Abro os olhos e pego o celular, que não para de tocar, de cima da mesa de cabeceira. Iniciamos mais uma semana e essa, será bem corrida. Sou secretária da presidência do Grupo Ferri, uma rede de hotéis famosa que se localiza no interior de São Paulo, mais especificamente em Atibaia, onde está situada a sede que também é um resort. Amo o meu trabalho, foi bem difícil chegar até aqui. Sou uma garota de dezenove anos, estudiosa e esforçada. Vivi em um orfanato, pois fui abandonada pela minha mãe ainda bebê, e não tive a sorte de ter uma família, como tantas crianças, então decidi que seria a melhor em tudo, afinal, se eu iria viver sozinha, eu teria que dar meu máximo. Quando completei minha maioridade a Madre me chamou em sua sala e me disse que eu teria que sair do orfanato, infelizmente elas não poderiam me manter mais lá. Ela me entregou um envelope, o qual abri e vi que tinha uma boa quantia em dinheiro, que daria para eu me virar durante um tempo. Sempre fui muito atenciosa com todas, dando o melhor de mim para ajudá-las, então na minha despedida todas nós choramos muito.
— Alice, meu amor, fico feliz que conseguimos lhe encaminhar para uma boa vida, sem riqueza, mas o mais importante de tudo, é uma menina de boa índole, e por isso eu conversei com um contribuinte nosso e ele irá te dar um trabalho. Você irá trabalhar como recepcionista em um hotel.
— Sério, Madre? — fico emocionada com a notícia, pois era tudo o que eu precisava naquele momento. — Eu nunca irei me esquecer de vocês, do carinho que me deram, dos ensinamentos, das palavras lindas quando eu mais precisava ouvir, eu agradeço à minha mãe por ter me deixado aqui com vocês, não teria lugar melhor para se ter um amor puro. Muito obrigada a todas, por tudo o que fizeram por mim, tenham certeza de que virei visitá-las em breve.
— Ahh, minha querida, as portas estão sempre abertas para quando quiser vir, e se precisar de alguma coisa, estaremos aqui para te ajudar.
Dou um abraço coletivo em todas, que não seguram as emoções e começam a chorar. Os melhores anos da minha vida eu passei aqui e os levarei comigo para o resto da vida.
A Madre Rita me deu o endereço do hotel onde eu iria trabalhar, mas primeiro eu iria para uma pensão que me foi indicada pelo orfanato, onde viverei até iniciar meu trabalho e ter condições de alugar um local melhor.
Entrei em meu quarto e guardei as minhas roupas no lugar. Eu teria que ir até o hotel na manhã seguinte, então saí para comprar uma roupa mais formal, pois meu emprego agora necessitava que estivesse bem apresentável. Fui caminhando, à procura de uma loja mais simples, onde pagaria mais barato em uma roupa bonita e que fosse mais elegante. Já estava cansada de tanto andar e não achava nada que meu dinheiro pudesse pagar, até que há algumas quadras, encontrei uma e entrei. Fui bem atendida e gostei muito, comprei um terninho composto de calça e blazer pretos e uma blusa branca, conforme olhei ao redor, encontrei um sapato perfeito, experimentei e resolvi levar para completar meu look. Não era o mais elegante e nem muito luxuoso, mas fiquei bem apresentável e me sentindo confortável, pronta para iniciar em meu emprego. Com esse pensamento saí feliz da loja. Retornei à pensão, tomei um banho e me deitei para dormir, precisava descansar para o outro dia.
O celular tocou, indicando que já estava na hora de levantar, seria meu primeiro dia de trabalho, tomei um banho, me arrumei e saí. Cheguei no hotel e conheci o senhor Edgar, o presidente que me recebeu muito bem e me explicou como era o funcionamento de tudo e ao final me perguntou se eu havia gostado.
— Então, menina Alice, gostou de tudo o que expliquei?? — o senhor Edgar me perguntou sendo muito simpático.
— Claro, senhor Edgar, estou muito satisfeita e agradecida pela oportunidade de compor o quadro de colaboradores da sua empresa, mas eu só gostaria de tirar uma dúvida se for possível.
— Claro, minha filha, pode me perguntar qualquer coisa — ele diz sucinto.
— Qual a chance de crescer na empresa? Afinal, eu não quero ser só uma recepcionista. Posso estar sendo muito apressada, mas como o senhor sabe, eu cresci em um orfanato e não tenho ninguém, então preciso garantir o meu futuro.
— Já está pensando lá na frente? Eu compreendo e acho isso ótimo, eu gosto de funcionários assim, que não se acomodam no mesmo lugar e lutam para crescer. Bom, nós temos um programa na empresa que disponibiliza alguns cursos para os funcionários, você pode se inscrever para a área que quiser, teremos uma provinha, assim que terminar o curso e se passar consegue a vaga.
— Ótimo, irei dar o meu melhor, e quando eu começo no meu novo emprego?
— Amanhã mesmo. A Madre me falou muito bem de você, então terá só que fazer bem o seu trabalho.
— O senhor não irá se arrepender de ter me dado a vaga.
— Assim que eu gosto, até amanhã, menina.
Algum tempo depois…
Hoje completa um ano e meio que iniciei na empresa, ás vezes nem acredito que consegui. Logo que comecei, um mês depois, me inscrevi no curso, tirei nota máxima, prestei a provinha para ser secretária e aqui estou, como secretária do senhor Edgar, presidente do hotel. Mas não pense que aqui é o máximo que quero, não, estou me organizando para entrar na faculdade e fazer administração, quero um cargo de chefe em algum hotel da rede Ferri e eu chegarei lá.
— Alice, querida, pode vir aqui, por favor? — senhor Edgar me chama da sua sala e vou até ele.
— Em que posso ajudar, senhor? — pergunto de forma simpática. Amo trabalhar nessa empresa, além de ter aprendido muito com o senhor Edgar, ele sempre foi muito gentil e atencioso comigo. Tenho muito que lhe agradecer.
— Meu filho chega na próxima semana, e temos que ajudá-lo com tudo da empresa, pois como você sabe, logo eu me aposento. Então peço que o ajude a se estabelecer. Faz anos que ele foi morar no Estados Unidos e não tem contato com os hotéis, mas não tem pessoa melhor para acompanhá-lo nas reuniões que você, quero que a partir de segunda-feira ele já inicie nos contratos, passe tudo o que temos dos fornecedores para ele.
— Sim, senhor, mas lembre-se de que essa semana teremos que ir até o almoço que marquei com nosso novo fornecedor de carnes.
— Claro, eu não me esqueci, então já prepare o contrato dele e marque uma reunião com os acionistas, necessito de um vice-presidente para dar suporte ao Oliver quando ele chegar.
— Certo, irei ver tudo isso, senhor, precisa de mais alguma coisa? – digo, guardando o tablet que carrego sempre comigo, para as anotações.Tive que aprender a mexer nessas coisas, mas peguei o jeito rápido.
— Não, menina, pode ir, obrigado!
— Com licença, então.
Saio da sala do meu chefe com a cabeça a mil. Fiquei sabendo pelas recepcionistas que o filho dele é lindo, uma verdadeira perdição e estou nervosa e ansiosa para conhecê-lo. Como será nossa relação patrão-funcionário?! Espero que seja a melhor possível, assim como é com seu pai. Suspiro pensativa e tiro essas coisas da cabeça.
Mas nada me preparava para o que viria a seguir…