Namorada de aluguel para o CEO
Namorada de aluguel para o CEO
Por: Laura Ivanish
Prólogo

Kathy

O cheiro de mofo invadia o meu nariz toda vez que eu entrava pela porta, sabia que aquilo era um veneno para a saúde de mamãe e Maddie, tudo que eu queria era conseguir um emprego que pagasse mais para que pudesse alugar um lugar melhor.

Vendemos tudo que tínhamos e viemos para Nova York, e assim que chegamos, descobrimos que o dinheiro que tínhamos mal dava para pagar três meses do tratamento de Maddie.

Conseguimos alugar um pequeno apartamento no Bronx, o lugar é horrível, mas é o único que conseguimos pagar, estamos a um ano no mesmo lugar, consegui um emprego de garçonete em uma cafeteria do outro lado da cidade e graças as gorjetas e o trabalho como garçonete em eventos nos finais de semana, eu estava conseguindo comprar os remédios de mamãe e de Maddie, ainda conseguia guardar um pouco para continuar o tratamento que tivemos que parar pela falta de dinheiro.

— Kath, mamãe fez bolo de carne — Maddie gritou ao ver que eu havia chegado, ela estava com oito anos e continuava com a aparência de sete, seu corpinho era magro e frágil, e tudo que eu desejava ela era vê-la curada e podendo ter uma vida diferente.

— Oi linda, onde está mamãe?

— Está no banho, ela se queimou de novo — cochichou.

Os sintomas da doença de minha mãe estavam se agravando. Com o dinheiro do trabalho eu conseguia comprar os remédios, porém, sabia que ela precisava de um acompanhamento com especialistas, algo que era fora do nosso orçamento.

Antes da doença ela era uma excelente costureira, trabalhava na única confecção que havia na cidade, ela era a melhor no que fazia, tanto boa que havia começado atender alguns clientes na nossa antiga casa, mas com a doença de Maddie cada vez se agravando, ela não viu outra solução a não ser vender todas as suas máquinas de costura deixando apenas a que herdará de minha avó. Logo após isso, quando a empresa descobriu sobre a sua doença, a demitiram imediatamente.

— Oi querida, que bom que chegou mais cedo — Ela veio pelo corredor secando os cabelos ainda molhados, logo notei a vermelhidão em seu pulso devido a queimadura.

— Mamãe, se queimou de novo?

— Não, claro que não — tenta esconder a mão.

— Nasci ontem, Silvya. Me deixe ver isso — pego a sua mão. Vejo que havia sido um corte superficial e fico aliviada

— Não foi nada mais.

— Você gritou, mamãe — Maddie deu de ombros.

— Quieta, Maddie! — repreendeu a pequena.

— Vou ver se consigo algo na minha folga e vou fazer algumas horas extras, então vamos conseguir ir no médico — acaricio sua mão.

— Filha, peguei alguns uniformes do marido da nossa vizinha Marieta para costurar, vai render algum dinheiro.

— Não quero que se esforce.

— Não é esforço, filha. Meu coração fica em pedaços vendo você ter que trabalhar tanto assim.

— Mamãe, não vou discutir sobre esse assunto. Estou morrendo de fome.

Sempre que terminava o jantar, corria para o banho e me jogava na cama, o cansaço dominava o meu corpo e minha mente. O som do meu celular tocando o despertador era uma tortura, tinha que acordar antes mesmo do sol nascer para conseguir pegar um ônibus e um metrô até o outro lado da cidade.

Durante o percurso, eu ficava olhando aquela cidade que sempre fez parte dos meus maiores sonhos. Na minha mente imatura, morar em Nova Iorque faria com que todos os meus problemas desaparecessem e estava muito enganada, eles aumentaram para minha sorte inexistente.

Não odiava o meu trabalho, o lugar era bacana e eu havia construído uma certa amizade com todos que trabalhavam ali. Mesmo sendo uma desastrada de marca maior, estava conseguindo me manter atenta e tomando o máximo de cuidado para não quebrar nada e ter a surpresa de não receber nada no dia do pagamento.

Naquela manhã eu havia sido uma das primeiras a chegar. Lissa, uma das garçonetes que era primeira pessoa que conheci quando cheguei na cidade, sempre chegava atrasada para o turno, eu já havia me acostumado a cobri-la, os últimos dias haviam sido péssimos e eu não havia conseguido praticamente nada gorjeta.

Sentia uma pontinha de desespero me tomar, pois o aluguel estava vencido a um mês e já seguia para mais um, precisava quitá-lo antes que o dono do prédio nos despejasse e ainda tinha os remédios de Maddie que estavam no fim.

— E essa bundinha? — ouvi após sentir um tapa, me fazendo pular de susto enquanto subia o zíper do meu uniforme.

— Lissa! — dei um pulo assustada — Você quer me matar de susto?

— Não consegui resistir — piscou.

Lissa era muito divertida, nunca teve um dia que não estivesse com um sorriso no rosto, ela era bissexual e sempre brincava dizendo que se eu quisesse experimentar "algo novo", ela estava à disposição. Mesmo sendo uma ruiva linda, eu não conseguia sentir atração por mulheres e depois do que havia acontecido com Eddie, nem por homens. Uma vez ou outra achava um cara bonito, mas nunca aquela coisa de pernas bambas e calcinhas molhadas.

— Você chegou cedo hoje — falei enquanto prendia o cabelo num rabo de cavalo.

— Não trabalhei ontem à noite. Me empresta um batom? — começou a mexer na sua bolsa enorme — Não sei onde enfiei minha bolsinha de maquiagem.

— Só tenho esse — levantei o batom rosa chiclete que Judith havia me dado quando nos despedimos, ela havia ido para Oxford e eu não sabia se em algum momento voltaria a vê-la pessoalmente, uma vez ou outra falávamos por chamada de vídeo e sempre que me lembrava dela, sentia um aperto no peito de saudade.

— Caramba, é lindo. Devia usá-lo, esse gloss que você usa é sem graça. Pelo menos hoje você fez uma maquiagem elaborada nos olhos, gostei bastante, devia fazer mais vezes — falou me entregando o batom.

Me olhei no espelho e vi que o delineado azul tinha realçado os meus olhos e deixado a minha aparência divertida, pois combinava com a mecha azul que havia pintado na parte de trás do cabelo, mas já estava praticamente saindo.

— Só espero conseguir mais gorjetas hoje. Ontem não consegui praticamente nada — falei fechando o armário e ajeitando o uniforme amarelo e azul que dava para ser visto de longe por causa das cores vivas.

— Ontem também não consegui nada — bufou irritada — Ainda bem que no outro consigo mais, e sinceramente? Estou quase pedindo demissão daqui.

Lissa começou a trabalhar a noite em outro lugar, ela nunca aprofundava sobre o assunto do trabalho, as vezes me perguntava se o que ela estava fazendo era algo ilícito e me preocupava, ainda assim não me metia, mesmo ela sendo a pessoa mais extrovertida que já havia conhecido, era também a mais esquentada e cabeça dura. Se em algum momento ela achar que eu devo saber sobre o que ela está fazendo no seu novo trabalho, ela me dirá.

No final do dia, tudo que eu conseguia sentir era o peso das minhas pernas ao contar minhas gorjetas, percebi que havia conseguido menos que o dia anterior e não pude conter a angústia que surgiu em meu peito.

— Dia ruim, gata? — Lissa surgiu tirando o avental.

— Consegui menos que ontem.

— Fica com isso, você precisa mais que eu — Lissa colocou todo dinheiro que recebeu de gorjeta sobre o balcão.

— Ficou maluca, Lissa? Não posso aceitar! — Não era justo que eu aceitasse o dinheiro que ela conseguiu com seu trabalho.

— Gata, eu consigo cinco vezes mais que isso hoje à noite.

— Eu prometo que vou te pagar.

— Não precisa... — colocou um chiclete na boca — Pensei em coisa, mas deixa para lá.

— O que é? — pergunto desesperada — Me diz, por favor.

— Não sei, acho que você poderia ganhar uma boa grande trabalhando onde eu trabalho — Me olhou de cima a baixo.

— O que eu teria que fazer? — pergunto desconfiada.

— Então, gatinha, é uma boate. Você só precisa vestir uma roupa sexy e dançar. Os caras vão a loucura e quanto mais loucos eles ficam, mais gorjetas ganhamos — estava perplexa com a informação — Ei, não me olha com essa cara.

— Me desculpe, não estou te julgando, é que eu não conseguiria fazer isso — tento expor meu ponto de vista.

— Você só precisa dançar, vai ficar uma semana treinando antes de começar.

— Se tem uma coisa que não sei fazer é dançar. Você sabe o quanto sou desajeitada e eu nunca conseguiria dançar com pessoas me olhando, ainda mais com uma "roupa sexy" — fiz aspas com os dedos.

— Você que sabe. Mas se mudar de ideia, posso te apresentar ao dono.

Assim que cheguei em casa vi que algo estava errado. Corri em direção ao quarto que dividia com Maddie.

— Filha, tente puxar o ar devagar — Minha mãe dizia para Maddie, que estava pálida e deitada sobre a cama

— Maddie! O que está acontecendo?

— Eu... e...u... não consigo res...pirar.

— Mamãe, por que você não me ligou? Precisamos ir para o hospital

— Ela começou a ter falta de ar faz uns cinco minutos. Pensei que logo passaria.

— Vou chamar um táxi — peguei meu celular na bolsa.

Os momentos que se sucederam foram torturantes, Maddie agonizava e eu não podia fazer nada, sentia meu corpo tremer ao olhar em sua direção, o seu corpo frágil e magro tentava lutar conta aquilo que a sufocava.

Assim que o táxi parou em frente ao Hopital Lenox, peguei Maddie no colo e corri em direção a emergência, após tanto esforço ela desmaiou no caminho.

— Um médico, por favor! — Gritou minha mãe ao perceber que eu não conseguiria pronunciar nenhuma palavra.

Em alguns segundos surgiram algumas enfermeiras empurrando uma maca na qual eu depositei o seu corpinho. Minhas mãos tremiam enquanto eu via Maddie ser medicada, sequer percebia o desespero de minha mãe ao meu lado, tudo que importava era Maddie, eu não podia perder minha irmãzinha. Uma médica surgiu e começou a examiná-la, após alguns segundos os olhinhos da minha pequena se abriram.

— Maddie! — Eu e minha mãe falamos juntas.

— Fiquem calmas, sou a doutora Samantha e essa pequena vai ficar bem — A médica falou com delicadeza enquanto colocava o estetoscópio sobre o pescoço.

— Kathy? Mamãe? Onde estou?

— Oi princesa. Você passou mal e te trouxeram para o hospital — respondeu a médica se aproximando da cama

— O que aconteceu com ela? Minha irmã vai ficar bem? — beijei a testinha de Maddie.

— Gostaria de falar com vocês em particular — Meu coração acelerou com as palavras da médica.

— Eu tô com medo — Maddie tentava segurar o choro.

— Não precisa ter medo, filha. Logo iremos para casa — Mamãe tentou tranquilizá-la.

— Isso mesmo, ainda hoje você irá para casa. Vocês podem vir comigo?

— Eu não quero ficar sozinha, mamãe.

— Pode ir, Katherine. Ficarei com Maddie.

Acompanhei a médica, que diferente dos outros que havia encontrado nas nossas idas hospitais públicos, era bem simpática e parecia realmente gostar da sua profissão.

— Sente-se — apontou para a cadeira assim que entramos em seu consultório.

— Estou bem assim. O que minha irmã tem? — perguntei sem rodeios

— Maddie teve um quadro de crise asmática, provavelmente desenvolvida pelo contato com poeira ou mofo, infelizmente o problema no coração também contribuiu — A palavra mofo fez meu sangue congelar, o nosso apartamento estava repleto dele. Fui tomada por um sentimento de impotência e tive que fazer um grande esforço para não chorar, eu havia chegado a Nova York sonhando com uma vida melhor, mas tudo se tornou um pesadelo.

— Ela poderá ir para casa hoje, vou passar alguns medicamentos e uma bombinha que ela deve carregar sempre e usar ao perceber que uma crise irá se iniciar — Ela fazia anotações enquanto falava — Devido ao histórico médico de Maddie, o cuidado deverá ser dobrado

— Entendo — assenti, pegando o papel.

— Vou liberá-la para que vocês possam ir para casa.

Eu olhava a lista de medicamentos enquanto esperava Maddie ficar pronta para irmos embora. Não conseguiria pagar o aluguel mais uma vez e o desespero tomou conta do meu coração fazendo com que o ar sumisse e minha cabeça ficasse zonza.

— Kathy — Maddie caminhou em minha direção me abraçando em seguida.

— Você está bem? Que susto me deu, mocinha — fiz carinho em sua cabeça.

— Vai ficar tudo bem, filha. Vamos para casa — disse mamãe se juntando a nós no abraço.

Não conseguia dormir, velei o sono de Maddie a noite toda enquanto tentava pensar em uma maneira de conseguir algum dinheiro para que pudesse pagar o aluguel. Tudo que eu havia economizado foi para os remédios de Maddie e com isso as palavras de Lissa não saiam da minha mente.

— Talvez não seja tão ruim assim — falei baixinho.

Lissa parecia muito feliz com o novo trabalho e se eu realmente ganhasse o que ela disse que ganhava, poderia pagar o aluguel e todos os remédios, talvez até juntar dinheiro para conseguir continuar o tratamento de Maddie e levar mamãe à um especialista. Mesmo sendo desajeitada e não levando jeito algum para dança, eu iria arriscar, não me faria mal tentar.

Estava ansiosa pela chegada de Lissa, que hoje se atrasou mais que o normal. Eu servia os cafés sem tirar os olhos do relógio, queria que chegasse logo para que pudesse falar com ela.

— Gatinha, bom dia — Lissa passou me dando um beijo na bochecha.

— Lissa! Mais um atraso e vou ter que demiti-la! — David, nosso gerente, gritou sendo ignorado por Lissa.

Fiquei aliviada ao vê-la, não via a hora do nosso intervalo chegar para que pudéssemos conversar.

Logo que David nos liberou para o intervalo, corri na direção de Lissa antes que ela saísse para fumar.

— Lissa... espere — segurei seu ombro.

— Fala, gatinha. Que olheiras são essas? Parece que teve uma noite agitada — pegou um cigarro na bolsa.

— Minha irmãzinha passou mal, passei quase a noite toda no hospital.

— Meu Deus, sinto muito! O que ela tem? Eu posso ajudar?

— Ela teve uma crise de asma causada pelo mofo daquele apartamento — tentei segurar o choro, pensar sobre tudo aquilo não era fácil.

— Eu sinto muito, Kath. De verdade — Me abraçou.

— Tudo bem — Me soltei do abraço secando as lágrimas teimosas que escorriam pelo meu rosto — É sobre o seu trabalho, acho que eu poderia tentar.

— Você tem certeza? — levantou a sobrancelha — Digo, você iria arrasar, ainda mais com esse corpo — assoviou.

— Eu que tentar. Você vai comigo?

— Claro. Você não vai se arrepender — falou me abraçando. Eu estava disposta a qualquer coisa para mudar a vida das pessoas que mais amava no mundo.

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