Capítulo 7

Ao assistir aquela cena, não consegui evitar as lembranças de como tudo fora diferente quando ainda estávamos juntos.

Damien nunca permitiu que eu revelasse publicamente que era sua noiva.

E jamais me deixava demonstrar qualquer gesto íntimo diante dos outros.

Até mesmo para entrar ou sair da casa dele, eu precisava fingir que estava ali apenas como sua curandeira particular.

Sempre acreditei que, como herdeiro alfa, ele precisava manter discrição e sobriedade.

Mas a verdade era que Damien nunca foi um homem reservado.

Ele só era frio como gelo quando estava comigo.

Com essa revelação, um enjoo me subiu pela garganta.

Me fazendo levantar e caminhar em direção à saída.

Enquanto deixava o local, Damien me avistou e empurrou Sera com um gesto brusco, tomado de choque.

Só então todos perceberam que eu estivera ali o tempo todo.

-

Assim que pisei do lado de fora, Sera correu atrás de mim e agarrou meu ombro.

— Aria, por favor, escuta... O que você viu agora não é exatamente o que está pensando.

— Me solta. — Franzi a testa, sem querer ouvir nenhuma justificativa.

Mas Sera apertou ainda mais o meu braço.

Em seguida, ela encarou a fogueira decorativa atrás de nós, e sua voz ficou fria, ameaçadora:

— Me diga uma coisa... Se eu caísse nessa fogueira e me ferisse, sua família acreditaria que eu escorreguei sozinha ou que foi você quem me empurrou?

Antes mesmo de concluir a pergunta, Sera soltou um grito agudo e, com um gesto exagerado, se lançou para trás, direto dentro da fogueira decorativa do leilão.

Ao ouvirem o estrondo, os membros da família Blackwood correram até o local e a encontraram caída dentro da fogueira apagada.

Seu vestido de gala apresentava marcas de queimado, e o rosto sujo de fuligem e cinzas reforçava ainda mais sua aparência miserável.

— Aria, você ficou louca? Está tentando matar ela? — Gritou Ethan, correndo para amparar Sera nos braços.

Porém, assim que tentei falar, fui interrompida de forma violenta: a mão do meu pai atravessou meu rosto com a força implacável de um lobo adulto.

— Sua vadia.

Como o veneno de prata ainda não havia sido completamente eliminado do meu corpo e minha loba não tinha despertado, o golpe me lançou para longe.

E assim, caí no chão, cuspindo sangue misturado a fragmentos de dentes quebrados

Pois um deles havia sido arrancado com o impacto.

Tentei me explicar, no entanto, ao encarar os olhos da minha própria família, preenchidos por ódio, fúria e uma vontade voraz de me dilacerar, percebi que as palavras simplesmente morreram em minha garganta.

Afinal, meus próprios parentes de sangue acreditavam unicamente em Sera, aquela estranha.

Tudo o que eu dissesse seria, inevitavelmente, tratado como mentira.

Já que, aos olhos deles, eu era irremediavelmente cruel.

Enquanto isso, Sera soluçava nos braços de Ethan:

— Damien só me trouxe aqui para ver os cristais de cura. Eu sou apenas uma ômega machucada, não tinha nenhuma outra intenção. Aria, se me odeia tanto, era só ter dito. Eu teria sumido do mundo por você sem pensar duas vezes.

— Se me culpa por ter tirado Damien de você, então eu devolvo ele. Faço qualquer coisa para ver você feliz. Mas não precisava ter me empurrado na fogueira... Nós somos da mesma família…

A performance de Sera comoveu tanto que fez até a família Blackwood chorar.

— Então é isso, Aria? Você fez tudo isso porque acha que a Sera me roubou de você?

Damien me encarou, chocado.

Em resposta, sustentei seu olhar, vazia.

Logo depois, sorri... E cuspi mais sangue.

"Quando a gente chega no fundo do poço, o jeito é rir pra não chorar."

Ao me ver sorrir mesmo naquela situação, o desapontamento de Damien alcançou o limite.

— Sabe de uma coisa? Eu não te odeio mais.

— Eu odeio a mim mesmo, por ter sido cego o bastante para querer você como companheira. Graças à deusa, nunca formamos um vínculo.

— Vai para o inferno! Bem que podia cair morta aqui e agora!

Depois de cuspir essas palavras, ele virou as costas e foi embora, levando Sera nos braços, com o resto da família ao seu redor, em busca de um curandeiro.

Enquanto observava aquelas silhuetas se afastarem, não consegui parar de rir.

Com isso, os curiosos ao redor começaram a achar que eu tinha enlouquecido de vez.

Assim, fiquei deitada no chão por um longo tempo, incapaz de me levantar.

Pois meu coração havia sido completamente dilacerado, reduzido a pedaços vazados, a ponto de já não me permitir sentir dor alguma.

O que preenchia meus olhos escurecidos não era ódio nem raiva.

Era uma apatia levada ao extremo. Indiferença absoluta.

No entanto, nada mais importava, pois em três dias, eles nunca mais veriam essa pessoa que "merecia morrer".

-

Quando finalmente cheguei em casa, as risadas e conversas cessaram de imediato.

E todos me olharam com expressões que gritavam: "Como você ainda teve a audácia de voltar?"

Era como se estivessem olhando para um cão espancado, com as pernas quebradas, que tivesse sido jogado fora... E, ainda assim, rastejasse de volta para casa, arrastando seu corpo mutilado.
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