CAPÍTULO 2

Ao chegar em casa, se atirou no sofá com a face virada para o assento, como se quisesse se sufocar.

- NICK! É VOCÊ?!

- Mmm-mmm – respondeu com a cara ainda enterrada na almofada. Sua mãe veio da cozinha enxugando as mãos.

- Filho?! Algum problema? – ajoelhou-se na direção do rosto de Nick, entre o sofá e a mesa de centro. Ele virou o rosto e a olhou nos olhos. – Oh-oh... eu conheço esse olhar. O que te fizeram dessa vez?

- Dessa vez foi o que fiz à mim, mãe. Aceitei ser tutor de um cara que...

- ...que você está apaixonado. – Nick enfiou a cara novamente na almofada e a esmurrou. Sophia riu. – E isso vai ser um problema exatamente por quê?

- Por onde começar? – Sentou-se tirando os tênis com os pés e cruzou as pernas. – ele é um dos atletas-estrela do Sr. Dodgeson, super-popular...

- Humm... é um dos rapazes que costumam te perturbar?

- Felizmente não. – sorriu sem jeito. – mas isso leva a outro problema: ele vive cercado desses idiotas, acho que alguns deles são até amigos dele... ele mesmo nunca me tratou mal.

- Eu ficaria realmente preocupada se você tivesse um “crush” por um dos “bullies”.

- Isso não, por favor, nem conseguiria chegar perto de um imbecil desses. – Nicholas respirou fundo de novo.

- Se você continuar se cuidando como tem se feito, não vejo ainda o problema... é uma chance de você se aproximar dele, não é?

- Mãe, você não entendeu nada?! Ele é hétero. Estrela do time de futebol americano da escola, recém nomeado quarterback titular e capitão. Sem chance dele ser gay.

- Tem certeza? – a revirada de olhos característica do adolescente quando os pais não entendem uma coisa que deveria estar na cara.

- É o Philip, mamãe...

- Oooh! Agora eu entendi. Seu “crush” mais antigo.

- Oi?!

- Filho, você realmente ainda acha que consegue esconder alguma coisa de mim? Acha que eu nunca percebi a forma como você olha para ele?

- Eu dou tão na cara assim?!

- Nãããão, imagina. Toda vez que passamos na frente da casa dos Miller você olha para lá, consegue ser mais discreto quando Philip está à vista, mas quando ele está dentro de casa ou no quintal de trás se seu pescoço esticasse, hoje você seria uma girafa.

Nicholas ficou vermelho. A porta de entrada da casa se abriu e um homem entrou já falando.

- Ah! E nas vezes que a gente encontrou com eles na pizzaria e no festival anual. – Completou Joshua, o pai, largando as chaves do carro e a pasta no criado mudo na entrada da casa. – Nossa. Não sei como os pais dele não perceberam ainda.

De vermelho passou para roxo.

Sophia explicou tudo para o pai enquanto Nick afundava o rosto em sua almofada preferida.

- Filho, olha pra mim. – Nicholas olhou por cima da almofada, só deixando aparecer os olhos. Os pais riram da figura, parecia ter sido tirado de um desenho animado. Os olhos azuis arregalados com as pupilas dilatadas, os cabelos loiros desarrumados. – Pelo que eu vejo, tem duas saídas: arrumar outro tutor para ele ou engolir a seco e encarar o problema. Vai que ele se revele bissexual?

- Duvido muito. – sussurrou desanimado.

- Se acha que não vai dar conta, passa a bola para outra pessoa.

- Trocadilho de esportes comigo? Tem certeza, pai? – Joshua deu de ombros, bagunçou ainda mais os cabelos do filho e se levantou.

- Independente de qualquer coisa, você sabe que tem nosso apoio. E se ele se mostrar um babaca...

- Josh! – Sophia alertou sobre o linguajar, que respondeu com um muxoxo e repetiu.

- Se ele se mostrar um babaca, conte comigo. – Nicholas abraçou o pai.

- Obrigado. Não sei o que seria de mim sem vocês.

- Sendo bem direto, não seria... você nem existiria. – o filho revirou os olhos de novo.

- Vá tomar seu banho, a janta já está quase pronta. – ordenou a mãe voltando para a cozinha abraçada com o marido.

O relacionamento entre os Coleman só não era tão harmônico quando o mais velho estava em casa. Ele vivia implicando com Nicholas pelo fato de ser gay principalmente, e era o único que não aceitava de jeito nenhum. Nem mesmo o avô deles: Perry, era contra.

Brad recentemente havia se mudado para Europa por conta do trabalho e era quinze anos mais velho que Nicholas e quase vinte que o mais novo James. Tinha uma carreira bem estabelecida como comissário de voo nas principais rotas da Europa e Ásia. Mas escondia o fato de ser frustrado por não ter conseguido se tornar piloto, nem nas forças armadas.

Quando Nicholas contou para a família em um almoço de domingo sobre gostar de outros garotos, Brad fez um escândalo. Ficou meses sem sequer ligar para os pais.

- Isso é um absurdo! Como vocês podem apoiar uma aberração dessas? Se fosse meu filho eu o colocaria numa clínica para arrancar essa doença dele! – falava aos berros, Joshua se levantou e encarou o filho com uma fúria jamais vista por nenhum deles na ocasião e bateu os punhos na mesa.

- Não estou nem aí para suas ideias do século passado, Brad Coleman. Em primeiro lugar respeite sua casa, sua mãe, a mim e seus irmãos e abaixe seu tom de voz, isso aqui não é uma boate de quinta categoria. – não gritou como o primogênito, mas sua firmeza fez até uma mosca voar sem fazer um ruído. – em segundo lugar não existe lugar aqui para esse tipo de comportamento. Discurso de ódio, retrógrado, desrespeitoso, infundado, desumano. Seu irmão não merece esse tipo de tratamento de nenhuma pessoa, muito menos e principalmente de você!

Brad chegou a abrir a boca para retrucar, mas com apenas um gesto o pai o fez desistir.

- Absurdo é tratar qualquer pessoa dessa forma, incluindo Nick. Seja gay ou qualquer outra pessoa, nós o ensinamos a ser melhor que isso... MUITO melhor que isso. Sabia que muitos dos meus amigos que frequentam essa casa são gays e chegam aqui com seus parceiros e até filhos? Um deles você chama de tio até hoje, então pare com esse comportamento idiota. Não concorda com isso? Você já é maior de idade e trabalha, pode muito bem se sustentar, arrume suas malas e saia. Mas aqui dentro, se não é capaz de amar seu irmão, ao menos o respeite. Jamais vou aceitar qualquer um de vocês se tratar de uma forma dessas ou pior. Fui bem claro?

- Mais claro impossível. – respondeu entre os dentes.

- Agora peça desculpas ao seu irmão e tome a decisão que quiser depois. Mas lembre-se que se decidir ficar vai ter que engolir essa porra desse comportamento.

Brad olhou para a mãe. Mesmo com as lágrimas rolando olhou sério para o mais velho.

- Estou com seu pai nessa, Brad. Nunca me senti tão decepcionada com ninguém como estou agora com você.

O rapaz saiu da sala bufando, subiu as escadas e bateu a porta do quarto. Sem pedir desculpas ao irmão. Sophia e Joshua abraçaram Nicholas na mesma hora.

- Não se preocupe, filho. Sempre estaremos do seu lado. E você não está doente, nem pense em ficar com isso na sua cabeça, continue sendo a pessoa linda e doce que sempre foi.

No meio da madrugada Brad colocou suas malas no carro e foi para um hotel sem falar com ninguém. Ligou apenas no dia seguinte para avisar à mãe que ficaria uns dias na casa de uns amigos em Nova Iorque até conseguir um lugar para ele, mas eles ficariam um tempo sem se ver até que ele conseguisse processar melhor tudo.

Tudo isso aconteceu dois anos antes, na época Nicholas estava prestes a completar 14 anos, Brad já tinha quase 30 e, como trabalhava viajando, continuava ainda morando na casa dos pais, ficava mais na Europa que em casa.

Sempre que algo que Nick considerava como ruim acontecia ele repassava esse momento na sua cabeça. Mesmo assim ele não sentia raiva do irmão, mas também não se dava bem com ele de qualquer forma.

Ele considerava esse dia como o melhor e o pior dia da sua vida.

Depois disso, o clima em casa foi aos poucos se ajustando.

Sophia e Joshua se casaram em segredo logo depois do baile de formatura em Las Vegas, ambos com 18 anos recém completados. Brad nasceu exatos nove meses depois. Depois de incontáveis tentativas desistiram de ter o segundo filho.

Foi exatamente quando Sophia engravidou inesperadamente. Brad completou 15 anos, meses depois veio Nicholas. E ainda mais inesperado foi quando descobriram que Sophia estava grávida novamente, quatro anos após, de James.

O único que puxou as características físicas do pai foi Nick. Loiro, cabelos levemente ondulados, olhos de um azul tão forte que as pessoas juravam que era lente de contato. Tinha um rosto belíssimo e um físico que, se bem trabalhado, poderia lhe render uma vida de modelo, no mínimo.

Seus irmãos tinham os cabelos mais escuros, e olhos castanhos. Brad, por conta das atividades esportivas na época de escola, os preparatórios no alistamento militar, o período na Marinha, tinha um físico forte. Além de tudo, solteirão convicto. Dizia para todos que quisessem ouvir que jamais iria se casar e ter filhos.

“Do jeito que ele é, é um objetivo de vida bem fácil de atingir.” – pensava Nicholas.

James tinha praticamente entrado na adolescência. E, com todo típico adolescente, estava passando por transformações. Porém não deixava de ser uma criança/adolescente agradável de se ver, de olhar doce, porém era o mais perspicaz dos cinco, mesmo ainda tão novo. E de todos, é o que menos gosta de Brad.

Depois do jantar, Nicholas não precisaria cumprir com as atividades extras dos professores, ele sempre aproveitava as tutorias enquanto seus “alunos” estavam fazendo os exercícios para resolver os seus. Aproveitava para jogar um pouco em seu Playstation ou lia algum livro até pouco antes de dormir, quando ficava na penumbra deitado em sua cama trocando mensagens pelo celular com Lance e Isis.

Tradição que não se perdia em nenhum dia, principalmente depois que Isis se mudou para a escola deles.

Bunny

Cara, queria ter pais como os seus.

Peanut

Tá reclamando de quê, Bunny? Seu pai e sua avó são sensacionais!

Bunny

Não estou reclamando... mas você tem os seus para conversar. Meu pai não sabe como conversar comigo. Palavras dele. Coitado, ele tenta, mesmo com suas limitações. Vive dizendo que gostaria que minha mãe ainda tivesse viva “Ela saberia te ajudar melhor que eu”, ele diz. E minha avó apesar de me apoiar e tal, ela ainda vive no passado. Ainda tem esperança de que isso seja uma fase.

Bunny

Mudando a rota, por gentileza, muito obrigado: E aí, como você acha que vai ser?

Peanut

Tirando o fato de estar a poucos centímetros do objeto de desejo de mais da metade da escola? Vááárias vezes por semana.

Bunny

Você não está facilitando em nada, Peanut. [emoji zangado]

Nick

Não. Não está mesmo. [emoji triste]

Peanut

Desculpa, mas eu aproveitaria mais do que ficaria preocupada. Ele é realmente lindo, pelo menos vai ser menos sofrido do que ficar olhando para um Gollum.

Bunny

Isso é. Mas eu não sei se eu aguentaria também. Acho que no primeiro dia eu já ia colocar minhas mãos naquelas coxas fortes... ai ai...

Nick

Kkkkkk. Só você mesmo, Bun. Espero ter forças para me segurar e não ficar dando mole.

Peanut

Hahahaha... esse navio já zarpou, querido. Dar mole pro Phil é o que você mais faz.

Bunny

Né?! [emoji diabólico sorrindo]

Nick

Não posso com vocês. Eu queria saber o que se passou na cabeça do Phil quando a bibliotecária apontou pra mim. Sabe quando você reza para não ser verdade e ser ao mesmo tempo? Se vocês tivessem lá eu ia pedir para vocês me beliscarem.

Bunny

Aposto que foi: “Uau! Vou ficar com o nerd mais lindo da escola!” [emoji sarcasmo] “vou me dar bem!”

Peanut

Tô começando a achar que vocês dois deviam ficar juntos. [emoji gargalhando]

Nick

C TÁ LOUCA!

Bunny

C TÁ LOUCA!

Responderam ao mesmo tempo.

Peanut

HAHAHAHAHAHAHAH

Nick

A ideia pode ser interessante, Pea. O que acha, Lance?

Bunny

Amores meus. Por mais que eu ache você bonitinho, gosto demais de você para perder a sua amizade, sou muita areia para o seu caminhão... e além do mais, Nick não faz o meu tipo. Nerds... Eca! [emoji vomitando]

Peanut

O sujo falando do mal lavado... MAASSS Repetindo a pergunta lá do Bun, Nick. Como você acha que vai ser? Acha que dá conta?

Nick

Tenho que dar conta ou, como disse meu pai, passar a bola.

Bunny

Anne vai amar você entregando Philip de bandeja pra ela.

Nick

[emoji zangado] Falando nisso... pode ser que eu esteja enganado, mas eu acho que ela gosta de outra pessoa, Phil não despertaria nada nela.

Bunny

I-M-P-O-S-S-Í-V-E-L, Nick! Até a loira do banheiro tem um abismo pelo super-gostoso-Philip.

Peanut

E quem seria?

Nick

Ela já deu umas dicas, mas até agora não consegui perceber quem seria.

Peanut

Normalmente as pessoas que são o alvo não percebem. [emoji diabólico sorrindo]

Nick

Essa foi a deixa... vou dormir. A gente se vê amanhã.

Bunny

Daqui a pouco, você quer dizer, né? Já passa de 1 da manhã.

Trocaram mais alguns emojis. Nicholas colocou o celular para carregar, virou para o lado e fechou os olhos.

Prenderam as bicicletas no lugar de sempre e, por ser uma sexta-feira, todos estavam animados. Final de semana chegando, festival anual da cidade se iniciaria no sábado com a abertura do parque de diversões itinerante e perduraria por três semanas, mas quem estava com um mix de sensações totalmente opostas era Nicholas.

Seria a primeira aula com Philip. Apesar do nervosismo, conseguia disfarçar habilmente em meio a brincadeiras ou apenas mantendo-se quieto por alguns instantes quando sentia que estava perdendo o controle.

A grande sorte na visão dele é que raramente eles se esbarravam antes do terceiro período. E nesse dia não foi diferente, muito embora a bicicleta do quarterback já estivesse presente no estacionamento.

“Não quero pensar nisso... não quero pensar nisso... não quero pensar nisso.” Repetia mentalmente como um mantra, porém o resultado era exatamente o oposto.

- Pelo amor de Deus, precisamos conversar sobre qualquer coisa fora do assunto do momento entre nós ou eu vou enlouquecer. – pediu para os amigos.

- A gente podia pegar um cinema hoje mais tarde, o que acham? – sugeriu Isis.

- Pra ver o quê?

- Qualquer coisa que ajude ele a relaxar depois da tensão. Acha que vai ter ânimo, Nick? – Isis e Lance olharam em volta e notaram que Nick estava caído no chão. Seus cadernos espalhados no chão. – O que aconteceu?

Nick fez um muxoxo exagerado.

- O que vocês acham que aconteceu? – Se ajoelhou juntando os cadernos, Lance e Isis ajudaram ele. – Timothy aconteceu... como sempre. E eu nunca aprendo a desviar.

- Como se isso adiantasse. – murmurou Lance.

Timothy, ou Timbo como seus parceiros o chamavam, era o principal bully valentão da escola. Vivia acompanhado por um grupo grande, todos atletas de White Oak dos dois times, tanto do futebol americano quanto do basquete.

Era um rapaz corpulento, central principal apesar do seu tamanho e “quarterback” substituto oficial de Philip por causa da sua visão e senso de localização em jogo. Às vezes, por conta de sua força, atua na primeira linha. Tinha tudo para se tornar o quarterback do time se não fosse seu temperamento, mas tinha liderança como poucos, isso nem mesmo o treinador Dodgeson podia negar.

A turminha de Timothy olhava à distância, junto com ele, rindo como sempre.

- Isso já está tão repetitivo, como é que eles conseguem achar graça toda vez?

- Pea, desde quando a gente consegue entender a mente desses acéfalos... – Nick viu Philip chegar perto de Timothy. Seu estômago colou nas costas. Timothy apontou na direção de Nick ainda se levantando e Phil deu um riso sem graça e claramente pediu para o “amigo” sossegar. – Cada vez que vejo Philip junto deles acho que o que estou fazendo é loucura. Eu devia já passar ele para Anne e talvez até desistir da tutoria. Tô ficando cansado de ficar aturando essas merdas.

O ânimo dos três despencou. Nicholas abriu seu armário, socou o material que não utilizaria dentro, sua mochila e retirou somente o que precisaria para os próximos períodos antes do primeiro intervalo. Bateu a porta do armário com uma força desproporcional, assustando os outros ao lado.

- O que aconteceu, pessoal? – Anne chegou preocupada. – Eu vi você caído no chão... O que Timbo fez dessa vez?

- Um idiota colocou a perna atrás de mim e Timothy me empurrou contra, não tive como nem em quem me segurar.

- Você está bem? – Ela ajeitou a camisa de Nick e os cabelos dele. Ele tirou a mão dela suavemente de seus cabelos.

- Fisicamente ou emocionalmente? Porque minha dignidade já acabou faz tempo.

- Ambos.

- Nada fora do normal fisicamente, acho que meu corpo já está acostumado às porradas, tombos, esbarrões... e, emocionalmente... – encarou Timothy de longe e mostrou o dedo do meio. O bully imitou exageradamente um gay rebolando e batendo na própria bunda. – estou puto.

- Em outras palavras... nada fora do normal. – Lance puxou o amigo pela manga da jaqueta. – Vamos pra aula.

☆☆☆

Phil olhou para Nick desanimado e se alguém tivesse prestando a atenção nele perceberia que ele ficou chateado com a situação.

- Isso já tá ficando sem graça, Timbo. – Philip virou-se para o bully. – para de implicar com os caras. Se você agisse diferente teria sido escolhido como quarterback.

- Ah fala sério, Super! Nunca vai deixar de ser engraçado. E, temos que mostrar quem é que manda no pedaço aqui, essa bichinhas acham que podem tudo, só porque o diretor é um frouxo e apoia todas as minorias. Isso é patético!

- PATÉTICO É VOCÊ, SEU MERDA! – gritou um dos rapazes do grupo dos roqueiros. Timothy e mais quatro correram na direção dele, que saiu correndo na direção oposta com o resto dos seus companheiros, puxando as outras pessoas para atrapalhar o caminho de Timbo.

- VOU TE MOSTRAR O PATÉTICO! – gritou de volta no encalço dos roqueiros.

- Não consigo entender o Timbo. – Ryan, amigo de infância de Philip, não era atleta de nenhum dos times, mas pouco se importava com o que acontecia. Era um dos que acompanhava o grupo dos mais populares, apenas para não sofrer as consequências de estar em um dos outros grupos.

- E tem o que entender, Ry? Ele tem o dinheiro e a proteção do papai podre de rico, mamãe que o mima. O que mais tem pra entender?

- Pois é... Como você consegue fazer ele obedecer a suas ordens em campo? – Philip deu um risinho de canto de boca.

- Deixo ele pensar que foi ideia dele. Aprendi isso com o treinador ano passado.

- Brilhante tática. Tenho que ir, nos encontramos para ir pra casa juntos?

- Hoje não, começo minhas aulas de apoio com o tutor hoje.

- Numa sexta-feira?!

- Pois é, não sei o que me deu, eu devia ter marcado só para segunda, mas sei lá... enfim, vou ter que comparecer, né?

- Beleza então. A gente se vê mais tarde então. Ainda vai lá pra casa de noite?

- Claro! Ainda estou devendo ao seu pai uma revanche na sinuca.

☆☆☆

A hora da primeira aula com Philip se aproximava e o estômago de Nicholas dava voltas. Estavam apenas no intervalo do almoço.

Nick brincava com a comida no prato, e nem tocar na lata do iced tea ele tocou. Ouvia um monte de “blá-blá-blá” e sua cabeça estava na ansiedade da aula que teria que dar para seu maior crush. Ou melhor, para o maior crush de toda White Oak High.

Em sua mente vinha somente imagens em câmera lenta, exatamente do jeito como ele viu, do momento em que a bibliotecária apontou para ele, Philip virou o rosto, ainda debruçado no balcão e se pôs a caminhar na direção dele, sua respiração parou quando relembrou olhar para o rapaz de baixo até seu rosto e viu o sorriso dele.

“Respira, Nick.” – se deu conta da respiração e puxou ar como se tivesse se afogando.

- Nick?! Você tá bem? – Lance sussurrou no ouvido dele.

- T-tô... só fiquei perdido em pensamentos e acabei ficando sem ar.

- Vem comigo. – olhou para o relógio. Não tinha passado nem 15 minutos do início do intervalo. – Meninas, com licença, preciso da ajudinha do Nick com uma coisinha.

Se levantaram juntos, levaram suas bandejas até a esteira. Lance pegou a lata da bebida de Nick ainda lacrada e o puxou para o lado de fora da escola. Vários estudantes preferiam fazer suas refeições do lado de fora, passaram por todos eles, e Lance ainda puxando Nicholas.

- Aonde você tá me levando, Bunny?

- Cala a boca e só vem. – Cruzaram pelo campo de futebol da escola, em direção à pequena parte da reserva florestal que ficava próxima da escola, passaram por baixo da grade cortada com cuidado.

Atravessaram por uma trilha bem desenhada, vários alunos usavam aquele caminho para matar a aula.

- Eu não posso matar aula hoje, Lance! É sério!

- Não vamos. Eu também não posso. Confia em mim. – caminharam mais um pouco e chegaram em uma clareira. – Agora, ou você desembucha tudo que está entalado ou dá um berro, porque não vou deixar você sair daqui sem fazer uma coisa ou outra. Essa sua crise de ansiedade tá começando a me afetar!

A irritação de Lance assustou o amigo.

- Bunny... – sentiu os olhos enxerem d’água. – Não estou com coragem para fazer nenhuma das três coisas.

- Três? Te dei duas opções, criatura. – Nick revirou os olhos. – Ah, tá... encarar Phil. Ele é só um garoto como muitos outros.

Lance abraçou Nicholas.

- Pra quê essa tensão toda? O que você sente pelo Philip é muito mais que só um crush, né? – olhou dentro dos olhos do amigo, que só balançou a cabeça afirmativamente. – Eu já sabia, só queria que você admitisse isso de uma vez por todas.

- Obrigado.

- Pelo quê?

- Por ser meu melhor amigo.

- Vamos. Para com essa melação aqui senão sou eu quem vai acabar chorando. Mas você está me devendo um berro.

- Haha... ainda não vai ser dessa vez, e além do mais você me deu duas opções, eu contei o que estava me incomodando. Agora podemos voltar pra aula.

- Tá certo... Toma. Bebe pelo menos isso.

Tomaram o caminho de volta, passaram por alguns alunos que estavam claramente fugindo das aulas. Quando chegaram no campo, avistaram Timothy e outros três entrando na cabana do material esportivo próxima.

Se entreolharam, e aproveitaram que nenhum deles tinha notado sua presença e correram como se suas vidas dependessem disso até o prédio principal.

- Se eu sobreviver a esse ano e ao ano que vem, estarei preparado para um apocalipse zumbi. – falou Nick praticamente sem fôlego.

- Você precisa se exercitar, amigo. – Nick deu um empurrão em Lance com o pouco que força que ainda restava.

Ao cruzar a porta da biblioteca, Philip já estava sentado no mesmo lugar em que ele o encontrou no dia anterior, aguardando por ele.

“Seja o que os Deuses quiserem.”

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