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Cheguei antes que a aula começasse e o arrependimento foi a primeira coisa que senti quando Jess e suas lacaias entraram na classe. Respirei fundo tantas vezes que meu cérebro não suportou a maior quantidade de oxigênio e me fez ter uma leve tontura, agora eu tinha certeza de que o Sr. Clark havia dado para mim uma pequena — e loura — sentença de morte.

Mas ela deveria me encarar dessa maneira ligeiramente matadora? Não. Jess era claramente mais nova do que eu e parecia que seu dinheiro não tinha sido usado apenas com a faculdade, na verdade, eu duvidava que ela sequer trabalhasse — ainda mais com as unhas daquele tamanho. 

Eu não tinha tempo para me arrumar, mal conseguia tempo para hidratar meu cabelo — o que eu definitivamente precisava. Ela, no entanto, parecia passar horas no salão e eu queria apenas uma hora para poder ir à academia e eliminar os quilos que adquiri comendo comida processada e pré-pronta.

Ela sorriu com escárnio para mim e eu só conseguia pensar que em alguma vida passada, eu teria sido o próprio Judas para ter tanto azar assim.

— Sarah Taylor. — Ela estalou a língua e eu precisei segurar meus olhos para que eles não revirassem por puro deboche. — Precisa de canetas? Quer que eu lhe dê algumas para que não interrompa a aula outra vez? —Traduzido do: "Trouxe suas próprias canetas para não chamar a atenção do professor que eu quero desesperadamente dar para que eu tenha boas notas?"

Ela estava se tornando minha mártir.

Eu ri com os lábios fechados, pouco me importava o Sr. Clark, o que eu queria era não chamar a atenção e duvido, pela minha experiência de vida, que aquele homem não fez nada além de me dar uma caneta.

— Todos em seus lugares, não estão mais na pré-escola. — Jess mediu meu corpo rindo e se sentou na minha frente, logo os cabelos louros se tornaram um tapete na minha carteira.

Eu tinha uma tesoura na minha bolsa, mas não tenho certeza se o estresse valeria a pena.

— Passem a chamada e abram o livro da página dez. — Ao menos meu livro ainda estava dentro da bolsa, pois meu caderno tinha se tornado um travesseiro para cabelos.

A aula durava cerca de uma hora e meia, era todo o tempo que tínhamos para extrair o máximo que podíamos e durante todo o tempo, meu desejo era de arrancar fio por fio daqueles fios louros.

O Sr. Clark começou a explicação e tentei me deixar levar pelo conteúdo da matéria, eu precisava de estímulos para não cometer assassinato capilar e mais ainda para não ser presa. Então eu foquei nele, tentando assimilar e absorver o conhecimento que ele passava tão abertamente.

Não era incomum os professores passearem pela classe no meio da explicação, eu entendia que era um modo de estar perto de todos e não se deixar perder o entusiasmo. Eu gostava disso, observar e absorver.

Jess se movia juntamente com os passos dele, o que fazia seus cabelos varrerem minha carteira. Minha paciência estava a ponto de acabar, então, soltei o coque que eu mantinha por causa do hospital e por causa do ruivo que parecia ter sido criado para ser ressecado, massageei as têmporas e suspirei, talvez eu fosse para como paciente na ala psiquiátrica hoje.

O Sr. Clark não parou a explicação, continuou percorrendo os corredores lentamente. Eu já não estava olhando para ele quando ele parou entre mim e Jess, mais alguns passos dele e algumas mexas do meu cabelo foram tocadas. Talvez eu estivesse incomodando o aluno por trás de mim, mas ao olhar para Jess eu sabia que não era exatamente isso o que tinha acontecido.

Meus cabelos eram um pouco menores do que os dela, porém, a curvatura era a culpada por isso. As ondas dos meus cabelos desciam até as minhas costelas e agora, essas mesmas ondas estavam enroladas nos dedos do Sr. Clark.

Jess iria me matar no fim da aula e eu agradeceria a ela se fizesse isso, o professor continuou sua matéria parado um pouco mais atrás de mim e brincava insistentemente com aquela mecha que estava entre seus dedos. Por alguma razão impertinente eu olhei diretamente para ele, um grave erro de principiante.

Eu vi agora o que Jess e suas cobras viam, por razões óbvias, Sr. Clark era um cara alto e deveria passar as noites de sexta com alguma bela mulher comendo queijos e bebendo um ótimo vinho. O rosto bonito e que de longe mostrava ter mais do que quarenta e cinco anos, talvez não passasse dos trinta e dois. A barba por fazer e o cabelo curto apenas para que ele não precisasse se preocupar, o rosto de quem tiraria sua calcinha apenas com um suspiro.

— Educação, era o que todos pregavam e isso deveria ser muito mais do que uma regra. Deveria ser obrigação. — Eu engoli seco quando ele terminou de dizer e se curvou próximo do ouvido de Jess. — Educação, senhorita Wilson, pedirei a última vez, ou a colocarei na última carteira para que possa varrer a parede.

Eu segurei a risada, no entanto, a classe não. Jess puxou os cabelos da minha carteira e os ajeitou apenas de um lado do ombro, aparentemente, apenas para mostrar parte do seu pescoço para os olhos do professor.

— Me perdoe, Sr. Clark...

O Sr. Clark se endireitou e apertou meu ombro antes de ignorar Jess e seguir para a sua mesa. Meu dia tinha ganhado um significado, finalmente.

Ele continuou parte da explicação e eu sorria internamente olhando para a cabeleira comportada a minha frente, o ninho de cobras estava recolhido por hora e eu finalmente tinha um pouco de paz.

A aula acabou e a minha felicidade também, arrumei minhas coisas e saí antes que jogassem milho para as galinhas, pelo menos eu pensei que tinha conseguido. O burburinho e as risadas começaram baixas atrás de mim antes de chegar ao elevador, então elas entraram também.

O meu brilho foi embora quando me lembrei que deveria ter preso o cabelo de novo, pois foi alvo dos dedos compridos de Jess por todo o tempo até que as portas deram sinal de que se fecharam.

— Deveria tomar cuidado, Sarah e descobrir onde é o seu lugar é um começo.

A porta por pouco se fechou graças a mão apressada do Sr. Clark. Agora minha sepultura estava feita.

Jesse continuou puxando aquela mecha de cabelo como se estivesse na quinta série, foi como se ela tivesse se esquecido que agora era uma mulher adulta. Eu suspirei a poucos segundos de socar a cara sorridente dela.

— Importunação é crime, senhorita Wilson.

Ela tossiu e riu antes de dar um passo à frente.

— Estamos apenas brincando, não é Sarah?

Eu bufei, a pré-escola seria o lugar ideal para ela.

O elevador finalmente abriu e ele fechou a passagem delas e esticou a mão para mim, me dando passagem antes que elas me importunassem outra vez.

— Senhorita Taylor... — Eu engoli a saliva com tanta dificuldade, que demorou até que meu cérebro detectasse a informação e me fizesse caminhar.

— Obrigada, Sr. Clark. — Gaguejei e saí recebendo um aceno com um sorriso que quase chegava a ser doce.

Eu não estava preparada para o que vinha a seguir, ainda mais se fosse depender de Jess e aminha vida acadêmica. Corri para fora do edifício tentando me afastar o máximo que eu podia dos olhos acusadores e do leve deboche do Sr. Clark.

E eu tinha esquecido de devolver a m*****a caneta.

— Gostaria de comer os resíduos tóxicos do hospital também? Olha, eu não me oponho. — Mike puxou a caneta da minha mão, eu deveria estar mordendo-a a horas já. — Tiraria o peso de me preocupar com o descarte ilegal.

— Não me faça responder da maneira que quero.

Ele sorriu e se sentou ao meu lado.

— E você deveria estar em casa, qual é o seu problema?

Pensei por alguns segundos. Eu tinha uma ligeira atenção especial do Sr. Clark, pelo que parecia. Também uma jura de morte dos olhos castanhos de Jess e um emprego onde meu supervisor não me deixava trabalhar, qual problema eu diria a ele?

— Nada demais, não vou bater o ponto, apenas me deixe ocupar a mente. — Resmunguei cansada.

Mike era um cara legal, tinha trinta e dois anos se não me engano e um sorriso encantador.

— Vamos, você precisa beber e eu preciso descansar a mente.

Eu não tinha que trabalhar e por causa da minha faculdade, já passava da hora de estar na cama. Mas eu precisava mesmo andar pelo caminho do alcoolismo e ser tão irresponsável quanto uma porta, minha mãe adoraria saber disso.

— Sem boa noite Cinderela. — Caçoei e ele bufou fazendo uma careta inconformada.

— Merda. Rohypnol seria melhor? Eu estava pensando em Frontal, mas eu queria você acordada, mulher inconsciente não é o meu lance. Tenho pavor de bonecas.

— Você precisa se tratar, Mike.

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