Não vou me casar com você
Não vou me casar com você
Por: LS History
Capítulo 1

NEW YORK_ABRIL

    Conto de fadas.

    A maio parte da meninas ao redor do mundo já sonhou com isso algum dia. Um príncipe encantado montado em um cavalo branco, e o felizes para sempre. Parece incrível, mas na verdade é tão irreal.

    Quando a garotinha cresce e conhece a realidade do mundo, descobre o quão mentirosos são os contos de fadas. Deveria ter sido assim comigo há muito tempo também, mas não importava o que pensassem ou dissessem, eu sempre acreditava em príncipes que resgatam donzelas em perigo porque pensar que alguém virá ao meu socorro era a melhor maneira de não desistir. Eu persisti em ser ingênua nesse quesito, fechei os olhos quando as poucas pessoas que se importavam comigo me alertaram, e paguei por isso. 

    Agora já aceitei que ninguém me salvará desse castelo, mas eu também não sou forte o suficiente para lutar contra o dragão e fugir dele.

    Confesso que já pensei em desistir de tudo algumas vezes, mas não o fiz, por que não sou assim. Como o meu amigo Thony disse uma vez, fugir dos problemas não os resolve. Talvez ele esteja certo.

    O despertador toca, sinalizando que meu dia já vai começar, embora eu estivesse acordada há algum tempo. Estico meu corpo preguiçosamente ao som de Lana Del Rey. Os raios de sol entravam pela janela e iluminavam o quarto decorado com flores e variados tons de amarelo de cima a baixo. Eu amo flores e tudo que tenha haver com moda e decoração, então uni o útil ao agradável decorando meu cantinho por conta própria. Essa casa enorme já me sufocava, por isso me esforcei para fazer pelo menos uma pequena parte dela aconchegante para mim.

    Lá fora os pássaros cantavam no jardim dos vizinhos, eles nunca ficavam no nosso lado por muito tempo antes de serem enxotados pelos jardineiros, sob ordens de mamãe. A Senhora Campbell não gosta de ser incomodada pelo canto deles logo cedo, tampouco quer vestígios de suas fezes pelo jardim ou varandas.

    Desliguei o despertador e abri as portas da varanda, apreciando a brisa fresca da primavera. Eu amo a primavera. É quando tudo fica tão colorido e vibrante, alegre. Até a nuvem cinzenta que sempre ronda esta mansão parece se iluminar.

    Lá de baixo vejo Albert, o filho e ajudante do jardineiro, me olhando como mais interesse do que deveria, como sempre. Ele era legal, lindo, fofo e eu até tinha uma quedinha por ele, mas já aprendi minha lição um vez e não pretendo repetir a dose. Me afasto da varanda e vou me preparar para o dia.

   Depois de um banho rápido e uma troca de roupas, minha irmã mais velha, Beatrice, entra pela porta do quarto.

    "Hoje à noite teremos um jantar com o futuro sócio do papai e mamãe quer que se vista de forma apresentável". Ela fala rápido mas com firmeza.

    Ergo as sobrancelhas.

    "Bom dia para você também." Não escondo a ponta de sarcasmo amigável na minha voz.

Bea suspira. As ondas escuras do seu cabelo se esparramam pelo colchão quando ela se j**a na minha cama.

    "Desculpe, minha cabeça esta prestes a explodir." Ela massageia as têmporas e relaxa o rosto, mostrando seu cansaço.

    Imediatamente já sei que a situação é seria. Beatrice é sempre tão impecável em tudo, é muito estranho vê-la abatida desta forma.

    "Qual o problema ?" Pergunto, enquanto me sento na beirada da cama e termino de pentear meu cabelo.

    "A mamãe vai me enlouquecer até o dia do maldito casamento". Ela baixa seu tom de voz, quase sussurrando. "Não aguento mais ela fingir que quer minha opinião a todo momento quando no fundo já tem tudo planejado. E para completar tem a pior parte do casamento, o noivo, eu não quero me casar com um velho enrugado que tem idade para ser meu avô."

    Deixando a escova de lado, eu fico parada a olhando, sem saber o que dizer.

    Como eu já expliquei, Bea é sempre perfeita em tudo e isso também inclui sempre concordar e obedecer nossos pais. Eu nunca, nunca, a vi ir contra eles e quase sempre parece que ela faz tudo de boa vontade, inclusive aceitar se casar com um parceiro de negócios do papai com mais do dobro da idade dela.

    "Estou sendo dramática."

    "Não Bea, é natural se sentir assim com tudo o que voce está passando. Conversou com sua terapeuta sobre isso ?"

    Eu sugeriria que ela conversasse com nossos pais, mas sei que será inútil. Eu também não podia fazer muito, Bea e eu somos próximas até certo ponto, ainda há muitas barreiras entre nós.

    Nossa relação é meio complicada. Lá no fundo Bea tem uma parte mimada e egoísta contra a qual ela luta constantemente pois abomina a possibilidade de ser mais parecida com nossos pais (é claro que ela nunca entoou isso em voz alta, mas não foi exatamente necessário). As vezes penso que sua confusão interna nos impede de nos aproximarmos mais, outras vezes só acho que somos muito diferentes.

    Ela responde a minha pergunta com um sim e imediatamente muda de assunto e recria sua postura impecável, me contando que sua terapeuta se mudará para NY e ela começará consultas com uma nova terapeuta que chegará na cidade em breve. A mudança repentina não me surpreende mais, Bea odeia mostrar qualquer fagulha de vulnerabilidade.

    Entendendo que o assunto está encerrado, pergunto sobre o tal jantar.

    "Ah, será daqui alguns dias, aqui mesmo." Ela responde. "Ouvi dizer que oque esse tal sócio tem de lindo, tem ainda mais de ranzinza."

    Arrumo minha cama enquanto ela termina de falar.

    "Ele é velho ?"

    "Definitivamente não." Pelo canto do olho a vi admirar seu reflexo no espelho comprido.

    Bea é dona de uma beleza estonteante e sabe disso. Ela tinha a pele morena e os olhos verdes da nossa mãe, os cabelos castanhos com mechas naturais mais claras, como nosso pai, e seus traços eram uma perfeita mistura deles. Já eu, sou completamente diferente da minha família exeto pelos olhos verdes que também herdei de mamãe.

   Uma pequena parte egoísta de mim agradece por isso e pela atenção de nossoas pais estar voltada Beatrice e nossos irmãos, assim eles não cobram tanto de mim. Não preciso comparecer a jantares e eventos sociais, ou participar do teatro de falmília perfeita para a mídia. Porque os negóscios Campbell tem sua fama pelo mundo o que nos torna um dos alvos da mídia. Exceto eu. Felizmente.

    Mas mais uma vez, não posso deixar de sentir aquela pontada de tristeza pela rejeição de Giulia e Brian Campbell.

🌻 🌻 🌻

    O carro para em frente ao colégio e desço dele senda seguida pelos meus irmãos, Annabelle e Éric. Eles vão até seu grupinho de amigos, sem se importar comigo. Não gosto daquelas pessoas, eles são imaturos e adoram atormentar alguns alunos, especialmente os bolsistas, dizendo coisas ruins e as vezes até os machucando fisicamente. É claro que eles sempre escapam impunes graças as fortunas dos seus pais que poderiam representar um terço do PIB do país.

    O colégio é um dos mais renomados do continente americano. Ela é frequentada principalmente por filhos de mgnatas e grendes empresários, mas também integra filhos de políticos, atores, modelos e até uma princesa com parentesco não muito distante com os reis de um país Oriental. Além da escola oferecer um excelente programa de ensino com professores renomados, também possui políticas rígidas de sigilo e não divilgação, o que vem a calhar para essas figuras públicas que matriculam seus filhos aqui.

    Suspiro e ando direto para a sala de aula. Me sento em uma cadeira da frente próxima à mesa do professor. A maioria dos professores daqui gosta de mim porque sou dedicada e acham que eu amo estudar. A verdade é que odeio isso mas me esforço ao máximo porque não ha outra opção, quanto mais cedo me formar, ir para a faculdade, começar a trabalhar de verdade e ter mais dinheiro, mas cedo vou ir embora da mansão Campbell.

    Eu já deveria ter me formado, afinal já tenho dezenove anos, mas quando criança passei quase dois anos lutando contra o cancer e isso me atrasou na escola. É o que minha família sempre diz. Eu não me lembro de qualquer resquício desse período e quando questiono sobre isso, me contam a mesma história sobre ser normal meu cérebro ter apagado essa época traumatizante da minha memória enquanto crescia, afinal eu era só uma criança.

    Em pouco tempo o professor caio chega na sala de aula checando o relógio no seu pulso.

    "Bom dia Ashley." Ele me cumprimenta com um pequeno sorriso quando me nota.

    "Bom dia Sr. Harper."

    Ele deixa sua pasta sobre a mesa de carvalho.

    "Assim você faz com que me sinta velho." Comenta com humor, pouco antes de se virar para mim. "Pode me chamar de Caio. Pensei que já houvesse deixado isto bem claro. "

    "Desculpe." Murmuro. "É o costume. " E não era totalmente mentira, a maioria dos professores do colégio tinham mais de quarenta anos, Caio era uma das poucas exceções.

    O professor caio é um dos melhores professores da instituição, mesmo sendo jovem. Ele começou a ensinar nesta turma no início do segundo semestre e me ajudou bastante com alguns assuntos em que tive dificuldade. Ouvi mamãe dizer que o Conselho não o levava muito a sério no início por ser jovem, porém ele fez seu nome aqui dentro quando as pessoas passaram a enxergar o seu talento para ensinar.

    Caio também é o meu professor favorito. Ao contrário de muitos outros, ele não era o tipo de professor que só chegava e nos explicava uma enxurrada de assuntos. Sua metodologia era um pouco diferente, ele utiliza de métodos de ensino mais dinâmicos que facilitam bastante a aprendizagem.

    "Então Ashley, você tem tido duvidas em algum assunto ?"

    "Não Senh... Caio." Ele da um pequeno sorriso divertido. "Está tudo tranquilo até agora."

    "Eu não esperaria menos, você é muito inteligente Ashley. Se precisar de ajuda sabe onde me encontrar."

    "Obrigada, Caio."

    Em poucos minutos os demais alunos chegam e a aula começa.

🌻 🌻 🌻

    A aula transcorreu normalmente, assim com o restante da manhã. Ao meio dia encontrei com minha amiga Bella e fomos almoçar juntas. Nosso amigo, Anthony, está viajando com sua namorada, então por mais algumas semanas seremos somente nós duas. Bella e eu nos sentamos em uma mesa afastada das outras no refeitório do colégio.

    Bella é uma inglesa que se mudou para os Estados Unidos com o pai há alguns anos. Conheci ela no primeiro dia de aula aqui e desde então não nos desgrudamos mais.

    "Bella, você está bem ?" Pergunto sem poder deixar passar seu smblante abatido.

    "Sim, Ash." Suspira e da um sorrisinho estranho. "Só estou cansada. Dois amigos foram me visitar ontem à noite."

    Bufo. "É Terça-feira, Bella."

    "E ?" Rebate.

    Eu rio levemente.

    "Você não tem jeito mesmo."

    Ela dá de ombros e boceja.

    Assisto com uma careta enquanto Bella bebe seu café amargo sem açúcar. Não sei como conseguem tomar aquilo, é horrível, prefiro bebidas doces como meu achocolatado.

    Comemos e conversamos banalidades até que o assunto começa a girar entorno da faculdade.

    "Já sabe em que universidade irá entrar, little Ash ?"

    "Não, só sei que quero trabalhar com moda."

    "Você é muito talentosa, tenho certeza que será um sucesso."

    Sorrio levemente.

    Mas a verdade é que talvez haja um grande empecilho no meu caminho para a universidade de moda: meus pais. Eles acharam bobo quando Annabelle disse que queria ir para uma universidade de moda, e a deram um sermão sobre como ela deveria ajudar a dar continuidade aos legados da família no mundo da tecnologia.

    Bella fecha os olhos e suspira antes de falar. 

    "Muito melhor." Deposita seu copo de café vazio sobre a mesa. "Quando Thony e Alexa vão chegar ?"

    "Em algumas semanas, não sei exatamente."

    "O que eles tem na cabeça para viajar logo em época de aulas ? O verão começa em dois meses, qual o problema de esperar as férias de verão ?"

    Dou de ombros.

    "Depois de tudo que aconteceu eles queriam um tempo a sós para assimilar e seguir em frente."

    Anthony passou por alguns problemas com o pais após o falecimento de sua mãe e isso pesou no início do relacionamento dele com a Alexia. O amor deles, felizmente, conseguiu superar os obstáculos em sua relação.

    Bella acena em compreensão.

    "Espero que eles fiquem bem."

    "Eles ficarão." Afirmo com confiança. Eles realmente pareciam muito melhores quando saíram e sinto que esse tempo longe de tudo os ajudará.

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