Adrielle HaleSuspiro quando me dou por vencida. Abaixo a cabeça e fecho os olhos, sabendo que talvez não seja uma boa ideia, mas irei jantar com velhos amigos. — Está bem. — Digo, em um tom baixo.Levanto a cabeça e a olho. Lyla abre um sorriso vencedor outra vez, como se ela estivesse ganhando batalhas da Roma antiga. — Vou falar com Abby. Talvez queira ficar na casa de Sofia já que Pedro não vai estar lá. — Meu tom é calmo, mas tenho medo de que Abby tenha a mesma reação da semana passada. — Acho que Victor vai querer beber tudo o que não bebeu nos últimos sete anos. Lyla ri, divertida pelo meu último comentário.— Se ele planeja fazer isso, apenas os dois ficarão bêbados. Tenho que trabalhar amanhã. — Ela diz em tom de bom humor, enquanto pega seu café em minha mesa. — Vou deixar você sozinha, tenho que trabalhar também. Aceno em concordância enquanto Lyla se levanta e caminha em direção à porta da minha sala. Volto minha atenção aos prontuários de alguns pacientes que precisa
Pedro HernandezDei a Adrielle uma semana, como pediu. Não me aproximei e sequer nos vimos nos últimos dias. Abby também não tem ido a minha casa e imagino que seja por medo de me encontrar. Minha própria filha com medo de mim, isso é inacreditável. Meu corpo fica rígido por pensar que ela esteja projetando seus medos em mim. Não consigo pensar em como alguém possa tê-la traumatizado tanto assim a ponto de ficar tão assustada apenas por ficar sozinha comigo. O nome de Leonard ainda está na minha cabeça, rondando como se fosse um abutre. Não quero estar com a razão, não quero nem pensar que ele possa ser a causa. Tento organizar os pensamentos enquanto desço as escadas. Acredito que isso seja bom, ou irei ficar irritado antes de ir para a casa de Victor. Segundo meu amigo, teremos um jantar entre amigos. Se bem me lembro, isso era desculpa para beber. Mesmo com as responsabilidades, ele ainda é um fanfarrão. Que surpresa. Minha mãe aparece no hall de entrada quando estou prestes a s
Pedro HernandezAdentro a Urus e aperto o botão de ignição. Engato a marcha e dirijo para fora dos portões. As ruas de Los Angeles estão um pouco movimentadas. Há carros de aplicativo para todos os lados, assim como outros carros. Dessa vez, pedi a Victor a localização de sua casa. Não quero ter que me perder outra vez. Ele disse que ainda mora no mesmo lugar, mas minha memória está fraca para rotas nos últimos dias. O rádio do carro está tocando uma música que começa a me irritar quando presto atenção na letra. É quase como se descrevesse o que está havendo agora. — Talvez isso seja uma ilusãoProvavelmente sonhando sem sentidoMas se amássemos de novo, eu juro que te amaria direitoEu voltaria no tempo e mudaria, mas não possoEntão, se a corrente estiver na sua porta, eu entendoMas este sou eu engolindo meu orgulhoParado na sua frente dizendo que sinto muito por aquela noiteE eu volto para dezembro o tempo todoAcontece que a liberdade não é nada além de sentir sua faltaDesej
Pedro HernandezMe sento na calçada após dar o depoimento a polícia. Victor insistiu que deveríamos avisá-los e nem mesmo esperou que eu tomasse uma decisão sobre isso. Descobri que o carro que estava entrando era o carro de Jackson, o irmão de Adrielle. Estou feliz por estarem bem, mas sei que o único alvo sou eu. Victor está conversando com um homem de cabelos cacheados e negros. Não imagino quem seja, mas ele estava acompanhando Jackson em seu carro. Posso ver que os dois carregam uma aliança dourada no dedo anelar e me pergunto sobre isso. Não me lembro de Adrielle mencionar sobre a sexualidade do irmão ou coisa parecida. Talvez ele não fosse tão aberto quanto parece hoje. Jackson não parece mais o mesmo adolescente de sete anos atrás. Está bem-vestido, com roupas casuais. Volto meu olhar a meu carro, que está sendo guinchado. Lyla disse que deveríamos avisar a minha mãe sobre isso, mas eu neguei. Liguei para Bruno, pois sabia que ele poderia me ajudar e não causaria danos a saú
Pedro HernandezSuspiro e volto a olhar para as persianas. Bruno está ao lado de fora, o guincho está indo embora, assim como as viaturas. Uma delas permanece estacionada do outro lado da rua e imagino que fique de vigia. Um carro vermelho adentra o jardim e estaciona bem próximo aos outros carros. Um homem sai de dentro e caminha até Bruno, para entregar algo e depois vai embora. — Eu os ouvi dizer algo a você. O que era? — Victor indaga.Paraliso. Meu corpo congela e minha respiração trava. Como posso dizer a eles que acabei de receber uma ameaça? Me viro com cautela, os olhares estão de novo focados em mim. Adrielle agora está sentada no sofá. Lyla está de pé com os braços cruzados e Victor está me encarando. Jackson não tem uma boa expressão, já o marido dele parece apenas focado na conversa. Respiro fundo e dou alguns passos a frente, para me aproximar deles. Coloco as mãos nos bolsos da calça e posso notar como Adrielle parece focada em cada movimento meu. Eu conheço essa expr
Pedro HernandezO tom de Jackson é carregado de desdém, como se eu fosse alguém tão desprezível que ele mal suporta mencionar o nome. Que ironia. A pessoa que verdadeiramente é desprezível, parece ter toda a gentileza dos outros, enquanto eu carrego a raiva e rancor que sobraram. — Por que você está agindo assim? — Adrielle questiona ao irmão, como se estivesse incomodada pela grosseria. — Por que você está agindo como se ele fosse um coitado? Como ainda consegue acreditar nas mentiras dele depois de todos esses anos? — Seu tom é sério e carregado de raiva. Os olhos de Jackson se focam em sua irmã, com rancor e raiva crescente. — Semana passada você disse que não conseguia lidar com o retorno dele e agora parece que o perdoou. Adrielle não o responde, apenas balança a cabeça em negação. Posso ouvir ela murmurar algo tão baixo que é quase inaudível, mas ainda consigo entender. — Você é inacreditável. Perfeito, o clima tenso voltou! A nevoa paira sobre nós novamente, mas dessa vez
Adrielle HaleJackson está com uma implicância com Pedro e nem posso culpá-lo por seus atos infantis, embora eu ainda tenha um pouco de raiva por ele, acredito que o que houve não foi culpa sua. Parte de mim acredita que ele não mentiria, mas a outra faz questão de lembrar que sete anos podem mudar bastante uma pessoa. O tempo é uma virtude para alguns, mas, para outros, um mal. Para mim, é apenas um amigo que caminha lado a lado, fadado a ver você nascer, viver e morrer sem conseguir fazer algo. Já ouvi dizer que o melhor remédio para um machucado no coração é o tempo, embora eu não acredite de fato nisso. Uma médica acreditar que o tempo cura as feridas do coração?Meu pai costumava me dizer que a cura para a saudade é o tempo, mas não sei dizer se isso é realmente verdade. Acredito que o tempo possa amenizar, mas não de fato curar um coração partido. Talvez esse seja o preço de amar alguém. Alguém que tem olhos azuis muito bonitos. Droga, Adrielle, o que está pensando?Pedro es
Adrielle HalePedro me analisa em silêncio, como se precisasse disso para escolher as palavras. Ele respira fundo e balança a cabeça levemente. Sua expressão dura e fria, se suaviza quando volta a me olhar. As árvores ao nosso redor começam a balançar, indicando que a chuva está prestes a cair. Não sei dizer se é o clima que parece tenso entre nós ou se a forte tempestade que se aproxima. Estamos imoveis, com os olhares focados um no outro. Quase posso ver sua alternância entre meus olhos e a minha boca, mas Pedro parece se repreender por isso. Os olhos frios e duros focam na grama, abaixo de nossos pés. Sinto que ele quer se esconder da conversa na intensidade da grama verde, mas não posso permitir que faça isso. Suas mãos saem dos bolsos e seus braços se cruzam, apertando os músculos ali. A expressão de Pedro é carrancuda, como se ele estivesse desgostoso com algo que estamos conversando. É quase como se fosse um paciente meu, a diferença é que temos uma filha e estou dizendo verda