Estacionei minha caminhonete na entrada da mansão do meu bom amigo Edwards Smith. Um nó de tristeza se formou no meu peito ao pensar nele. O guarda abriu o portão de aço e entrei com passos rápidos, notando vários carros estacionados.
Ao entrar, fui recebido por uma das empregadas, seguida pela Sra. Martha, que parecia abatida. Ela me guiou até o escritório onde aparentemente estavam os outros. — Bom dia — cumprimentei ao entrar. Os únicos que responderam foram meu amigo Jovanny e o advogado. Valeria estava absorta olhando para o grande quadro pendurado na parede. — Alberth, sente-se — disse Jovanny. —Senhor Sandoval, sua presença é necessária —declarou o advogado. Os presentes estavam irritados. — Não entendo por que um desconhecido foi chamado aqui em um momento familiar — protestou um dos presentes, olhando para mim com desdém. Olhei para ele com seriedade. Quem ele pensava que era? — E quem eram vocês para o meu pai? Nada. Então nem deveriam estar sentados na cadeira dele — disse Valeria, visivelmente irritada. Os presentes olhavam para ela, balançando a cabeça negativamente. — Uma jovem como você não deve se meter nessas coisas — retrucou um senhor grisalho. Quem seria ele? — Por que diabos...? — rugiu Jovanny — Ela é a única filha herdeira. Ninguém voltou a falar. — Podemos começar — perguntou o advogado. Ele negou com a cabeça, abriu seu laptop, colocou um pen drive, abriu as pastas e então olhou para todos os presentes. — A babá da senhorita Valeria, a senhora Martha, deve estar presente. — Mas agora uma empregada? O que aconteceu com meu cunhado? — perguntou uma senhora morena. — Senhora, se não quer sair daqui, cale-se — enfatizou Valeria novamente. — Pode continuar, já mandarei chamar minha babá. Quando todos estavam presentes, o advogado soltou um suspiro e começou a ler o documento, mencionando nomes, suas empresas e as casas que possuíam nos bairros próximos ao país. — Toda a herança é para sua única filha, Valeria Smith. —Mas como? Meu cunhado tinha que nos deixar a parte da fortuna da nossa irmã. Trabalhamos ao lado dele durante anos. — Não sei. Já cumpri meu dever, não me interrompa. Agora vou continuar lendo. Os presentes estavam irritados e cochichavam entre si. —Jovanny Howard assumirá uma das empresas e pagará seus cunhados como funcionários até que se aposentem. Quando Valeria completar 25 anos, ela receberá a empresa têxtil e a pecuária. —Que tipo de testamento é esse! Estou indo embora —gritou o senhor grisalho, saindo do escritório. — Continue — sugeriu Valeria. — Bem, a casa e tudo o mais são da sua filha. Mas sua filha Valeria deverá cumprir certos requisitos para herdar. — O quê? Do que se trata? — questionou ela, levantando-se da cadeira. — Querida sobrinha, seu pai era louco, não acha? — O que há com ele? — gritei irritado, e Jovanny também. —Se você mencionar mais alguma coisa sobre meu pai, eu te expulso da minha casa. — Imagine se você não cumprir, também não será seu — respondeu um dos tios de Valeria—. Vamos, Rosa, meu cunhado não estava bem quando escreveu seu testamento. Dito isso, ele saiu do escritório. — Pode continuar, preciso ir para a empresa — pedi desesperado. Não fazia ideia do motivo pelo qual tinham solicitado minha presença. —Senhor Alberth, este vídeo é para você e para a senhorita Valeria. — O quê? — dissemos os dois em uníssono. — Os outros podem se retirar. —Então, estamos aqui à toa? —perguntaram duas senhoras. — Vocês receberão seu pagamento mensal por cinco anos. Podem se retirar, senhoras. — Bom, eu vou indo, espero por você lá fora, Alberth — disse Jovanny, dirigindo-se a mim. Eu assenti sem entender o que tinha a ver com tudo isso. — Valeria, vejo você mais tarde, querida. —Tudo bem, padrinho. — Muito bem, apenas ouçam sem interromper — disse o advogado, reproduzindo o primeiro vídeo do falecido. Algo me dizia que ele estava preparado para isso, até mesmo deixando vídeos. Concentrei-me na tela grande. O vídeo começou a ser reproduzido e o rosto de Edwards apareceu na tela. Virei meu rosto para Valeria, que começou a chorar ao olhar para a tela. —Talvez se vocês estejam vendo este vídeo, é porque estou morto e nem consegui deter o mal daqueles que me perseguiam. Acho que confiei demais —Edwards sorriu e continuou—. Enfim, não importa. Minha filha, princesa do meu reino, talvez tudo o que direi neste vídeo não seja do seu agrado. No entanto, você deve cumprir ou não poderá herdar o que lhe pertence. Por outro lado, seus tios farão de tudo para levá-la para longe. Lembre-se do que eu lhe disse quando você tinha quinze anos — virei os olhos para Valeria, que chorava sem parar. — Bem, você deve cumprir isso para o seu bem e para que eu fique em paz, mesmo que morto já não importe mais. No entanto, sempre desejo o melhor para você, e o melhor para você é se casar quando completar dezoito anos. —Pausa —pediu Valeria, aproximando-se do advogado. —Senhorita, pedi para não interromper, preciso terminar isso. — Entendo, mas por que...? — Não sei, só estou fazendo meu trabalho. Pode se sentar para continuarmos. Meu Deus, ela era tão jovem e ele queria que ela se casasse. Negando, desviei o olhar para a tela. —Filha, sei que você vai recusar, mas estou fazendo isso pelo seu bem, para protegê-la. Não quero que nada de ruim aconteça com você, e sei que seu futuro marido irá protegê-la daqueles que desejam lhe fazer mal, como fizeram com sua mãe e agora comigo. Isso é irracional. A mãe de Valeria realmente teve uma morte repentina, e agora ele. —Alberth —concentro-me ao ouvir meu nome—, talvez você pense que estou louco por este grande favor que vou lhe pedir. Você é a única pessoa que seria capaz de fazer tudo por querer o meu bem. Por essa razão, peço-lhe, ou melhor, imploro-lhe que seja o tutor legal da minha filha Valeria Smith. —Abro os olhos surpreso—. Sei que ambos estão surpresos, mas é a minha vontade e quero que seja cumprida. Meu amigo, aquela promessa que você me fez naqueles anos, aquele favor que um dia eu iria cobrar, agora quero que você me pague casando-se com minha filha quando ela completar dezoito anos em novembro. Os detalhes eu deixarei nos vídeos privados que deixei para você, filha Valeria, e para seu futuro marido, meu grande amigo Alberth. Amo muito vocês, cuidem-se e não confiem em ninguém. —Do que Edwards está falando? Que loucura! —Meu pai não precisava fazer isso. —É preciso cumprir isso para que ela herde. Você entenderá no próximo vídeo, que só você verá. — Eu não posso me casar tão jovem. —E eu não posso me casar com uma garota tão jovem. Além disso, estou noivo. Edwards sabia disso, com que intenção ele fez isso? —Senhorita Valeria, seu pai deixou um vídeo importante para você. Assista ao vídeo quando estiver sozinha e depois me procure. Agora preciso ir. Quando o advogado saiu, fiquei olhando para a tela, ainda processando aquela loucura de Edwards. Casar com sua filha, uma jovem. Que loucura! — Vamos fingir um casamento falso — sugeriu Valeria, tirando-me dos meus pensamentos. — Isso é loucura. Não sei o que fazer. Preciso ir e depois ver esse vídeo. Não sei que outra surpresa seu pai deixou. —Tudo bem, mas o que vamos fazer? —perguntou ela, abaixando a cabeça. — Não sei, estou indo. Saí da mansão dos Edwards. Jovanny estava falando ao celular; ao me ver, desligou a ligação. —Alberth, tudo bem? —Neguei, irritado. —Você sabia dessa loucura do Edwards? —queri saber, prestes a ir tirá-lo do túmulo. —Sim, ele mencionou várias vezes que, se algo ruim acontecesse com ele e sua filha ficasse sem alguém para protegê-la, e ela não completasse 25 anos, ele pediria um favor que você lhe devia. Nossa, ele sabia de tudo e nem me contou. — Isso é uma merda. Eu não posso me casar com uma criança, para mim ela é uma criança. Além disso, eu tenho minha namorada e até tinha esquecido esse favor que lhe devia. Droga! — Não sei o que te dizer. Mas talvez você possa fazer alguma coisa, chegar a um acordo. —Vou indo, vou pensar no que fazer. Entrei na minha caminhonete e saí acelerando. Ri negando, será que Edwards estava louco?