Capítulo 3

Alguns dias depois, por perceber que não conseguia se esquecer dos olhos bem marcados daquele homem, cujo nome Aisha ainda nem fazia ideia de qual era, ela resolveu voltar ao deserto, pois além de ser o seu lugar favorito em toda a cidade, ela gostaria de se encontrar com ele novamente, mas de forma que ninguém soubesse, a fim de que não a julgassem por algo que ela não cometeu, pois, segundo os costumes do seu país, as mulheres não podiam ser vistas com nenhum homem que não fosse o seu marido, mesmo que elas ainda fossem solteiras. Então, antes de sair para o deserto, ela foi caminhando até a cozinha, pois imaginou que sua mãe poderia estar lá ajudando a Hana a preparar os alimentos. E quando ela viu sua mãe, perguntou:

– Mãe, vocês ainda vão precisar de mim hoje, ou posso sair um pouco? – Perguntou Aisha a sua mãe.

– Filha, todos os dias você vai querer ir até esse deserto?

– Deixei a menina ir, Samira. Já está tudo adiantado por aqui. E se ainda estiver faltando alguma coisa, eu me comprometo em te ajudar. – Disse Hana, como sempre ajudando Aisha a conseguir o que quer.

Enquanto isso, Surya escutava a conversa e cada vez mais ficava certa de que a família amava muito Aisha e que provavelmente ela era a favorita de Hana.

– Tudo bem. Pode ir, mas não demore muito, pois seu pai daqui a pouco vai chegar do trabalho junto com o seu irmão e vai acabar perguntando por você, está bem? – Perguntou Samira, a mãe de Aisha.

– Está bem, mãe. Não me demoro. Até mais. – Disse Aisha, dando um beijo no rosto de sua mãe e dando um forte e alegre abraço em Hana, se despedindo de ambas, e ignorando a presença de Surya na cozinha.

– E não se esqueça de colocar o seu véu! – Ordenou a mãe de Aisha, já imaginando que a filha pudesse esquecer devido ao imenso estado de euforia no qual ela se encontrava.

Então Aisha subiu as escadas e caminhou até o seu quarto, a fim de pegar o véu. Dessa vez ela escolheu a cor verde, então indo para a frente do espelho levantou o véu pelas extremidades e cobriu o seu cabelo, passando novamente as extremidades por baixo do queixo e envolvendo o pescoço. Depois ela saiu.

Mas enquanto ela caminhava em direção ao deserto a fim de se distrair um pouco, o homem estava caminhando por entre as mais de mil ruas da Medina, as quais eram as mais movimentadas da cidade. E nesse momento ele a avistou e passou a segui-la para aonde quer que ela esteja indo. E Aisha, sendo pega de surpresa, quando ela estava quase chegando até o deserto, em um local onde não havia ninguém além dela, ele conseguiu alcançá-la e quando ele chegou perto dela, ele a chamou:

– Olá, senhorita. – Disse o homem, que estava vestindo uma túnica branca, mas dessa vez ele estava sem o turbante na cabeça.

Como Aisha não sabia que tinha alguém além dela naquela localidade, ela se assustou quando ouviu essa voz, então no mesmo momento ela se virou para a fim de saber quem estava dirigindo a palavra a ela.

– Oi. – Repetiu o homem.

E quando ela viu que se tratava de um homem, ela se assustou, pois teve medo de que alguém a visse perto dele. Mas ao mesmo tempo em que ela se assustou, ela sentiu um pouco de alegria, pois viu que se tratava do mesmo homem viajante que ela tinha visto naquele dia no deserto com a caravana.

– Oi. – Disse ela disfarçadamente de modo que ninguém visse ou a escutasse. E ao mesmo tempo, olhando de forma assustada ao seu redor,

– Qual o seu nome? Você é aquela moça que estava sentada debaixo da tenda quando cheguei de viagem, estou certo? – Perguntou o homem.

– Meu nome é Aisha, e o seu? Sim, era eu quem estava na tenda naquele dia no deserto. – Disse ela enquanto caminhava um pouco mais a frente dele. E para que ninguém suspeitasse dela nem a reconhecesse, ela ajeitou o seu véu de modo que uma parte dele passasse pelo seu rosto, deixando apenas os olhos expostos.

– Meu nome é Rachid. Você poderia me dar a honra de te conhecer melhor? – Perguntou o viajante, acompanhando-a há alguns passos atrás dela.

– Me conhecer? Como assim? – Perguntou ela, sorrindo por baixo do véu.

– Conversar mais com você. Eu quero muito te encontrar de novo.

– Não podemos nos encontrar. – Respondeu Aisha.

– Por que não?

– Por que não faz parte dos nossos costumes. Não somos casados. As pessoas não podem nos ver aqui. – Disse ela enquanto começava a andar mais depressa para que ninguém os visse juntos.

– Mas se você me der a oportunidade de te conhecer melhor, podemos marcar o nosso casamento.

– E por que você acha que a minha família te aceitaria como o meu marido? – Perguntou ela ainda caminhando na frente dele.

– Eu faço o que for preciso para estar com você pelo resto da minha vida. A partir do momento em que eu te vi, você já entrou no meu coração, Aisha.

Nesse momento, Aisha ficou calada e tomada pela esperança de ter uma família com aquele homem por quem ela se encantou desde a primeira vez que viu.

– O que eu tenho que fazer para que a sua família me aceite como o seu marido? – Perguntou ele, enchendo o coração dela de alegria.

– Você tem que falar com os meus pais e com o meu avô.

– E onde eu poderia me encontrar com eles?

– Na casa com portão grande azul, o portão principal, próximo ao início da Medina.

– E quando eu poderia ir até lá?

– Ainda não sei. Tenho que conversar com eles primeiro.

– Não seria melhor nós conversarmos juntos?

– De jeito nenhum!

– Por quê?

– Porque haveria uma grande chance deles não te aceitarem por pensarem mal de mim, e ainda me julgarem como impura. Além disso, eles podem querer me castigar.

– É melhor eu conversar com eles longe da sua presença. Depois, sim a gente marca um dia para todos se conhecerem.

– Tudo bem. Eu aceito tudo o que você me propuser. Mas me diz uma coisa, por que você visita tanto o deserto? – Perguntou Rachid, curioso.

– Eu amo estar no deserto. Ele me faz imaginar milhões de coisas.

– Como o que, por exemplo?

– Como seria a vida além dele. Como seria a vida no ocidente. – Respondeu Aisha, sonhadora.

– Você nunca foi ao ocidente?

– Eu nunca fui. Você já foi?

– Sim, muitas vezes. Podemos viajar para algum país do ocidente e passarmos a nossa lua de mel lá, se você quiser. – Disse Rachid, encantando Aisha.

– Seria um sonho.

– Você pode escolher o país e nós iremos.

– Tudo bem. – Disse Aisha, sorrindo.

– Mas agora eu tenho que ir.

– Está bem. – Lamentou ele.

– Então até outro dia. – Disse ela, reforçando que o véu estivesse em seu rosto. E nesse momento ela desistiu de ir até o deserto. Foi caminhando e indo embora para longe dele em direção a sua casa.

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