O desprezo tomou conta do meu olhar.
Já que, com o coração completamente morto, eu não nutria mais qualquer expectativa em relação a Damien.
Logo, falei calmamente duas palavras:
— Eu entendo.
Mas Ethan me encarou, incrédulo.
— Mesmo sendo a noiva do Damien, você nunca cumpriu seus deveres nem cuidou de verdade dos membros da alcateia, e, ainda assim, ele continuou te aturando. É só isso que você sente por ele?
— Irmã, você tem agido de forma estranha desde que a mamãe morreu.
— Desta vez, a Sera quase morreu por sua causa, porque você a deixou abalada, e até agora não disse uma única palavra de preocupação com ela.
— Já entendi o que está acontecendo. Você guarda rancor da Sera por ter tirado de você a atenção da família. Lá no fundo, provavelmente torce para que ela morra, não é?
— Sera é só uma ômega. Tudo o que ela quer é ter uma família. Por que você simplesmente não consegue aceitá-la? Por que precisa ser tão ciumenta? Quando foi que se tornou tão cruel?
Ao ouvir isso, senti uma vontade incontrolável de rir.
"Se Sera realmente quisesse tirar a própria vida, como poderia ter se machucado tão pouco? E como teria tido tempo e energia para ligar para cada membro da família e para Damien?"
Durante anos, Sera usou esse tipo de artimanha repugnante para arrancar, aos poucos, todo o amor da família. E eu, de tanto presenciar isso, já havia me acostumado.
Além do mais, mesmo que eu explicasse, acabaria assim, como agora: nem cheguei a dizer nada e já estavam me cobrindo com acusações.
Até o meu silêncio era considerado um erro.
Antes de sair, a voz de Ethan ficou fria como gelo, como se ele tivesse perdido todas as esperanças em mim:
— Sabe de uma coisa? Naquele dia em que fui atacado por renegados, eu queria que tivesse sido você ao meu lado, cuidando de mim enquanto eu estava doente, e não a Sera.
— Você é minha irmã de verdade, mas se escondeu justamente quando eu mais precisei. Eu te odeio.
Com um estrondo, a porta se fechou atrás dele, e Ethan foi embora sem me lançar sequer um olhar.
-
Seis meses atrás, Ethan foi emboscado por renegados enquanto patrulhava com a unidade de guarda, e acabou gravemente ferido.
Assim que meu pai e eu recebemos a mensagem, corremos até o local, mas já era tarde: Ethan estava inconsciente, e um dos lobos, que se recusara a recuar, se preparava para dar o golpe final.
Na hora em que mais precisávamos dele, meu pai, o suposto guerreiro, sucumbiu ao medo, virou as costas e fugiu, deixando para trás meu irmão, que estava gravemente ferido, e eu, completamente sozinha.
No entanto, eu não hesitei.
Mesmo sendo uma curandeira sem treinamento sistemático em combate, ao ver meu único irmão caído atrás de mim, inconsciente, encontrei coragem infinita para protegê-lo. Logo, minha loba despertou em um surto completo.
No fim, consegui afastar o lobo rebelde após uma batalha desesperada, porém Ethan já estava envenenado com toxina lupina e lutava para sobreviver, à beira da morte.
Para salvá-lo, ignorei meus próprios ferimentos graves e trabalhei incansavelmente durante três dias e três noites, sem dormir, desenvolvendo um antídoto para o veneno.
Porém, assim que finalizei a fórmula, meu corpo cedeu ao cansaço extremo e desmaiei.
Ao despertar, encontrei-me em um quarto de hospital desconhecido, em péssimas condições.
E sem ninguém ao meu lado.
Descobri, mais tarde, que meu pai, querendo aproximar o filho da filha adotiva ômega, contou a todos que Sera havia desenvolvido o antídoto e salvado Ethan.
Com isso, assim que tive alta, arrastei meu corpo enfraquecido até Ethan para contar a verdade.
Tudo o que recebi, no entanto, foi um tapa no rosto.
Em meio às lágrimas, ele gritava comigo, querendo saber por que eu o abandonara quando ele mais precisava.
Afirmou que Sera, mesmo sendo só uma ômega, tinha se esforçado ao máximo na busca pelo antídoto e quase morrido de tanto tentar ajudá-lo.
Então, engolindo o nó na garganta, tentei explicar que os próprios colegas da patrulha me viram lutando para salvá-lo, e que vários curandeiros contribuíram comigo na elaboração do antídoto. Se ao menos ele tivesse perguntado, saberia quem realmente o havia salvado.
Mas ele nunca se deu ao trabalho de investigar.
E preferiu acreditar, com convicção cega, que Sera tinha arriscado a vida por ele.
Para ele, eu, sua própria irmã de sangue, era apenas uma ingrata que abandonava a família quando ela mais precisava.
Afinal, nada do que eu dizia ou fazia parecia ter valor: tudo era sempre distorcido, como se fosse fingimento ou algum tipo de interesse escondido.
Mas isso já não importava mais.
Uma vez que eu já não queria desperdiçar meu tempo tentando explicar.
No fundo, eu já havia atingido meu limite.
-
Sentei no sofá daquela casa vazia, completamente desprovida de qualquer vestígio de calor familiar.
Enquanto o vento uivava do lado de fora da janela, fechei os olhos e cobri os ouvidos.
Ainda assim, não consegui me proteger daquela atmosfera sufocante, tão densa que parecia capaz de me esmagar.
Se ninguém daquela família se importava comigo ou precisava da minha presença, então eu tomaria a única decisão possível: deixaria esta casa de vez.
Sim, deixaria aquele lugar por completo.
Pois, no fundo, eu tinha certeza de que conseguiria encontrar uma vida melhor em outro lugar.