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TEMPOS REMOTOS.

Marrento 

— Na sua carteira só havia os seus documentos e uma pequena quantidade de dinheiro, senhor Fox. Não tem nenhum telefone ou contato. Tem alguém para quem queira ligar? — Faço não com a cabeça.

— Eu sou novo aqui na cidade e os meus pais morreram quando eu era pequeno — esclareço.

— Sinto muito, senhor Fox! Alguma namorada ou uma esposa? — Faço não outra vez. — Ok, descanse, senhor Fox e aproveite para dormir um pouco, logo estará fora desse hospital. — Ele pede, saindo do quarto. A enfermeira me ajuda a beber um pouco da água com o auxílio de um canudo e depois que deixa o quarto, eu adormeço.

Observo atentamente o homem segurar a arma em punho. Ele mira na cabeça de um rapaz com cerca de dezoito anos. O garoto chora e treme de joelhos no chão pedindo por sua vida. Queria poder sair correndo daqui, mas o Cicatriz está em pé na porta.

— Segure a arma, garoto! — O homem ordena e eu estremeço, hesitando. Não quero fazer isso, não quero matar esse rapaz. — Segure a arma logo, moleque! —  Ele esbraveja me fazendo engolir em seco e temeroso, eu a seguro, percebendo a minha mão tremer. Ele se prostra bem atrás de mim, ajeita o meu braço para que a mira não saia da cabeça do garoto. Tenho vontade de chorar, mas Cicatriz disse que se eu chorasse levaria uma surra. Puxo a respiração e me encho de coragem. — Olhe bem para a sua caça, garoto. Você não deve ter medo dela, é ela quem deve ter medo de você. Alimente-se do seu medo, Marrento. Alimente a sua a alma e aperte… aperte o gatilho! — A sua voz áspera preenche os meus ouvidos e eu fecho os olhos, ouvindo cada palavra e aperto o gatilho com força. Em seguida escuto o som do estampido e quando volto a abrir os meus olhos, vejo o rapaz caindo aos meus pés em câmera lenta. O seu sangue começa a jorrar lentamente pelo chão. — Bom trabalho, garoto! Sabe por que você o matou? — Cicatriz inqueriu calmamente e eu fiz não para ele. — Porque ele é um traidor e nós não perdoamos os traidores aqui. Nós os eliminamos, entendeu? — Puxo a respiração mais uma vez.

— Entendi! — sibilo cheio de raiva na voz. O homem traz outro rapaz algemado e ele também é forçado a ficar de joelhos na minha frente e sem me dizerem o que fazer automaticamente ergo a arma, aponto para a sua cabeça e aperto o gatilho.

Ah! Abro os olhos apavorado e me sento na cama extremamente ofegante e agitado. Percebo o dia já claro lá fora e o soro já fora retirado do meu braço. Também não tem mais os fios conectados ao meu corpo e forço-me a levantar sentindo uma leve tontura. No segundo seguinte o mundo começa a girar ao meu redor.

— Bom dia, senhor Fox! Eu trouxe o seu café da manhã. — Outra enfermeira fala entrando no quarto. Ela segura uma bandeja branca com alguns pratos e copos de isopor.

— Que dia é hoje? — questiono sem dar importância ao que acabou de falar.

— Quarta-feira, senhor.

— A quanto tempo estou aqui? — Ergo a cabeça para olhá-la assim que a tontura passa.

— Cinco meses, senhor. — Cinco meses?! Cacete!

Observo a bandeja no suporte sobre a cama com algumas torradas, um copo de suco de laranja, iogurte e algumas frutas. Em silêncio, começo a comer a torrada com suco de laranja. Estou faminto. Constato. E não vejo a hora de sair desse lugar. Penso. Quando termino de comer, a enfermeira recolhe tudo e sai do quarto, levando a bandeja consigo, porém, ela deixa uma muda de roupas de hospital para mim em cima do pequeno sofá branco. Com um pouco de dificuldade, eu saio da cama e imediatamente sinto uma dor que parece rasgar o meu peito ao meio. Respiro profundo e lentamente. Preciso de um banho. Observo o cômodo por alguns instantes. O banheiro é bem espaçoso e tem alguns armários com toalhas dentro dele. Um box grande de vidro fosco, além de um balcão de mármore grande o suficiente. É um hospital luxuoso e me pergunto quem está pagando por tudo isso? Ligo o chuveiro e entro debaixo da água morna, sentindo o meu corpo relaxar aos poucos. O que realmente aconteceu após eu saí daquele aeroporto? Lembro-me de sair durante a noite da comunidade e de ir até o Tom um falsificador. Ele me entregou um envelope pardo com alguns documentos falsos para eu sair do estado.

— O seu nome será Alex Fox, você tem vinte e cinco anos e nasceu no Rio Grande do Sul, mas tem descendência americana. Memorize os nomes dos seus falsos pais...

Agora entendi por que me chamam Alex. Alex Fox. Esse será o meu novo nome de agora em diante. Desperto dos meus pensamentos quando uma enfermeira entra no quarto trazendo uma bandeja pequena com alguns materiais nela. A garota deposita o objeto em cima da cama e me encara com um sorriso amigável.

— Eu vou trocar o seu curativo, senhor Fox. — Ela avisa pegando uma lã embebida em álcool e começa a tirar o curativo do meu peito. Observo a ferida arredondada surgindo a medida que o curativo é retirado. Os dias têm passado muito rápido aqui e eu estou me sentindo bem melhor a cada dia. Durante todos esses anos trabalhando para o tráfico, esse foi o primeiro tiro que levei na vida. A garota passa algum medicamento na ferida e em seguida ela põe um curativo novo. depois, repete todo o procedimento no meu braço direito. O filho da puta errou o tiro por pouco, se tivesse acertado o meu peito uma segunda vez talvez não estivesse vivo para contar a história. Quando a garota termina o seu trabalho, o médico entra no quarto e avalia o meu rosto. Ele parece satisfeito com o que ver.

— Dei uma olhada nos seus últimos exames, senhor Fox. Você se recuperou muito bem! — O elogio me fez abrir um meio sorriso. — Não vejo necessidade de lhe segurar no hospital por mais tempo. Está de alta, senhor Fox — avisa.

— Que bom! — falo com satisfação, mas é da boca para fora. Porque estou me perguntando para onde irei quando sair daqui? Eu não sei o que fazer e nem sei onde eu realmente estou. Estou me sentindo perdido. É como se tivessem tirado a minha coleira após longos anos preso a ela, e depois me soltaram na rua. Merda, eu simplesmente não sei aonde ir! Respiro fundo.

— Não gostou da notícia? — O médico pergunta e só então percebo que ele ainda está aqui

— Gostei! É... uma ótima notícia! — Tento pôr entusiasmo na voz.

— Só preciso que assine alguns documentos e poderá ir para casa — informa. Casa. Eu tenho uma casa? A verdade é que eu não sei. Minutos depois, estou vestido com roupas normais e assinando os documentos da alta tendo o cuidado para pôr o meu novo nome ali. O médico sai do quarto levando os papéis consigo e eu encaro a porta de saída por um longo tempo, porém, não saio do quarto realmente e volto a me deitar na cama. Começo a pensar no que farei quando sair daqui. Contudo, o sono me domina sem eu perceber.

(…)

— Vamos, Boca, cheira tudo caralho! Aposta é aposta, porra! — rosno para o maluco.

— Tá doido, Marrento, isso é muito pó! Quer me matar de overdose, porra?! — reclama enraivecido.

— É pagar, ou a mina é minha. — Aponto para a garota no canto da parede. Ela parece bem assustada.

— Porra, Marrento, a mina é minha, caralho! — Ele retruca.

— Cheira essa porra logo! — exijo. Ele me encara sério, porém hesitante.

— Não vou cheirar porra nenhuma! — rebate irritado. Encaro Cicatriz do outro lado da parede de vidro. O seu olhar determinado me diz tudo e eu sei que ele espera uma atitude de líder da minha parte. E se eu não o fizer ele mesmo fará. Puxo a respiração com força.

— Tragam a mina! — ordeno rudemente. Boca me encara com raiva, mas sabe que não pode fazer nada contra mim. Os caras seguram a garota e a colocam bem na minha frente. Boca se põe na defensiva, mas eu seguro a arma em punho e aponto direto para a sua cabeça. Rendido, ele ergue as mãos, porém, me encara em fúria. A mina se aproxima temerosa e eu a forço a debruçar-se sobre a mesa, e fitando os olhos do seu namorado levanto a sua mini saia, abaixo a sua calcinha, desafivelo o meu cinto e abro a calça, abaixando-a junto com a cueca até o meio das minhas coxas. E sobre o olhar furioso do garoto como a sua garota com força. A safada geme. Ela parece estar gostando dessa situação e não demora muito para eu gozar dentro da garota. Então simplesmente me afasto, visto a minha roupa e vou até o homem de pele negra e parrudo, e ponho a arma na sua testa.

— Se não pode pagar uma aposta, não se mete, porra! — ralho me sentindo o dono da porra toda. — Porque você terá que pagá-la de alguma maneira. — Ele rosna baixinho. — A sua garota até que é bem gostosa. — O provoco antes de me afastar.

— Você me paga, Marrento! — Ele me ameaça entre dentes.

— Quando você quiser, Boca. Eu estarei bem aqui te esperando. — Solto uma gargalhada alta e saio da sala.

— Se continuar assim logo será o meu braço direito, garoto! — Cicatriz fala orgulhoso me encontrando no corredor.

...

Porra, esse filho da puta me estragou para o mundo! Caralho, eu não sou digno de estar aqui e não sou digno de receber essa segunda chance também!

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