CAPÍTULO 1

- Para de encarar. – o rapaz sentado à sua direita de óculos escuros comendo um sanduíche integral o alertava.

- ...

- Nick... para de encarar. – a menina à esquerda repetiu. Essa apenas bebia um shake de proteínas vegana

- ...

Ambos deram um tranco ombro com ombro nele e finalmente saiu do transe. Percebeu que estava segurando sua lata de Pringles semiaberta, e um copo de suco natural de laranja meio tombado já pingando nos seus pés.

Os três inseparáveis mosqueteiros estavam sentados na arquibancada externa, no intervalo das aulas, como muitos faziam, para a dose diária de vitamina D, lanchar, paquerar, jogar conversa fora e relaxar antes de retomar as aulas em 30 minutos.

- Qual foi a de vocês dois? – Nick fingiu estar irritado.

- Você estava encarando de novo. – responderam juntos.

- Não estava não. – retrucou sem graça, olhando de rabo de olho para o jovem que corria com uma bola de futebol americano, jaqueta do White Oak Red Coyotes, time oficial da escola, jeans apertado mostrando o contorno de toda a musculatura das pernas. Suspirou no momento que ele jogou a bola para outro colega e tirou a jaqueta, mostrando estar usando uma camiseta super cavada mostrando sua musculatura das costas, parte do peitoral e seus braços.

- Está encarando de novo. – Nick deu um risinho.

- Olha isso, Bunny! Não tem como não ficar hipnotizado por esses cabelos negros e esses olhos esverdeados. – Bunny era o apelido de Lance Barnes, o rapaz loiro sentado ao seu lado. Se conheciam desde a época do jardim de infância e sempre foram amigos. Foi gesticular para o amigo que o objeto de observação olhou na direção deles, fazendo se atrapalharem para disfarçar.

O garoto dos perfeitos cabelos negros riu discretamente e continuou jogando bola com seus parceiros de time.

Lance baixou os óculos de sol até a ponta da nariz e olhou com desdém para o amigo por cima deles.

- Sei muito bem que é o cabelo perfeito e os olhos que estão te chamando a atenção.

- É tão óbvio assim? – respondeu sarcasticamente. – O que eu posso fazer?

- Esquece ele, pelo amor de Deus, Nicholas. Você é gay, ele é claramente hétero. Receita perfeita e infalível de catástrofe emocional.

- Bunny, não sei se é tão preto no branco assim. De todos os machões alfa do time, ele é o único que trata todo mundo com respeito e simpatia. Nunca vi Philip fazendo as coisas que o Timothy costuma fazer com os novatos, com a gente, com os nerds... enfim, vocês entenderam. – só de relembrar as coisas ela deu uma tremida nos ombros.

- E desde quando isso quer dizer que ele não é hétero, Peanut? Na minha opinião ele só parece ser uma pessoa mais evoluída no meio de um bando de neandertais. – se viraram para Nick ao mesmo tempo esperando uma resposta dele e reviraram os olhos.

- NICHOLAS! – gritaram juntos, o jovem levou um susto deixando o copo de suco cair no chão, molhando os três.

- Tá bom! Vamos para outro lugar assim paro de encarar. – Ele se levantou fechando a lata da batata sem ao menos terminar de abrí-la, socando-a dentro da mochila. Seu olhar se fixou de novo no jovem Philip, que olhou de volta e deu um sorriso simpático e discreto.

Se dirigiram para outro lugar. Lance roubou o guardanapo de Isis e limpou suas calças e tênis.

- O que eu posso fazer se Phil Miller é lindo? Não tem como não me imaginar estando com ele.

- Ha! Você e a escola inteira! Conhece ele a quanto tempo mesmo, Nick?

- Até onde me lembro ele sempre foi o garoto da casa 95. Ele é só alguns meses mais velho que eu. A gente sempre se esbarrou e se esbarra pelo condomínio, mas nunca passamos de um cumprimento à distância, mesmo quando éramos mais novos. Chegamos a ir em alguns aniversários um do outro quando criança. Acho que nossos pais faziam isso por pura cordialidade, ou para tentar fazer a gente se enturmar talvez.

- Ou as duas coisas. – “Peanut”, para os íntimos, porém Isis para os outros, chegou até eles completando. – Seus pais sempre reclamaram que você passa muito tempo dentro de casa.

- Não consigo entender os pais, sério! Se a gente fica o dia inteiro na rua com amigos, somos candidatos à delinquência juvenil, se ficamos dentro de casa e não causamos nenhum tipo de problema, somos depressivos e precisamos nos enturmar.

- Na verdade o que eles querem é um equilíbrio entre as duas coisas. – os garotos olharam com desdém para a amiga.

- Peanut, é sério isso?! Meu pai e minha avó vivem reclamando que eu fico muito tempo na rua. E olha que eu só faço academia e vou pra casa do Nick eventualmente.

- Todo dia, Lance. – Nick corrigiu provocando-o.

- Está te incomodando, Sr. Coleman? Posso arrumar outro passatempo em outro lugar. A cidade não é tão pequena assim.

- Sabe que não, Bunny. – deu um leve esbarrão no braço do amigo com um sorriso doce no rosto. – Aliás... Isis, fala de mim, mas a senhorita também está bem distante. Aconteceu alguma coisa?

- Claro que aconteceu! Ainda bem que perguntaram...

- Como se você já não fosse falar de qualquer jeito. – Lance murmurou. Nicholas não teve como segurar o riso. Ela lançou um olhar fulminante para os garotos.

- Ok. – e se calou.

- Deixa disso, Isis, conta logo. – os garotos fizeram cara de cachorro pidão para ela.

- Kane me convidou para ir ao cinema.

- Pera... “O” Kane, tipo o mega-gostoso-do-grupo-de-teatro-Kane? – Os olhos de Lance estavam prestes a saltar do rosto.

- Quando isso aconteceu?

- Enquanto vocês estavam perdidos olhando para o senhor cabelos perfeitos e olhos verdes, eu estava trocando mensagens com ele. – mostrou a tela do celular na mensagem do W******p que ele convidava ela para o cinema.

- Uau!... mas... – Nick deslizou a tela e viu a mensagem onde ela não aceitava o convite. – Definitivamente você é maluca! O que deu em você, mulher?! Gosta dele a tanto tempo e vai se negar a encontrar com ele? Me dá um bom motivo pra isso?

- Fala sério! – Sem acreditar, Lance arrancou o celular da mão da amiga e leu as mensagens.

- Não posso facilitar as coisas assim não! – Isis ia começar a explicar sua tática.

- Minha amada Peanut, senta aqui. – Nick deu uns tapinhas na mureta onde ele mesmo estava sentado. – Pessoas como nós, nessa escola não podemos desperdiçar oportunidades como essa. Conhecendo você como eu conheço, você já está se sabotando. Tá com medo de quê?

- Que ele esteja de sacanagem com ela, só pode ser! Ou vamos ter que internar, porque o caso é mais grave... me ajuda aqui, Nick! – Lance estava indignado.

- Não quero acabar sendo só usada para uma noite ou como plano B. Eu realmente gosto dele.

- E como você sabe que vai ser plano B ou só uma ficada se não se encontrar com ele? – Lance discretamente deu dois tapinhas no amigo e fez sinal com a cabeça. Nick levantou o olhar e saiu da mureta. – Sua oportunidade de consertar essa merda está vindo. Se recomponha e depois nos conte TUDO!

- Não se atrevam a me deixar sozinha a....... oooo-oi Kane. – Isis ficou desconcertada.

- Oi K. – Lance o cumprimentou com um aceno de cabeça.

- Até mais tarde, Pe... Isis. – Nick quase falou o apelido que eles usavam somente entre eles na frente do outro rapaz. Apertou a mão forte do considerado maior galã de todos os tempos da White Oak High e saíram na direção do prédio. – Tomara que ela perca o medo.

- Se ela não perder, juro que eu vou dar na cara dela.

- Até parece, Bunny. É mais fácil você aproveitar a brecha e dar em cima do Kane. – Lance deu um risinho forçado e depois soltou uma gargalhada. – Vamos pra sala logo, mas confesso que queria mesmo era ir...

- ... pra casa agora. – Lance exagerou na imitação do amigo. – Nick, meu querido, você é muito previsível.

- Espertinho, não é isso... hoje é dia de tutoria. Só vou pra casa mais tarde.

- Só você mesmo para se candidatar para ajudar as pobres almas perdidas.

- Não se esqueça que você de vez em quando é uma dessas almas. Eu gosto de ensinar e ajudar os outros, sabe disso.

- Quem sabe rola algo também com alguém, né?

- Nem que seja só uns beijos. – Nick completou. – Mas até agora foram só pessoas desesperadas por notas.

- Acho que precisa mudar sua tática. A gente podia tentar aquela boate qualquer noite dessas, ainda tem sua identidade falsa?

- Tá brincando? Ela está sempre comigo. – deu uns tapinhas no bolso de trás da calça, por cima da carteira. – Até que a ideia não é ruim.

Sentiu o estômago apertar. Lance percebeu o barulho que a barriga de Nick fez.

- Fica azarando os outros ao invés de comer, dá nisso.

- Como se não estivesse olhando para Phil também.

- Eu não! Na verdade, meus olhos estavam presos em outro alvo.

- Quem?!

- Não vou dar spoilers. – Nick cruzou os braços e contou mentalmente até três. Bunny revirou os olhos. – Me conhece bem demais, a intimidade é uma merda. É o Ferris.

- Mais óbvio impossível. – Nicholas mudou de direção nas escadas. – Vai aonde?

- Tutoria, esqueceu?

- Ah! Verdade, as pobres almas necessitadas. Nos vemos depois?

- E quando não nos vemos? – Lance deu de ombros e subiu as escadas.

Nicholas passou pelo seu armário, deixou sua mochila e pegou parte do material da tutoria e foi para a biblioteca.

As horas se arrastaram até as duas da tarde, faltava apenas mais meia hora para terminar seu horário na tutoria, e estava com seu último horário vago. Estava se levantando para pegar um outro livro para passar o tempo quando se deixa largar na cadeira.

Philip Miller acabava de entrar e caminhava de um jeito bem distinto, sexy demais para um adolescente. Ajeitou os cabelos, e se dirigiu até o balcão da bibliotecária. Trocaram meia dúzia de palavras e Nick apenas se aproveitou da posição privilegiada e da visão.

A estrela maior do time principal da escola realmente parecia ser algo vindo de outro planeta mesmo. Dava para estudar anatomia humana em cada centímetro de todo aquele 1,83 metros de altura. Os cabelos realmente chamavam a atenção, perfeito, cada fio no seu devido lugar em um corte asa-delta longo – devia ser um pecado mortal olhar para tamanha perfeição.

Ele nem parecia ser adolescente, não havia uma espinha, ou uma marca de nascença bizarra. Pele lisa e aveludada como a de um bebê. E os olhos, cor de mel que ficavam hipnoticamente verdes à luz do sol.

Até quando deixava a barba por fazer parecia desenhada. No momento estava com a pele lisa, nem um fio de pelo. O rapaz sabia se cuidar.

Phil debruçado no balcão alto deixava sua bunda ainda mais saliente que o normal, qualquer pessoa que prestasse um pouco a atenção nele veria que ele estava praticamente babando rios pelo quarterback dos Red Coyotes.

A simpática bibliotecária apontou na direção de Nick. Foi então que ele se deu conta. Uma onda de calor e nervosismo subiu por sua espinha.

“Pelo amor de Deus, não...” – Ajeitou os próprios cabelos loiros de uma forma que ninguém jamais entenderia e com as mãos trêmulas.

Tudo aconteceu dentro da normalidade, mas para Nicholas parecia uma eternidade torturante. Phil andou em sua direção, jogando a mochila de lado.

“Eu não... eu não... eu não... por favor, eu não...”

Cada passo parecia durar um século. Olhou como um escâner, dos pés até a cabeça, mas não olhou diretamente nos olhos dele.

“Ai... ai ai....”

- Oi, Nicholas. – não obteve uma resposta imediata.

- Oi, Phil... – sua voz saiu um pouco estranha, pigarreou. – em que posso te ajudar?

- Meio óbvio, né? – sorriu sem jeito, levando uma das mãos à cabeça, jogando o cabelo para trás, deixando a mão massageando a parte de trás do pescoço. O bíceps saltou aos olhos de Nicholas que engoliu a seco.

“O filho da mãe é sexy até envergonhado.”

- Então? – só então Nick percebeu que ainda não tinha feito nada mais que cumprimentar o colega/vizinho.

- Eh... Entãovocêprecisadeumtutorprateajudarcomasnotas. – falou tão rápido que nem parou para respirar.

- Bem, talvez não nessa velocidade toda, mas... é... o treinador me falou que como eu fui eleito o quarterback do time que eu teria que deixar de ser um aluno mediano e me esforçar mais, ser um exemplo para os outros, sabe? Você é um dos tutores, não é?

- Sou... sim. – Phil abriu um sorriso lindo. Nick tentou se segurar, sentou-se melhor e indicou a cadeira para que o outro se sentasse. – Como estão as suas notas?

- Bem, como eu disse, normalmente fico entre C e D, nunca achei que pudesse ser necessário mais que isso.

- Na verdade não é, mas os professores podem exigir um pouco mais dependendo do que eles julgam ser o melhor para seu futuro acadêmico. E o treinador disse qual seria o mínimo que ele exige para o seu caso?

- Ele diz que gostaria que eu conseguisse chegar a B, pelo menos.

- Em qual ou quais matérias você precisa melhorar?

- Todas?... é... basicamente todas... bem, exceto educação física que estou sempre com A+ – Nicholas respirou fundo e pegou o papel do boletim de Philip. O rapaz não era realmente de todo ruim, mas era exatamente como ele disse, era sim um aluno mediano.

“Receita para catástrofe...” – lembrou do que Lance havia falado mais cedo.

E não se referia às notas. Claro.

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