Retrato falado
O delegado estreitou os olhos procurando quem disse aquela frase, o grito desesperado vindo do fundo da multidão.
Seus passos firmes cortaram o silêncio quando ele avançou em direção ao homem que acabara de gritar.
Era um sujeito magro, de aparência cansada, os cabelos desgrenhados e os olhos arregalados como se ainda estivesse diante do horror. As mãos tremiam e seguravam o jornal como um escudo inútil.
O delegado parou diante dele.
“ Foi você quem disse isso?” a voz dele soou firme, porém baixa, como se não quisesse chamar mais atenção do que o necessário.
O homem assentiu, o queixo trêmulo.
“ Eu vi... vi aquilo. Era grande... muito maior que um homem. Os olhos brilhavam no escuro, vermelhos. E os dentes... os dentes pareciam facas, afiadas, sujas de sangue.”
O delegado o segurou gentilmente pelo ombro, tentando ancorá-lo à realidade.
“ Escute... preciso saber mais. Consegue me dizer o que viu com detalhes?”
O homem hesitou, engolindo em seco.
“ Não sei... foi tudo t