De repente, meu celular vibrou.
Sera havia postado nas redes sociais:
"Agradeço sinceramente a todos pela preocupação. Estou bem agora.
Além disso, sou especialmente grata ao Damien por sempre estar ao meu lado nos momentos em que mais preciso.
Por isso, passarei o resto da vida retribuindo esse cuidado."
A foto mostrava Sera deitada em uma cama de hospital, com os dedos entrelaçados aos de Damien, que permanecia sentado ao lado dela.
Eles realmente pareciam perfeitos juntos.
Após um breve olhar, desliguei a tela e larguei o celular.
Porque, no fim, Damien e eu já não estávamos mais juntos.
Não importava se Sera queria se exibir para mim ou me provocar, eu simplesmente não me importava mais. Visto que aquilo já não era capaz de me causar alegria ou tristeza.
Mesmo que ninguém naquela casa se importasse comigo, eu ainda precisava viver bem... Por mim!
Assim, preparei um jantar quente e reconfortante e fui para a cama.
E com a casa vazia, tive a noite de sono mais tranquila dos últimos anos.
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Acordei na manhã seguinte revigorada.
Preparei uma xícara de café moído na hora e me sentei na cadeira de vime do jardim, ouvindo as notícias da manhã enquanto alongava o corpo.
Em seguida, organizei os terrenos de caça e preparei a casa de segurança, tarefas que sempre estiveram sob minha responsabilidade.
Pela primeira vez, eu estava realmente aproveitando a vida.
E foi então que percebi: era assim que eu deveria ter vivido desde o começo.
Depois do café da manhã, voltei ao quarto para separar os presentes que Damien havia me dado ao longo dos anos, já que pretendia devolver todos.
Mas, enquanto reunia as coisas, percebi algo que me surpreendeu:
Mesmo tendo herdado o posto de Alfa e acumulado poder e riqueza, Damien nunca se preocupou em escolher presentes de verdade para sua noiva.
Pois dava para contar nos dedos os poucos objetos que ele havia me dado.
Tínhamos pouquíssimas fotos juntos. Vários dos "presentes" não eram mais do que pedrinhas que ele catava pelo caminho enquanto caminhávamos.
E, no fundo, todos eram itens sem valor.
Mesmo assim, eu os tinha guardado com cuidado, trancados na gaveta como se fossem preciosidades.
Mas agora, ao tirá-los dali, percebi que estavam amarelados, mofados pelo tempo.
Assim como os sentimentos de Damien por mim.
Sentimentos vencidos não valiam o esforço de serem mantidos, assim como aqueles presentes inúteis.
Logo balancei a cabeça, convencida.
"Damien era obcecado por limpeza e, por isso, nunca aceitaria nada daquilo de volta."
Então, coloquei os poucos presentes e as poucas fotos em um balde de ferro e os destruí com pó de prata.
Conforme a fumaça subia, dissolvendo cada traço do que foi, deixei o passado para trás e me abri a uma nova vida.
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Após concluir esse ritual de despedida, fui até o Ancião Beta buscar as permissões de viagem para outros territórios.
Para começar a pesquisa secreta, eu precisava de documentos que me ajudassem a apagar qualquer rastro e ocultar minha identidade. Na aparência, pareciam apenas meras autorizações para circular livremente.
Queria aproveitar meus últimos dias ali para explorar os arredores e, com sorte, esvaziar a mente.
No entanto, enquanto eu folheava alguns guias de viagem, Damien apareceu.
Ao contrário do meu estado calmo, ele parecia completamente exausto.
Segundo Ethan, eu não demonstrara nenhuma reação ao receber de volta o presente de noivado.
Aquilo perturbou Damien a ponto de não conseguir dormir à noite.
Ele conhecia como ninguém o amor que eu sentia por ele e não conseguia aceitar que eu tivesse reagido daquela forma.
Mas, ao ver os presentes e fotos destruídos no balde de ferro no jardim, o chão pareceu sumir sob seus pés.
"As coisas que eu costumava valorizar como relíquias preciosas, agora estavam descartadas como lixo?"
— Por que você queimou os presentes que te dei... E todas as nossas fotos?
Ouvi a leve oscilação na voz de Damien.
Logo, levantei os olhos do meu guia de viagem e encarei seu rosto pálido.
— Porque eles simplesmente não significam mais nada. A pessoa que me deu mudou de sentimentos, então os presentes também perderam o valor. Foi por isso que destruí tudo.
Damien permaneceu imóvel por um momento, até que, enfim, pareceu "compreender" algo.
— Você sabia que eu viria te ver... Por isso encenou tudo isso. Está tentando fazer charme para me reconquistar, não é?
— Aria, por que você é sempre tão irracional?
Ele estava prestes a ir embora quando algo em minha mesa de centro chamou sua atenção:
Permissões de viagem.
Por um instante, a mente de Damien ficou completamente em branco.
— Você vai deixar a alcateia? Só porque pedimos que colocasse a patente da pesquisa no nome da Sera? Vai nos ameaçar com uma fuga? Você é mesmo uma mulher manipuladora.
— Me diga... Para onde está indo?
De repente, um pânico estranho invadiu o peito de Damien, fazendo ele segurar o meu braço com força.
Mesmo com meu corpo ali, bem diante dele, visível e tangível, algo dentro de si gritava que, se me soltasse naquele instante... Eu desapareceria para sempre.