Cinco

Assinei alguns contratos e estava tudo negociado. O aluguel não era caro e conseguiria arcar com as despesas da casa de acordo com meu pequeno salário mais o dinheiro que recebo dos meus pais.

Passei no banco e consultei a possibilidade de um empréstimo. Pouca coisa, apenas para comprar alguns móveis necessários e decorar meu novo apartamento de acordo com meu gosto.

Consegui dez mil de crédito e estava mais do que suficiente. Dava até mesmo para pagar o conserto do meu carro, que por sorte, não ficou tão caro quanto eu esperava.

Roger tem conhecidos para a pintura dos cômodos, então já fui à pesquisa de cores. Como sou muito indecisa em tudo, decidi deixar tudo branco e pesquisei na internet estilos de decorações. Adorei uma frase que encontrei em madeira numa loja de decoração.

Ame o que você faz

Faça o que você ama!

Havia voltado ao apartamento junto com quem iria me ajudar na decoração dele, com ferramentas adequadas. Como sai cedo do trabalho, às três horas da tarde, deu tempo de fazer tudo. Ainda eram 17h30min, e felizmente, ainda não havia começado a chover.

Encomendei móveis necessários para a casa de uma mulher solteira e recém separada. Optei por um sofá cinza, meio grafite, com pequenas almofadas cilíndricas em suas extremidades. Bastante simples, dando um ar de sofisticação a sala de estar. Um estilo de aparador com um painel para pendurar a televisão e até uma poltrona giratória branca, para ficar no cantinho da sala. Uma cama de casal, estilo cama box, com as laterais pretas e o colchão branco. Um armário branco, com duas portas de correr inteiras de espelhos e um estilo de baú para colocar a frente da cama. A parte da cozinha, deixei pra pensar depois, já que meu tempo já estava acabando e precisava tomar uma decisão com Mateo a respeito de nosso antigo apartamento.

Talvez possamos vender o apartamento com tudo dentro, ou não. Eu só esperava que nós pudéssemos chegar em um acordo.

Os móveis chegariam em poucos dias, mas insisti para que alguém fosse lá ainda hoje, me ajudar a decorar algumas coisas. Inclusive pendurar a frase maravilhosa e impactante que tinha acabado de comprar. Queria colocar no quarto, bem acima de onde ficaria a cama.

E enquanto ele se preparava para pendurar, fui até a sala e fiquei admirando o espaço, imaginando como ficaria tudo depois que eu decorasse. Não deixava de pensar em Mateo e em como foi quando compramos os primeiros móveis pro nosso apartamento. Era tudo tão perfeito que fico sem acreditar como tudo acabou desse jeito. Lembro de seu sorriso a cada nova compra e como ficou quando finalmente estava tudo pronto.

Estreamos o apartamento de todos os modos possíveis. Mas não era momento de pensar nele. 

Vida nova, pensamentos novos!

Repetia a mim mesma, tentando afastar todos aqueles pensamentos que insistiam em aparecer nessas situações. Além do mais Mateo era meu amigo, apesar de tudo.

Logo após o cara ir embora, eu estava terminando de arrumar umas últimas coisas, quando começou a chover repentinamente. Meu carro estava na garagem do prédio, o busquei no mecânico pouco depois de sair da loja de decoração, mas não tinha condições de ir embora com à proporção que a chuva havia tomado.

Então continuei limpando e arrumando tudo, enquanto esperava a chuva pelo menos amenizar. Precisava de música e lembrei que havia deixado meu celular no carro. Tranquei o apartamento e me dirigi ao elevador. Esperei pacientemente e a porta se abriu, revelando uma pessoa que eu nunca esperaria encontrar naquele prédio.

O acaso me persegue. Não é possível. Sempre fujo de situações embaraçosas e agora encontro com quem eu menos queria ver, justo no elevador do prédio para onde por acaso, eu estou me mudando.

— Por acaso você está me seguindo? — murmurei para ele.

— Muito pelo contrário, senhorita. — retrucou, em tom de deboche — Eu moro nesse prédio, parece que é você quem está me seguindo.

Olho boquiaberta pra ele, não querendo acreditar no que acabo de ouvir.

— V-você mora aqui? — balbuciei.

— Sim! — Harry responde com indiferença — Mas se não se importa, prefiro não ficar parado dentro do elevador enquanto converso com uma pessoa. — disse enquanto saía do mesmo. — Aliás, o que faz aqui?

— Estou me mudando. Apartamento 403.

— Está falando sério? Meu apartamento é o 404! Pelo visto, somos vizinhos de porta de agora em diante.

Por fora, eu tentava transparecer que não estava nada feliz com aquela ideia, embora por dentro uma parte em mim ficou alegre em saber daquilo.

— Quer entrar? Já que parece que não vai embora agora, nessa chuva...

— Na verdade estava... — por um momento esqueci o que estava indo fazer, mas foi só por um momento mesmo — Estava indo embora mesmo! — disse decidida, mesmo que isso não fosse verdade.

— Não, não estava. Vem! — disse e me puxou pelo braço, arrastando-me até a porta de seu apartamento como se eu fosse uma criança.

— O que? Eu não quero entrar. E pelo que eu me lembro, você perguntou se eu queria.

— Isso foi antes de saber que você iria embora nessa chuva. — revirei os olhos e ele riu da minha reação infantil, mas abriu a porta e gesticulou para que eu entrasse.

Me dei por vencida e entrei.

Seu apartamento é simples e claro. Parecido com o meu, praticamente igual. Paredes brancas me cercam por todos os lados e só vejo cores em detalhes no cômodo onde nos encontramos. Era mais organizado do que eu imaginei e a ideia de imaginá-lo arrumando a casa, é muito atrativa e hilariante.

Contrário os lábios numa tentativa falha de conter o riso e ele olha pra mim, querendo entender o porquê de eu estar rindo, quando não há nada de engraçado a nossa volta.

— Do que está rindo? — murmura quase que em um sussurro, enquanto se dirige a cozinha. — Quer alguma coisa?

— Nada. Mas aceito um copo de água. Obrigada. — digo, envergonhada, enquanto ele abre a geladeira e pega uma jarra de vidro com água e serve em dois copos compridos.

— Então... Hope, não é? O que a traz a esse prédio?

— Acho que já lhe disse, estou me mudando. — retruco, com desdém.

— Não foi o que eu quis dizer. O que a fez escolher esse prédio? — tenta de novo.

— A comodidade que ele irá me trazer. É perto de onde eu trabalho e da casa do meu melhor amigo. — dou de ombros.

— Bem animado esse seu amigo.

— Sim. — concordo.

— Mas então, o que você faz?

— Trabalho na editora de uma revista de moda. E você?

— Ah, legal! — fala meio entusiasmado. — Minha família está no ramo imobiliário desde que eu me entendo por gente, então sigo esse caminho desde sempre. Você tem irmãos? — pergunta, me parecendo muito interessado de repente.

— Tenho, um mais novo. E você? — pergunto por educação.

— Tenho uma. Amélia é a mais velha.

— Ah, legal. Acho então que você pode me ajudar numa questão futura. — seus olhos brilham, quando digo isso.

— Alguma questão especial?

— Nada muito sério, preciso resolver umas coisas. Você tem um cartão com um número que eu possa entrar em contato ou até mesmo um endereço?

Assim que menciono a palavra cartão, ele já parte a procura da carteira e retira um cartão de visitas com a logotipo 'Sawyer and Garcia'. Seu nome e número de celular estava logo abaixo.

Seus olhos já não brilham como antes, pois percebeu que meu assunto pendente é apenas a venda de um apartamento.

— Então... acho que já deu a minha hora e pelo visto a chuva já cessou um pouco. — murmuro, enquanto me levanto do sofá.

— Ah, que pena! — disse, desanimado.

— Enfim, qualquer coisa eu entro em contato com você... — paro um momento pra olhar o cartão — Harry.

Ele sorri por um instante e me leva até a porta.

— Foi um prazer, Hope. Até mais! — disse, me dando um rápido beijo na bochecha e abrindo a porta em seguida.

— O mesmo! — dei um sorriso tímido e breve a ele, saindo pela porta sem olhar para trás.

Dei uma olhada no relógio e os ponteiros mostravam que já passava das nove da noite. Já era tarde e eu não tinha noção de que o tempo havia passado tão rápido.

Fui até a garagem, me abraçando por causa do frio que havia começado a fazer devido à chuva e abro o carro, ligando o aquecedor imediatamente. Iria para a casa do Roger e amanhã iria ver Mateo, a fim de conversar sobre o que faremos com o apartamento.

Chegando em casa, encontrei Roger na sala concentrado, assistindo algum filme de sua longa lista de filmes românticos, parando apenas para me olhar e franzir o rosto.

— Por onde andou, mocinha? — questionou, enquanto me analisava.

— Fui em busca de um apartamento.

— Ah não, Hope! Você sabe que pode ficar aqui. Gosto de te ter aqui, você sabe disso! — choramingou.

— Eu sei, Ro. Mas você precisa da sua privacidade. Você tem seus casinhos por aí e eu não quero ser empata foda de ninguém.

— Você nunca vai ser empata foda, para com isso! Aliás, que brilho é esse nos seus olhos, por acaso cruzou com o Mateo por aí? — disse e me cutucou enquanto falava.

— Ih, não! Nada de Mateo! Irei me encontrar com ele só amanhã. Mas encontrei a pessoa menos esperada no prédio onde aluguei o apartamento. — dei de ombros.

— Ai meu Deus, não me diga que foi aquele deus grego, com aquele cabelo invejável? — levou as mãos a boca.

— Ele mesmo — revirei os olhos — Ele mora no apartamento em frente ao meu, e por coincidência trabalha na imobiliária da família. Vai me ajudar na possível venda do meu antigo apartamento com Mateo. — disse enquanto lhe entregava o cartão de visitas.

— Hmmm, Sawyer and Garcia... Harry Sawyer... Estilo ele tem.

Reviro os olhos e dou um sorriso involuntário.

— Enfim... Vou dormir, porque amanhã o dia será cheio. — sussurro e caminho para o quarto.

— Ok, bye, bye!

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