— Me desculpe por ter falado naquele tom. Eu apenas fiquei indignada com a situação que o seu irmãozinho passa na hora do...
— Isso não é da sua conta. — me interrompeu. — Você não... — Me deixar falar, ouça e depois fale o que pensa. Vou respeitar você e quero que também me respeite, está bem? Só quero poder ajudar e parece que você nem se importa, o Noah só tem 4 anos e ele precisa de alguém que fale por ele, ou quer que os coleguinhas dele continuem tomando o lanche dele? — finalmente consegui sua atenção. — Já tentei dizer para o papai, mas ele nunca me escuta! Sempre está ocupado demais, a vovó diz que ele só vive para o trabalho. — fez careta. — E a sua mãe? — perguntei cautelosa. E de novo, ignorou minha pergunta e deu de ombros. Suspirei. Será que o Sr. Benson era viúvo? Ou cada um deles eram filhos de mães diferentes? — Ajudei o seu irmão com o banho e ele já comeu. Agora só falta você. Tire esse uniforme e vá tomar banho, vou esquentar o seu almoço. — falei mudando de assunto. — Não quero, me deixe em paz. — deitou ficando de frente para a parede pintada de violeta. — Está bem, quando a fome apertar sei que vai sair do quarto para comer, me avise porque não quero você mexendo no fogão e nem no micro-ondas. — Levantei quando a luz do aparelho da babá-eletrônica acendeu e o choro estridente soou pelo aparelhinho branco, ele cabia no meu bolso, o outro aparelho era maior e estava perto do cercadinho da Hannah. Saí apressada para ir ver a bebê, ela tinha acordado da soneca após brincar até cansar e cair no sono. — O que está fazendo, Noah? — perguntei para ele que estava sentado e concentrado, rabiscando algo no caderno. — Dever. — Ele continuava tímido na minha presença. — Precisa de ajuda? — ajeitei sua irmã no colo, a pequena estava com as mãozinhas babadas e ria pro nada, não parava de fitar meus cachos. A cor do meu cabelo chamava a sua atenção. O garotinho negou balançando a cabeça. Me abaixei para olhar o dever, era uma lição de cobrir vogais, sorri para ele e fui preparar uma vitamina para eles, a mais velha continuava trancada no quarto, a garotinha era mesmo osso duro de roer. Já se passava das 15h. Eu olhava o mural com a rotina deles, entediada. Noah estava tomando a vitamina de banana e mamão com biscoitos de aveia, o Sr. Benson disciplinava os filhos até demais, e aquilo era meio que... Sei lá, quando eles tinham tempo para se divertir? 'Ally, aulas: Segunda: Balé. Terça: Piano. Quarta: Ginástica. Quinta: Natação.' Tinha horário para comer e fazer todos os deveres, e praticar as atividades em casa. 'Noah, aulas: Segunda: Judô. Terça: Pintura. Quarta: Karatê. Quinta: Jogos de tabuleiro.' Jogos de tabuleiro? Mas o quê? Por quê não podia ser uma ativadade mais útil como praticar algo mais educativo? Sexta, sábado e domingo eram dias de descanço, já que não tinha nada marcado. Talvez ele saisse com os filhos como um programa em família, ou algo do tipo, passeios, parques. — Noah? — O chamei. — O quê? — Me olhou, sua boca estava toda lambuzada e suja com farelos de biscoito. — Seu pai leva vocês para sair? Vão ao parque ou na pracinha? — indaguei. — Ele só leva a gente para ver a vovó. — respondeu. É, pobres crianças, aquilo tinha que mudar. Eu ia trazer a diversão para aquela casa ou levar eles para curtir um pouco. Eram apenas crianças e tinham o direito de correr, brincar e fazer amiguinhos. — Hoje tenho Karatê. — disse me lembrando, ainda bem, pois eu já tinha até esquecido que quarta-feira. — Você fica uma gracinha com esse roupão. — Sorri terminando de arrumar sua faixa. Noah riu e Hannah engatinhou vindo para perto de mim. — É um Quimono sua, burra. — Me corrigiu Alyson revirando os olhos. — E os trajes de Judô se chamam Judogui, são 4 peças. — Explicou toda orgulhosa. — Quimono e Judogui, okay. Obrigada por me explicar, pequena Sabe-tudo. — Sorri para irritá-la. — Não me chame assim. Nada de apelidos. Você é tão chata. — Bocejou fingindo tédio. Ela me esperava impaciente, com a bolsa de ginástica no ombro. — Gostou da minha faixa? — Seu irmão apontou para o acessório branco preso no Quinomo. — Sim. Muito legal, pequeno Ninja. Toca aqui! — Levantei um punho e alegre, ele deu um soquinho no meu ponho. — Não acho que o termo correto seria Ninja, mas... — Ninguém te perguntou nada, espertinha. — Eu disse e a danada me mostrou língua. — Vamos logo, sua chata, não quero chegar no meu treino atrasada. — Me apressou, ela praticava Ginástica desde os 6 anos. Peguei a bolsa de Hannah, eu havia preparado uma mamadeira com mingau, também tinha a garrafinha com água, uma muda de roupas limpas, calcinha, duas fraldas, talco, pomada para assaduras e lenços umedecidos. Teria que deixar primeiro a Ally no treino, e levar o Noah para a aula de Karatê, onde eu teria que acompanhá-lo, ambas as aulas/treinos terminavam às 17h:15min... — Está preparada, Han? Temos uma longa tarde pela frente. — Peguei a bebê que sorriu para mim, exibindo as covinhas fofas. [...] Chegamos em casa, eu estava cansada, a bebê dormiu a maior parte do tempo no bebê-conforto. E só de assistir a aula do Noah, cansei apenas de ficar lá sentada, algumas mães se distraiam fofocando e falando do professor gostosão, e confesso que o homem era um pedaço de mau caminho mesmo, moreno, alto, musculoso e os olhos verdes então... Jesus. — Você nem almoçou. Se o seu pai souber, não vai gostar nada disso. — Reclamei com a Ally. — Tomei suco de uva, também comi biscoito de chocolate e salgadinhos. — Retrucou não se importando. — Tia Mel, me ajuda no banho? — O pequeno puxou minha blusa. — Ela não é nossa tia, Nonôh! — Usou o apelidinho carinhoso dele. — Ela deixou, disse que posso chamar, não é, tia Mel? — Abraçou minha perna. — Sim, anjo. — Fiz carinho na cabeça dele. — Se quiser pode me chamar também. — Ajeitei Hannah em meu colo, uma das mãozinhas estava segura num cacho meu. — Você não é minha tia. — Fez careta. — Não gosto de você. — Deixou bem claro. — Por quê? O que eu fiz para você não gostar de mim? Noah e Hannah já gostam de mim, e também quero me dar bem com você. — Falei com calma. — Não quero ser sua amiga. Você é a babá e também é muito chata. — Empinou o nariz e saiu carregando a bolsa azul de ginástica. — Ela é sempre assim? — Olhei para o garotinho agarrado em minhas pernas. — Ela se irrita com tudo. — Respondeu em voz baixa. Nossa... Aquela menina era mesmo complicada de lidar. Hannah se espremeu toda e fez um barulhinho familiar em meu colo. — Acho que uma mocinha sujou a fralda. — Ri cutucando a barriguinha dela que logo exibiu os poucos dentinhos. — Que horas o seu pai chega do trabalho? — Terminei de alimentar a bebê e a deixei na cadeirinha de alimentação. — Tô com fome. — Noah reclamava. — Estou falando com você, Ally. — Levei a tigelinha e a colher de plástico até a pia. — Por quê quer saber? — Ela só vivia emburrada. — Pois vou preparar o jantar agora. O que costumam comer? Ele janta com vocês, né? — Indaguei curiosa. — Às vezes. — Deu uma resposta vaga. — O que vai fazer? — Quis saber. — O papai gosta de frango. — Falou sem tirar os olhos do VG portátil. — Vou ver o que tem na geladeira. — Tirei sua irmã da cadeira de alimentação e a coloquei sentada no carpete de borracha, parecia um tatame colorido. — Tá. — Deu de ombros. — O Noah está com fome e daqui à pouco vai ficar enjoadinho, e ele chora muito. — Disse ainda jogando. Peguei o pote de biscoitos de maisena para deixar o pequeno entretido. Eles tinham bastante frutas, verduras, legumes e hortaliças. Achei potes de geléia, iogurtes, e nenhum empanado ou algo do tipo. Tudo era bem regrado, alimentação saudável e tudo mais. Peguei uma bandeja com peito de frango. Escolhi alguns ingredientes e vasculhei os armários atrás do que precisava. Já tinha tudo em mente. O jantar ficou pronto, servi os dois que estavam mais do que famintos. Frango à parmegiana com molho branco, um arroz bem caprichado com o meu toque especial, e fiz suco de laranja. Algo rápido, saudável e gostoso, bem simples de fazer. — Está gostoso? — Perguntei após me servir também. Já se passava das 19h:30min e nem sinal do Sr. Benson. Noah assentiu mastigando e a menina deu de ombros, segurei o riso. Era só uma criança apesar de ser resmungona e metida à espertinha. Comeram tudo e não quiseram repetir, ambos aprovaram a minha comida, apesar da danadinha não admitir. Terminei de comer e levei a louça toda para a pia. — Não esqueçam de escovar os dentes. — Falei antes deles se retirarem da cozinha. A bebê acabou pegando no sono ali mesmo no carpete para engatinhar. A peguei com cuidado e a carreguei até o quarto dela, ajeitando-a no berço e cobrindo ela.