Gustavo
Como eu deixei Rafael e Felipe me convencerem a ir a uma festa do ensino médio?
Não tem como isso acabar bem. Definitivamente vou ter que escutar como era o nerd da sala e sou um completo fracasso por uma noite inteira e ainda ao lado de uma completa desconhecida.
Todo mundo sempre acha que o nerd da sala vai se tornar o próximo médico, advogado ou sei lá, ficar rico por ser inteligente. Até agora estou na fase de muito trabalho e pouco dinheiro.
Me olhei no espelho mais uma vez e suspirei irritado.
Terno e gravata para ir a uma festa da escola? Claro que Felipe iria me convencer a usar terno.
Azul, para combinar com o vestido da minha acompanhante misteriosa. Se essa mulher for alguma daquelas patricinhas metidas eu juro que me escondo no banheiro até a noite terminar.
Olhei para o meu quarto de infância mais uma vez. Definitivamente eu precisava arrancar aqueles posters de bandas da parede. Aquilo eram disquetes? Wow! Será que funcionam?
Rafael e Felipe estavam provavelmente batendo papo com os meus pais no andar de baixo, pois eu como sempre fui o último a tomar um banho. Acho que eu tenho tempo para ligar meu velho computador e ver se essa raridade ainda funciona.
Fiquei surpreso quando a tela ligou e comemorei quando vi o logo do Windows na tela. O que será que tem nesses disquetes?
— Gustavo? Está vivo aí? — Escutei a voz do Rafael antes da porta se abrir.
Pelo menos eu não era o único de terno.
— Felipe te fez usar um terno também? — Perguntei segurando a risada.
Ele deu de ombros e um sorriso de lado antes de me responder entrando no quarto:
— Somos empresários. Temos que estar elegantes. — Rafael imitou Felipe de uma forma desastrosa, mas que me fez rir. — Isso são disquetes? — Ele me perguntou vindo pegar o pequeno objeto nas minhas mãos.
— Estou querendo ver se ainda funcionam. — Indiquei o computador que ainda estava na mesma tela do logo.
Talvez o próprio computador não ligue.
Ficamos alguns minutos fazendo teorias do que eu teria guardado naquele disquete: letras de músicas, alguma coisa da escola? Talvez um jogo daquela época? Eu iria adorar que fosse um jogo.
— O que vocês estão fazendo? Já estamos atrasados. — Felipe entrou no quarto sem bater e cruzou os braços no peito não parecendo feliz. — Computador? Estamos indo para uma festa e vocês resolvem ligar um computador velho?
Como se ele não fosse ficar curioso com o conteúdo dos disquetes.
— Gustavo achou disquetes. — Rafael nos justificou o que só fez Felipe revirar os olhos.
— Vocês podem olhar coisas velhas quando quiserem, mas agora vamos para uma festa. Coloquem um sorriso no rosto e vamos nos divertir e mostrar para aqueles fracassados como somos inteligentes.
Eu tive que rir quando ele nos puxou para sairmos do quarto.
— Vamos! Um, dois! — Ele nos apresou mais uma vez me fazendo rir e Rafael revirar os olhos.
Descemos as escadas quase sendo empurrados e mal tive tempo de dar tchau para os meus pais antes de ser empurrado para fora de casa.
— Você vai se atrasar para o seu encontro. — Ele constatou e eu achei ótimo.
Quem sabe a maluca resolva não me esperar e torna minha vida muito mais fácil?
— E nem pense em desistir. — Felipe praticamente leu meus pensamentos.
Tive que acompanhar os dois pelas ruas até a escola. Felipe estava animado indicando todos os lugares que tínhamos passado alguma parte da nossa adolescência. Até mesmo a antiga Lan House ele fez questão de mostrar.
Quando viramos a esquina para chegarmos na escola ou a vi.
Pelo menos pude ver uma mulher de costas para mim, ela parecia entretida com o celular. Seus cabelos lisos iam até mais da metade das costas. Magra, parecia bem magra e não tão alta. E sim, era ela. Na sua mão esquerda jogada ao lado do corpo, estava uma rosa vermelha.
Suspirei. Pelo visto ela não desistiu.
— Ela parece bonita. — Rafael comentou me incentivando.
— Parece magra demais. — Dei de ombros e Felipe fez um gesto obsceno.
— Você não pode ser muito exigente. Só saia com a garota. Tire uma foto juntos e fale para os seus pais que está namorando. Simples, fácil e indolor. — Felipe resumiu minha noite. — E divirta-se! — Me pediu me pegando pelos ombros.
— Vamos entrar. — Rafael declarou me deixando mais desanimado.
Os dois me deram um tchau com a mão e saíram me deixando parado na esquina.
Algumas pessoas bem-vestidas passavam por mim e iam para a festa. Definitivamente será uma longa noite.
Coloquei as mãos no bolso e tentei relaxar. A noite não poderia ser tão ruim quanto eu pensava.
Fui em direção a garota que ainda estava de costas para mim olhando para o celular e parecendo não gostar do que vê. Pois quanto mais perto eu chegava, mais xingamentos eu escutava.
— Porcaria de celular! — Escutei ela reclamando.
E sim, eu definitivamente conheço essa voz.
Arrumei a postura mais uma vez e coloquei minha mão em seu ombro para chamar a sua atenção.
A tela do celular dela apagou e ela se virou.
Eu estou vendo coisas?
A mesma pele clara e pálida que eu me lembro. Como não me lembraria? Cabelos castanhos claros, lisos e cumpridos. Maiores do que me lembro. Olhos negros como a noite com cílios cumpridos, nariz empinado e fino, lábios carnudos. Um olhar de choque me olhando com a boca aberta e os olhos arregalados, e confesso que eu não deveria estar muito diferente.
Ela estava magra, muito magra.
Ainda está linda, claro, mas parecia que se eu a tocasse ela iria quebrar. Os peitos definitivamente cresceram bastante nesses últimos anos.
Gustavo, respire fundo!
Não pire! Ela é só o amor da sua vida, ou melhor dizendo, a mulher que arruinou sua vida amorosa, como diz Felipe.
Meu primeiro e único amor.
— Mariana Lima? — Perguntei e não reconheci minha própria voz rouca demais.
Ela sacudiu a cabeça lentamente concordando.
Não!
Por favor, não!
Por quê?
Por que tinha que ser ela?
— Gustavo Martins? — Ela me perguntou parecendo já saber a resposta e não pude fazer nada mais do que tentar dar um sorriso sem graça.
Definitivamente a noite seria longa. Muito longa!