NADA SERÁ COMO ANTES
NADA SERÁ COMO ANTES
Por: Tatiane B Simões
Cap 01. Me deseje sorte, pai.

Olá, deixe me apresentar, Olívia Santiago, tenho 20 anos e sou estudante de veterinária. Tenho uma empresa que montei junto com minha irmã, Samantha, além das diversas lojas pelo mundo que meu pai nos deixou.

Samantha e eu fazemos artigos de festa, como para casamentos, aniversários, desde os arranjos até as vestimentas. Um dos meus dons é desenhar vestidos, assim como meu pai, que amava ver seus clientes vestindo suas amadas peças.

Hoje é o dia que tanto esperei: o meu casamento. Fiz cada detalhe do meu vestido de noiva, cada pedrinha colocada foi pensando na alegria do meu pai. Ficou exatamente igual ao desenho que ele me deixou, e quem olha diz que foi feito por ele. Foram 3 anos para que ele saísse daquele desenho que guardei como se fosse a joia mais rara. Mas para mim, uma joia não se compara com o valor que ele tem.

Meu pai era meu melhor amigo, seus olhos, sua postura durona, pra mim, ele era um super herói. Desde que ele faleceu, dentro do meu peito ficou um vazio enorme.

Meu noivo, Zaian, sempre foi meu melhor amigo desde a infância. Ele morava perto da fazenda que meu pai tinha, e nós nos tornamos amigos nas férias. Quando voltavam as aulas, nos víamos com mais frequência, pois ele estudava no mesmo colégio que eu. Ele é meu primeiro amor, com ele dei meu primeiro beijo. Zaian tem 23 anos e está se formando em advocacia, mas seu sonho é se tornar juiz. Sei que ele vai conseguir, nunca duvidei nem por um segundo de sua capacidade de crescer e realizar o que deseja.

Há cerca de 15 dias, descobri que estou grávida. Confesso que ter filhos agora não estava nos meus planos, mas se Deus quis nos presentear com essa dádiva, eu recebo de coração.

Estou grávida de 2 meses. Descobri por uma brincadeira com minhas amigas na faculdade, Emily e Adriana, que são como se fossem minhas irmãs. Crescemos juntas e aprontamos muito. Apostamos em fazer um teste de gravidez e falsificar o positivo. Iríamos deixar na cabine do banheiro da faculdade e assustar as alunas.

Onde estudamos é muito rigoroso com a disciplina dos alunos, mas não resistimos. Fizemos o teste, mas para minha surpresa, o meu foi o único que deu realmente positivo. Fiquei em choque por alguns segundos, até que entramos em uma comemoração tão grande que o diretor ouviu lá da sala dele.

Demorei alguns dias para assimilar que vou ser mãe. Ainda não falei para o Zaian, gracas ao conselho de Raquel, uma das minhas amigas, decidi fazer uma surpresa nos votos que venho ensaiando há meses. Pelo tanto que nos amamos, sei que ele vai ficar extremamente feliz.

Antes de ir para a igreja, vim no cemitério. Pode parecer loucura, mas esse é o meu refúgio há 5 anos. Toda vez que estou mal ou com algum problema, venho aqui conversar com o único que me entende. Aqui também conto meu dia, minhas novas amizades e, principalmente, quando a saudade aperta. Confesso que ela sempre aperta.

Sei que hoje é um dia de extrema alegria, mas esse vazio no peito me persegue4todos os dias. Acredito que pode ser por que hoje é o dia do meu casamento. Queria entrar segurando nos braços do homem da minha vida. Quando pequena brincava que ia me casar e que ele iria entrar de terno branco, como os príncipes das histórias que ele me contava antes de dormir.

Adorava provocá-lo, pois sabia o quanto ele ficava bravo com o Zaian. Ele dizia que ele não era para mim, que Zaian não era confiável. Eu ria, pois nenhum garoto era bom o suficiente e que só encontraria felicidade ao seu lado. Posso dizer que ele tinha razão, não pelo meu futuro marido, mas porque nunca mais fui feliz como antes.

No dia que descobri sua morte, foi um dos dias mais angustiantes da minha vida, minha mãe me entregou um desenho e, na carta que eu li, estava escrito que era o vestido de noiva que ele prometeu. E como não deu tempo dele fazer...

A sua perda me causou tanta dor que jamais imaginei que poderia passar. Todos os dias passo a mão na minha cicatriz e lembro que ele deu a sua vida em troca da minha. Tento honrar todos os dias os ensinamentos que ele me deixou, apesar de que nada mais é como antes.

Paro na frente do seu túmulo e coloco um buquê de flores de todas as cores. Ele sempre foi uma pessoa alegre, sempre com um sorriso tão lindo no rosto que, cada vez que venho aqui, fecho meus olhos e, por incrível que pareça, ouço sua voz cantando desafinado, sua risada que para mim era como música.

— Oi pai, olha, sua princesinha está pronta. — passo a mão sobre meu vestido nervosa. — Ah! Que saudade, meu pai. Como eu daria tudo para tê-lo ao meu lado... Pai, vim dizer que o seu netinho, daqui a uns meses, ele ou ela já está aqui, e sei que terá seus olhos, assim como eu. Vou ensiná-lo a ser pelo menos a metade do homem que você foi. Prometo, pai, trazê-lo para o senhor conhecer. — Sem conseguir segurar minhas lágrimas molham meu rosto.— Te amo, viu? Agora tenho que ir, porque Zaian deve estar me esperando.— Dou um sorriso lembrando do que ele falava.— Tá, eu sei que não gostava dele, mas saiba que ele me faz feliz. Me deseja sorte, pai... — passo a mão sobre sua foto e saio.

Entro no carro, limpando minhas lágrimas. Talvez nunca me acostume com a ideia de não tê-lo comigo. Sempre ouvi dizer que quando se perde alguém que ama, o tempo cura aquela dor da perda. Mas por que comigo não funciona? Poxa, poderia ter sido diferente. Eu poderia ter meu pai comigo.

Nunca vou me perdoar por ter matado meu pai.

Depois de alguns minutos, vou em direção à igreja. Chego e entro pelos fundos. Aqui estão todos os rostos que eu precisava para me acalmar, lavo meu rosto antes de começarem a fazer a maquiagem.

— Nem acredito, minha filha, que o grande dia chegou — minha mãe fala emocionada, sentando na minha frente.

— Ah mãe! Acho que estou vivendo um sonho, me sinto tão feliz que tenho até medo de acordar e perceber que realmente é um sonho.

— Para com isso, Zaian te ama.— Samantha fala se aproximando.— Nossa, irmã, você está incrível, dá até vontade de casar de novo.

— Como pode ter deixado o vestido idêntico ao que seu pai desenhou? — Minha mãe passa a mão no meu rosto, e vejo que seus lindos olhos estão vermelhos pelas lágrimas que ela tanto segurou. — Você me faz lembrar tanto dele.

— Não fica assim mãe, vendo o vestido tão igual ao que ele desenhou, é como se ele estivesse aqui me abraçando, lembra Samy, igual ele fazia conosco. — Meus olhos se encontram com os da minha irmã.

— Sim, nosso pai era incrível, nunca vou me conformar que ele mo... aiii — Samantha resmunga pelo leve tapa que minha mãe deu no seu braço.

— Está linda, minha filha, não importa onde ele esteja, sei o quanto está orgulhoso da mulher que você se tornou, que vocês se tornaram.

— Será que Zaian vai gostar do vestido?

— Não tem como não gostar, você está perfeita. — As duas falam juntas.

– Fico imaginando quando ele descobrir do meu netinho... — diz ela passando a mão na minha barriga.

Ja estava pronta, fico olhando no relógio da parede e percebo que duas horas se passaram e nada do Zaian chegar. Acho que eu já não tenho nem unhas mais. Estamos olhando no relógio sem parar.

— Onde está esse menino? O normal é a noiva atrasar, não o noivo.— Minha mãe fala frustrada.— E a Raquel, não vem mesmo?

— Não ela disse que estava resolvendo uns assuntos.— Olho novamente para o relógio da parede e suspiro nervosa.— Por quê ele não chegou ainda? Zaian nunca se atrasa, ele não iria se atrasar logo no nosso casamento.

Mais quinze minutos se passaram, me assusto com uma batida na porta, levanto ansiosa para ver se era minha sogra ou alguém para avisar que ele chegou, percebo que é o Pablo, melhor amigo dele. Minha irmã puxa ele pelo braço apressadamente, e encara seus olhos. Sinto que tem uns parafusos a menos nela.

— Minha nossa, como está perfeita. — ele diz, segurando minha mão e erguendo para que eu dê uma voltinha.

— Obrigada, Pablo. Ele já chegou? — pergunto com receio, já pensando no pior.

— Sim, boneca, acabou de chegar, mas não desceu do carro. Chamei ele, porém não me deu atenção.

— Deve estar nervoso, o coitado. Vai lá, filha, conversa com ele.— Minha mãe fala para Samantha.

— Tá bom, mãe. — Ela sai rapidamente. Me sento nervosa, estalando os meus dedos, mania que tenho quando estou a ponto de surtar.

Pablo vem ao meu lado, segura minha mão e tenta me acalmar.

— Fica calma, Olívia. O importante é que ele chegou. Deve ter acontecido alguma coisa no carro. Ele não ia atrasar sem ter um bom motivo.

— É né?— Falo tentando me convencer, olho para o Pablo por alguns segundos.— Nem lhe falei, mas está lindo de terno.

— O que eu não faço por você? Até me visto de pinguim.— Ele fala rindo.

— Haha.

Pablo por um tempo conversava só com Zaian, eles se conheceram com 6 anos de idade, praticamente crescemos juntos, mas não tínhamos muito contato. Ele se aproximamou tinha 15 anos, acabamos nos tornando muito amigos quando iniciei o ensino médio e também quando meu pai faleceu, ele foi um grande apoio. Pablo cresceu e se tornou um homem muito educado, pensa mais no bem-estar das pessoas do que no seu próprio. Se formou médico recentemente. Seu pai tem uma clínica particular. Eles são conhecidos no meio social.

Depois de quase querer sair pela porta e ver o que estava acontecendo, ela é aberta. Minha irmã entra, percebo que seus olhos estão vermelhos. Levanto rapidamente e vou ao seu encontro.

— O que foi, Samy? Por que está chorando?

— Livy. Ele quer falar com você. — sua voz sai trêmula. Fico encarando seus olhos, quase implorando para que me fale o que está acontecendo.

— Mas por que ele ainda não entrou?

— Fica calma, Livy. Vamos estar aqui te esperando.

— Tudo bem, vou lá, vão indo para a igreja. Ele deve estar querendo explicar o atraso, deve ser isso... — Falo me sentindo estranha. Saio de lá sem encarar ninguém, falando para mim mesma que era só isso.

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