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..... DIA SEGUINTE .....

— Raul, querido, você se serviu com a farofa? — a minha mãe se aproxima de nós, apoiando as mãos no ombro do Raul — Fiz especialmente para você.

— Foi a primeira coisa que peguei, Sandra. Está deliciosa como sempre, obrigada. — Raul responde num elogio.

Como podem ver, o Raul agiu de maneira sensata e está me acompanhando neste almoço em família. Que bom ele ser um homem sábio nas decisões, caso contrário seria agora um homem morto.

— Fiquem à vontade, logo, o Luís e a namorada irão chegar. — a minha fala e se afasta.

É notório como a minha mãe ama o Raul, sempre procura tratá-lo bem.

— Viu só, filho? — Raul se dirige ao Pietro que está sentado ao seu lado — A segunda coisa melhor ao se casar com uma boa esposa, é ter uma boa sogra.

— Espero que quando eu me casar eu também tenha uma boa sogra, pai. — Pietro diz.

— Ei! Você é muito novo para falar de casar e muito menos de sogra. — reclamo num tom brincalhão.

— Eu vou ser como você, mamãe. — o Pietro fala.

— Como? — pergunto.

— O papai disse que vocês eram novos quando se conheceram. — Pietro responde.

Mordo os lábios.

Às vezes sinto como se fosse um erro, ter me casado cedo. Tem sido tantas decepções em relação ao Raul — ele não me procura mais para ter relações, mal conversamos e nem planejamos mais viagens.

— Você pode fazer isso, Pietro. Mas saiba que o amor vem no momento certo, para nós foi em um tempo e para você será em outro. — Raul fala ao notar o meu silêncio.

Será que ele não percebe o quanto a nossa relação tem se tornado desgastada? Aparentemente, pelas suas palavras, a resposta é não.

— Olá, família! — viro o olhar para ver o meu irmão Leonardo com a sua noiva, Taciane, atravessarem a porta que dá na área gourmet da casa dos meus pais. O seu olhar se desvia em minha direção, então um sorriso preenche o seu rosto.

Escuto um suspiro sair do Raul, já percebo o desgosto dele ao ver que o meu irmão está vindo em nossa direção.

Esta desavença do Raul é com todos os meus irmãos — que a propósito são três — mas não é a toa, os rapazes sabem tirar qualquer um do sério, em especial, o meu marido.

Eu não os julgo, por eu ser a filha caçula e única mulher no meio deles, acabo recebendo mais carinho, atenção e principalmente os ciúmes deles. Na primeira vez que o Raul veio na casa dos meus pais, o clima foi intenso, mas quando disse que iria me casar... Meu Deus! Só faltou os meus irmãos me levarem embora do país para me impedir.

Sempre que me lembro destes momentos, acabo rindo, porque quando éramos mais novos, os rapazes e eu vivíamos em pé de guerra. Eles adoravam me azucrinar e eu não deixava barato, vivia aprontando com os pertences deles. No entanto, agora somos adultos e nos comportamos civilizadamente... na maioria das vezes.

— Parece que nos encontramos mais cedo do que esperávamos. — Leonardo diz ao se aproximar da mesa em que nós três estamos sentados, almoçando.

— Que infelicidade... — Raul murmura.

— E aí, Lau? — Léo deposita um beijo na minha testa, ele sempre foi o mais carinhoso.

— Tudo bem, Léo? — sorrio com o seu cumprimento.

— Raul. — ao se afastar, o meu irmão se dirige ao meu esposo, mantendo uma distância segura e apenas fazendo um leve movimento com a cabeça.

— Léo. — o Raul retribui.

— Tio Léo! — Pietro se levanta para abraçar o tio.

— Pepê! — Léo retribui o abraço, dizendo o apelido que ele deu para o Pietro.

Nenhum dos meus irmãos se arriscou na paternidade até o momento, sendo assim, a atenção é todo voltado ao Pietro — será que ele gosta de toda esta atenção?

A Taciane vem logo atrás, levanto-me para poder cumprimentar a minha cunhada.

— Oi, Tatá! Como você está? — digo durante o abraço que damos.

— Estou bem e você, Lau? — ela pergunta.

— Ótima. — respondo, ao nos afastarmos.

Sorrimos.

— Ansiosa para conhecer a nova cunhada? — ela pergunta.

— Curiosa seria a palavra. — respondo — Vamos ver quem é a moça da vez!

— Nem fale, o Luís faz este suspense. — Taciane reclama.

— Eles devem estar chegando para acabar com o mistério. — digo.

A Taciane concorda e dirige a palavra ao Raul:

— Bom dia, Raul. Tudo bom?

— Bom dia, Taciane. — o Raul responde, com um semblante mais amigável.

— Cumprimenta a sua tia e vamos encontrar uma bola para praticarmos umas embaixadinhas. — Léo fala para o Pietro.

Estes dois adoram futebol.

— Oi tia Tatá. — Pietro abraça a mulher.

— Oi, Pepê. — ela dá um beijo em sua bochecha.

— Nós já voltamos. — Léo sai puxando o meu filho junto, se afastando dali.

— Eu também vou me servir, porque o cheiro está ótimo da comida da sogrinha. — Taciane avisa — Eu já volto aqui.

— Tudo bem. — concordo.

A Taciane se afasta, nos deixando a sós novamente.

— Onde está o Lorenzo? Ele ainda não deu as caras por aqui. — o Raul pergunta-me.

— A minha mãe disse que ele ainda estava no quarto, chegou tarde e provavelmente acordou de ressaca. — respondo, voltando a minha atenção ao meu prato.

— Que vida, hein? — Raul faz uma careta.

Dou de ombros. Apesar de eu concordar com o Raul que esta vida de solteiro que os meus irmãos vivem é um desperdício de tempo e dinheiro, a escolha é deles e eu não devo me intrometer.

O meu irmão mais velho, o Leonardo tem trinta e seis anos e após anos de namoro com a Taciane, eles decidiram noivar e moram juntos já tem um ano. Já os meus irmãos, sendo gêmeos, Luís e Lorenzo, têm trinta e três anos e ainda moram com os meus pais.

Escuto um murmúrio, volto a atenção para a porta, vendo ser os meus pais com o Luís e a sua namorada. Ela é muito bonita, com o longo cabelo escuro solto e sua altura notável, parece até uma modelo.

— Se comporte... — murmuro para o meu esposo, quando ele percebe a presença do meu irmão e faz um careta.

— Eu sei me comportar, são os seus irmãos que deviam escutar isso. — ele murmura.

— Eu sempre digo a eles para não te tirarem do sério. — falo.

— Pena que eles não dão a mínima. Fazem justamente o oposto. — Raul reclama.

Abro a boca para falar, mas sou interrompida quando o Luís se aproxima, seguido de sua namorada.

— Agora, quero te apresentar a minha irmã Laura e o seu marido, Raul. — Luís nos apresenta — Pessoal, esta é a Giovana.

— É um prazer conhecê-la. — levanto-me para abraçar ela.

— O prazer é todo meu. — a moça diz gentilmente.

— É um prazer. — Raul cumprimenta com um aperto de mãos.

— Raul... — Luís chama e já percebo que ele irá fazer uma provocação.

— Lá está o Léo e a Tatá. — aviso — Eles estavam loucos para conhecer a Giovana.

— Vamos lá, amor. — Luís diz para a namorada.

— Com licença. — Giovana diz educadamente e eles se afastam.

Ufa! Consegui evitar que algum aborrecimento acontecesse; já que o Raul veio contragosto, tenho que fazer valer a pena.

.....

RAUL ON

O Pietro vem até nós, após ficar desaparecido a tarde toda, ele vem todo suado e sujo.

— Meu Deus, Pietro! — a Laura exclama ao ver o estado do garoto — Como você ficou assim, filho?

Contenho o riso.

— Eu estava caçando tatus bolinhas no jardim. — ele responde.

— Está parecendo que você foi a uma expedição de caça. — rio.

— Foi bem divertido. — Pietro conta.

— Eu posso imaginar, você deu a sua vida para essa brincadeira. — comento.

O Pietro ri do meu comentário.

— Pare de brincar, Raul. — a Laura chama a minha atenção — Você não pode ficar assim, vamos entrar para você se limpar.

— Tá bom. — Pietro concorda e então os dois saem da mesa, indo para dentro da casa.

Afundo o corpo na cadeira, observando o ambiente. Por insistência da Laura, eu vim para este almoço em família na casa dos meus sogros, mas eu não tinha desejo algum de vir. Quero dizer, tenho muita consideração pelo Ronaldo e Sandra, eles são muito receptivos comigo; o problema são os irmãos da Laura.

Por que três irmãos?

Um já é demais, agora três... é para testar a paciência de qualquer um!

Desde que entrei na vida da Laura, eles me odeiam. O mais simpático é o Leonardo, o qual evita algumas brincadeiras; mas em compensação, o Luís e o Lorenzo sempre tem alguma carta na manga. Todos estamos no auge dos trinta anos, contudo, eu sou o único que age como um adulto.

Enquanto a Laura está perto, ela barra os irmãos de qualquer gracinha, mas em qualquer brecha, eles não perdem de tirar uma com a minha cara... e não é diferente agora:

O foco da conversa estava sendo sobre a nova integrante da família, a namorada do Luís — veremos até quando — que estava nos contando sobre o seu trabalho; a Giovana é dona de uma loja de cosméticos na cidade, que tem crescido muito e feito sucesso.

— A propósito, o salão que consegui comprar agora para a loja, pertencia a sua imobiliária, não é Raul? — a Giovana direciona a palavra a mim.

A área gourmet é no fundo da casa, com um quintal amplo todo acimentado, com a piscina mais ao canto. Porém, como a temperatura está baixa, todos estão evitando a água.

— Isso mesmo. — respondo — Você fez um bom uso do amplo espaço do salão.

— Obrigada. — ela agradece.

— A Sandra e eu chegamos a ir várias vezes ao antigo local da sua loja. — Taciane se manifesta na conversa — Ainda não tive a oportunidade de conhecer o novo local.

— O meu antigo espaço ficava próximo dali e sempre eu ficava sonhando em comprar o salão. — Giovana conta — Fiquei feliz de ninguém ter comprado antes de mim.

— Infelizmente, o antigo dono não soube aproveitar o salão. — comento — O espaço é bem amplo e a logística é ótima para um comércio.

— Tenho que concordar. — a Giovana afirma.

Talvez seja por estar enciumado de eu estar me dando bem com a Giovana ou apenar por birra mesmo, mas o Luís se manifesta na conversa:

— Mas é claro que com o patrocínio da família Veiga, ficava fácil comprar aquele salão e tantos outros...

— Como? — pergunto.

Agora, o satanás... quero dizer, o Lorenzo chega, com um semblante deplorável de ressaca.

— Finalmente, bela adormecida. — Leonardo comenta ao ver o irmão.

— Isso são horas, Lorenzo? Eu te chamei mais cedo. — a minha sogra reclama.

Após o almoço, cada um se sentou num canto e ficamos conversando.

— Eu estou morto, mãe. — Lorenzo reclama, puxando uma cadeira para se sentar em nosso meio — Só me levantei porque vocês conversam muito alto, não dá para dormir.

— Não vai nem cumprimentar a Giovana? — Sandra pergunta.

— Nós já nos conhecemos, eu que apresentei estes dois. — Lorenzo conta.

— Sinto muito por isso, Giovana. — Leonardo fala — Tantas pessoas para você conhecer, foi logo no pior.

Todos riem.

— O Luís é um amor, minha melhor escolha. — Giovana diz toda boba de amor.

Faço uma careta.

— Ei, Lorenzo! — Luís volta a falar — Eu estava contando para a Giovana, a respeito dos investimentos imobiliários do Raul e que a nossa família patrocina.

Aonde este mala quer chegar? Coisa boa é que não é.

— Sério? — Lorenzo pergunto confuso.

Com um olhar que parece ser uma comunicação entre os gêmeos, o Lorenzo parece entender aonde o irmão quer chegar e então fala novamente:

— Ah sim! É mesmo, a família Veiga é um colaborador muito presente para a imobiliária.

— É mesmo? Não sabia terem esta ligação. — Giovana diz caindo na conversa dos rapazes.

— Somos um colaborador oculto, não queremos tirar o mérito do Raul. Ele luta muito para ser uma boa imagem para o seu negócio. — Luís acrescenta.

— É tudo mentira, querida. Os meninos estão apenas brincando. — Sandra se apressa em dizer.

— A propósito, a imobiliária pertencia ao meu pai que ficou para mim por herança. — conto.

— Mas que foi a falência logo que o Raul tomou a frente. — Lorenzo lembra.

— Vocês sabem que não foi assim que aconteceu. — digo num tom sério — É melhor contarem a história direito.

Os rapazes riem porque viram que provocação deu efeito: eu mordi.

— Eles são uns bobos. Não dê ouvidos a eles, Raul e nem você, Giovana. — Sandra tenta apaziguar a situação.

— Não se preocupe, já percebi ser uma brincadeira dos rapazes. — Giovana fala.

— Eles adoram provocar o Raul. — agora é a Taciane quem fala — Parece que eles ainda sentem ciúmes da irmãzinha.

As mulheres riem, mas eu não vejo graça. A minha postura séria serve de mais liberdade aos meus cunhados para continuarem a provocação; agora, quem se manifesta na conversa é o Leonardo, que decidiu entrar na brincadeira:

— Eu não sei muitos dos detalhes da história, Raul, mas a única certeza que eu sei é que a Laura teve que trabalhar na nossa empresa para poder te ajudar a reerguer a imobiliária. — ele continua com um olhar cínico — Querendo ou não, é o dinheiro nosso que sustenta os seus negócios imobiliários.

— Temos parte dos seus investimentos, hein? É melhor começar a mandar os juros de rendimentos. — Luís acrescenta.

Mordo o lábio inferior, me contendo.

"Não estrague o almoço em família, Raul! Muito menos, brigue com os seus cunhados na casa da sua sogra." — penso tentando me acalmar.

A Laura não iria gostar nenhum pouco de uma discussão.

— No início foi difícil e a Laura ajudou muito no sustento de casa, mas agora esta fase ruim passou e estamos bem. — digo passivamente.

— Graças a Deus! Tudo se resolveu, ficamos todos felizes por vocês, Raul. — a Sandra diz com um sorriso nervoso.

— Pode até ser, mas ouvi falar que o Raul se tornou um turco de tão mão fechada que é. — Lorenzo fala, agora com um semblante mais alegre. Aparentemente, zombar do cunhado é a cura para a sua ressaca.

— Por isso a Laura está trabalhando até hoje na empresa, é difícil parar com um homem tão pão duro em casa. — Leonardo acrescenta.

Reviro os olhos.

— Quando é que você vai retomar o seu papel de homem da casa e cuidar da Laura? — Luís pergunta — Ouvi falar que é ela quem paga a escola do Pepê... — ele diz num tom baixo, mas acabo por escutar.

Esta foi a gota d'água!

— Escutem aqui seus imbecis... — bato a mão com força na mesa, chamando a atenção de todos.

O Luís e o Lorenzo tem um olhar debochado para mim, enquanto o Leonardo é repreendido pela Taciane pelas palavras.

— Calma, Raul, os meninos irão parar com isso. Que brincadeira de mal gosto! — a Sandra se levanta, tentando controlar a situação e lança um olhar mortal para os filhos.

Tenho muitas palavras para despejar, mas sou contido quando a Laura volta acompanhada do seu pai que carrega o Pietro no colo.

— O que está havendo? — a Laura pergunta, olhando para cada um de nós procurando alguma resposta.

Eu nem percebi que o senhor Ronaldo não estava ali, ele também tem um olhar sério.

— Os seus irmãos que estão provocando o Raul, como sempre, Lau... — a Taciane responde.

O olhar da Laura repousa em mim, esperando que eu diga algo e isso só me faz sentir mais raiva.

O que ela quer que eu faça? Fique numa boa após aguentar os comentários idiotas da família dela?

— Eu vou esperar no carro. — é o que digo, levanto-me e saio dali.

— Eu já vou. — ela diz quando passo ao seu lado.

Atravesso a porta, deixando um clima ruim para trás e os burburinhos de conversas da família Veiga, provavelmente, sobre o que houve.

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