito rebelde — pensei, irritado.
Odin não entendi que eu não tinha como aceitar uma companheira bruxa. Gaia… a primeira vez que a vi, nós eramos filhotes. Eu me encantei pelo seu jeito meigo e quieto. Ela era mais calma dos quadrigêmeos. Nós brincamos juntos naquela ocasião e em todos os encontros entre as alcateias que nossos pais nos levavam e isso me fez apaixonar-me por ela, meu primeiro amor.
Depois não a vi mais, pois fui sequestrado pela maldita bruxa, o que me transformou, me tornando frio e impaciente. Eu não quis mais saber de ir aos encontros das alcateias. Anos depois nos encontramos numa festa em minha alcateia e já eramos adultos. Gaia havia se tornado uma linda loba, eu a desejei e muito e não era o único, o que me irritava. E percebi que ainda era apaixonado por ela.
Mas não podia ter nada com ela, pois eu logo encontraria minha companheira, minha Luna e não poderia estar apaixonado por outra loba. Quando a reconheci como minha companheira, foi o momento mais feliz da minha vida. Mas tudo desmoronou, quando senti aquele maldito cheiro de magia vindo dela. Descobrir que a loba que eu desejava e amava, que foi destinada a mim, era uma maldita bruxa, me destruiu. Eu agi sem mesmo pensar e a rejeitei. Rosnei irritado, porque estou relembrando disso. Gaia, está morta para mim. Soquei a parede com raiva.
Pouco tempo depois, enquanto tentava controlar minha raiva, ouvi passos firmes se aproximando e senti o cheiro, já sabendo de quem se tratava. Olhei para a porta e vi meus pais entrando. A presença deles aqui significava estarem preocupados. Eles sempre sabiam quando as coisas estavam fora de controle.
— Caspian, o que está acontecendo? Encontramos Octávio e ele estava bastante tenso — perguntou meu pai, cruzando seus braços. Minha mãe olhou para mim, preocupada.
— Você parece mais irritado do que o normal, meu filho — disse mamãe, com a voz suave. Suspirei pesadamente antes de responder.
— Os renegados atacaram outra alcateia. Isso já é grave o suficiente, mas agora a doença chegou até nós. Cinco lobos adoeceram. Os médicos não conseguem fazer nada — expliquei, sentindo minha raiva e frustração crescerem novamente. Meus pais trocaram olhares apreensivos. Meu pai foi o primeiro a falar:
— Isso é muito preocupante, Caspian. Nós não podemos enfrentar tudo sozinhos. Essa doença é diferente de qualquer coisa que já vimos. Lobos não adoecem. Você precisa de aliados que entendam essas ameaças. Precisamos de ajuda — sugeriu meu pai. Minha mãe concordou, colocando uma mão no ombro dele.
— Os médicos já usaram todos os recursos disponíveis e consultaram as mentes mais brilhantes deste país, assim como todos os tratamentos possíveis. Mas nada nem ninguém conseguiu uma solução para esse problema. Eu tenho certeza de que essa doença é obra de uma bruxa maldita — falei, já esgotado. Minha mãe olhou para meu pai, e notei estarem se comunicando. Logo, minha mãe me olhou e falou:
— Seu pai está certo, filho. Você deve procurar ajuda. Se realmente essa doença for mágica, devemos procurar quem entenda de magia. Talvez devesse entrar em contato com Alfa Magnos e Luna Amélia. Eles têm conexões que podem ser úteis. Fale com eles — sugeriu mamãe.
O nome de Magnos fez meu corpo enrijecer. Ele era pai de Gaia, a loba que rejeitei há anos. Desde então, a relação entre nossas alcateias nunca mais foi a mesma. Não somos mais alcateias aliadas.
— Não posso pedir ajuda a eles. Não depois de tudo o que aconteceu — respondi, irritado.
Meu pai balançou a cabeça, impaciente, pois nunca concordou com eu ter rejeitado minha companheira. Dei as costas para eles, parei em frente à janela e olhei para fora, para minha alcateia. Para meus lobos andando tranquilos e se sentindo seguros sob minha proteção.
— Esse não é o momento para orgulho, Caspian. Se você não agir agora, essa doença pode destruir nossa alcateia, assim como destruiu a alcateia Lobo Selvagem. Não estamos falando de você. Estamos falando de proteger as vidas de todos os lycans que vivem em nossa alcateia — comentou meu pai.
Eu sabia que ele estava certo, mas a ideia de ter que pedir ajuda a Alfa Magnos era insuportável. Mesmo assim, a urgência da situação não me dava escolha, pois precisava de ajuda.
— Vou pensar sobre isso — respondi, forçando-me a controlar a raiva. Minha mãe olhou para mim com um semblante firme e compreensivo.
— Você sabe o que deve fazer, Caspian. Quando tomar sua decisão, estaremos aqui para apoiá-lo. Só não demore, pois nossa alcateia está em perigo e logo o caos se espalhará dentro de nosso território. E você sabe que lobos desesperados são difíceis de controlar e podem fazer diversas loucuras — falou minha mãe.
Eles se despediram e saíram, deixando-me sozinho. Sentei-me e deixei a cabeça cair para trás, e fiquei assim por um bom tempo. O destino parecia estar rindo de mim. Os pais da loba que rejeitei e que eu havia insultado agora se tornavam minha única chance de salvar minha alcateia. Endireitei-me na cadeira, meu olhar fixo no celular sobre a mesa.
Respirei fundo. Não era somente o destino da minha alcateia que estava em jogo, mas também o de todas as outras sob minha proteção. Tantas vidas dependiam das decisões que eu tomava, e essa era uma decisão que eu não podia evitar. Suspirei mais uma vez. Minhas mãos finalmente alcançaram o celular, e eu digitei o número de Alfa Magnos. O telefone começou a tocar. Quando a chamada foi atendida, a voz grave e autoritária de Alfa Magnos preencheu o silêncio.
— Alô. Quem fala? — disse Alfa Magnos.
— Alfa Caspian — falei. E houve um silêncio do outro lado da linha.