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Capítulo 2 - Lua de mel

  James

  Nunca achei que meu retorno aos Estados Unidos terminaria com uma aliança no dedo. Na verdade, nem lembrava qual foi a última vez que coloquei algo tão pesado quanto um compromisso.

  A festa terminou, e eu ainda estava tentando entender em que parte do roteiro tudo tinha saído dos trilhos. Eu vinha pra assistir um casamento — não pra ser o noivo substituto.

  Meus pais inventaram essa loucura de casarem meu irmão com a filha dos amigos deles. União de negócios, e de família. Nossos pais são amigos há algum tempo, e queriam unir suas empresas no ramo de alimentos para deixarem de ser concorrentes. Na verdade, ouvi dizer que os negócios do sr. Moss não iam muito bem. E meu pai queria expandir os seus. Uma coisa casaria com a outra muito bem, mas não tanto como Lilly com Christopher. Ou comigo. Achei uma completa loucura essa decisão dos nossos pais, desde que Chris me contou que se casaria com a filha do sr. Moss, que nós a chamávamos de 'recatada", porque nunca a víamos nos eventos, e até suspeitávamos que ela fosse feia, ou tivesse algo errado. Um dia Chris me disse que ela era muito bonita e que começou a sair com ela para conhecê-la melhor. Algo que eu tentei imaginar diversas vezes, como um cara curioso que sou.   

  Mas lá estava ela. Lilly Moss Zabott. Realmente linda como Chris havia dito. Minha esposa. Duas palavras que pareciam um deboche do destino.

  Ela se despediu dos convidados com um sorriso educado e postura impecável, o tipo de mulher que nasceu sabendo o que é “manter as aparências”. Eu, do outro lado, fingia estar perfeitamente à vontade, enquanto pensava na quantidade de bebida que precisaria pra esquecer aquele dia.

  Quando o motorista anunciou que o jatinho estava pronto, só o som do salto dela contra o mármore me fez olhar. E, por um breve instante, juro que pensei que o mundo tinha parado. A mulher era um pecado embrulhado em recato.

  Seguimos até o avião da família — claro, Zabott Airlines, um luxo desnecessário que meu pai adorava exibir. Eu entrei primeiro, joguei o paletó no banco e me sentei, de frente pra ela. Cada um em sua poltrona, a distância exata entre o que fomos obrigados a ser.

  O silêncio foi o som mais alto da viagem. Ela olhava pela janela, o rosto iluminado pela luz da pista. Eu fingia estar relaxado, mas a verdade é que minha cabeça girava. A ficha ainda não tinha caído. Eu, James Zabott, o filho desgarrado, o desgosto da família, tinha acabado de casar. Com a noiva do meu irmão.

  Peguei o celular, pela décima vez. Disquei o número de Christopher.

  Desligado.

  Respirei fundo.

  — Covarde — murmurei, mais pra mim mesmo.

  Tentei de novo. Nada. Apertei o celular entre os dedos, com raiva contida.

  Ele sempre foi o exemplo. O modelo de tudo que eu não queria ser. O filho perfeito, o herdeiro ideal, o orgulho dos Zabott. E agora, o bastardo que me jogara no altar no lugar dele.

  Fiquei olhando pra Lilly. Ela parecia feita de calma. Ou talvez só soubesse esconder melhor o pânico. Devia estar odiando tudo aquilo tanto quanto eu.

  Mas havia algo nela que me desconcertava — e não era só a beleza, que era estonteante. Era o controle. Aquela mulher tinha o tipo de elegância que irrita qualquer homem que não saiba lidar com rejeição. E eu sempre gostei de mulheres que não sabiam dizer “não”.

  Desviei o olhar.

  O piloto anunciou o destino: Amalfi, Itália. A ideia fora do meu pai — "a lua de mel já estava paga", ele dissera. Claro, Deus nos livre de desperdiçar dinheiro.

  A vista pela janela era uma mancha escura de nuvens e silêncio. Peguei mais uma vez o celular, mandei uma mensagem curta pro número do Christopher:

  "Você vai pagar por isso, irmãozinho. Juro."

  Larguei o aparelho no assento e encostei a cabeça.

  Lilly mexia nas próprias mãos, sem olhar pra mim. E por um instante, me perguntei se ela também estava pensando que, talvez, um acidente tivesse sido mais gentil do que esse casamento.

  Fechei os olhos, cansado. Ainda não sabia como ia sair dessa. Mas sabia que, quando saísse, Christopher Zabott ia me dever mais do que um pedido de desculpas. 

                          ***

  O jatinho deslizou pelo céu como se até o vento estivesse com medo de quebrar o silêncio entre nós. Nenhum de nós dois tentou conversar. A cada minuto que passava, eu sentia o peso do absurdo aumentar.

  Ela, sentada à minha frente, continuava imóvel, olhando pela janela como se lá fora houvesse alguma saída. A luz baixa da cabine desenhava o contorno do rosto dela, o brilho delicado do vestido contra o assento — e por um instante, eu precisei desviar o olhar.

  A viagem pareceu durar uma eternidade. Quando o avião pousou na costa da Itália, o sol já começava a nascer. Amalfi era exatamente como eu lembrava: uma pintura viva de mar, montanhas e cheiro de limão. Um cenário de romance — e ironicamente, o pior lugar possível para dois recém-casados que não queriam estar casados.

  O motorista já esperava no aeroporto. Entramos no carro sem trocar uma palavra, e a estrada costeira foi o bastante pra me lembrar que até o paraíso pode parecer sufocante se você estiver preso nele.

  O hotel era um palácio. Literalmente. Fachada de pedra clara, varandas cobertas por buganvílias, vista para o mar azul-turquesa. E, claro, o quarto reservado com tudo que uma lua de mel dos sonhos exigia: pétalas de rosa, taças de champanhe, uma cama grande demais, e uma única chave.

  Lilly parou na porta, observando o ambiente, o corpo tenso, como se estivesse prestes a entrar numa armadilha.

  — A decoração é… bonita — ela disse, tentando ser diplomática.

  — É romântica — corrigi, olhando ao redor. — Uma pena que o romance morreu antes mesmo de embarcar.

  Ela suspirou.

  — Você não precisa ficar se for um incômodo.

  — E deixar você aqui sozinha? — arqueei a sobrancelha. — Isso soaria terrivelmente irresponsável de um marido.

  Ela me lançou um olhar rápido, sério, mas sem rancor.

  — Obrigada pela consideração, mas prefiro ficar um pouco sozinha.

  Havia algo na forma como ela disse isso — calma, firme, sem pedir permissão — que me fez querer obedecer.

  Peguei a chave reserva na mesa, vesti o blazer e fiz um leve aceno com a cabeça.

  — Tudo bem. Eu volto mais tarde.

  Ela assentiu, aliviada.

  E quando saí do quarto, percebi que também respirei melhor.

  A rua estava viva, cheia de gente, música e cheiros misturados de vinho, sal e limão. Entrei no primeiro bar que encontrei e pedi uma garrafa. Nada sofisticado, nada importado — só queria que queimasse o suficiente pra entorpecer o raciocínio.

  O celular vibrou. Não era o Christopher. Ninguém. Era uma mulher, com quem eu saía às vezes, Mas não atendi. 

  Tentei ligar para Chris de novo. Desligado. O covarde continuava em silêncio.

  Dei um gole longo, o suficiente pra sentir a garganta arder.

  Em volta, mulheres riam alto, todas bonitas, leves, despreocupadas. Uma morena na mesa ao lado me lançou um sorriso. Eu retribuí — por instinto, por reflexo, ou talvez por tentativa. Mas, por alguma razão, o rosto que veio à minha mente não era o dela. Era o da mulher que eu deixei sozinha no quarto, sentada em meio a pétalas de rosa e promessas falsas. Lilly Moss Zabott.

  Havia algo nela que me tirava o sossego. Não era só o rosto bonito ou o corpo perfeito escondido sob aquele ar disciplinado — era o silêncio. O tipo de silêncio que te provoca a querer descobrir o que tem por trás.

  Bebi mais um gole. Não fazia sentido pensar nela. Nenhum. Mas a verdade é que eu já estava pensando demais. E não fazia ideia de como ia sair de uma situação sem me perder no processo. Eu era um homem livre, para fazer o que quisesse, e não queria mudar isso, por nada, nem por ninguém. 

  O meu celular vibrou no bolso da calça. Rapidamente o peguei na esperança de ser o Chris e ele me tirar dessa loucura. Mas era meu pai, que estava com uma voz tensa e quase muda. 

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