Na manhã seguinte, antes do sol ter banhado completamente a propriedade em luz, ouvi uma batida seca na minha porta.
— A Madre solicita sua presença na sala de estar. Imediatamente. — Disse um guarda, seu tom não deixando espaço para recusa.
Eu tinha acabado de sair do banho, meu cabelo ainda pingando.
Mas a matriarca da família Falcieri não espera por ninguém.
Me vesti rapidamente e desci a escada em espiral.
Na sala de estar, Caius estava alimentando Livia com cerejas importadas, uma por uma. Ela estava meio recostada no sofá de couro, sua barriga grávida proeminente.
Como se ela já fosse a Dona desta casa.
A mão de Caius congelou no ar quando me viu entrar.
— Alessia, você está pálida. — Ele disse, se levantando e caminhando em minha direção, um toque de preocupação em seus olhos. — Não dormiu bem ontem à noite?
A Madre zombou.
— Por que ela não estaria descansada? Ela não carrega peso algum. Ao contrário da nossa Livia, que mal dormiu, se preocupando com o pequeno Don em seu ventre.
Seu olhar era afiado como uma faca.
— Alessia, depois que você a assustou ontem à noite, a condição de Livia piorou. Mandei vir o melhor adivinho, e ele disse que o quarto de hóspedes da ala leste onde ela está tem energia ruim, prejudicial para o feto.
— De todos os quartos desta casa, apenas seu ateliê de joias na ala sul recebe a melhor luz. É o único lugar adequado para ela descansar.
— O quê? — Embora soubesse que eles encontrariam uma maneira de me atacar, não esperava que viessem atrás do meu ateliê.
Era meu santuário. Minha mesa de design, minhas ferramentas, cada peça que já havia criado com minhas próprias mãos...
— Preciso daquele ateliê. — Eu disse, minha voz baixa e firme.
Caius sabia melhor que ninguém o quanto aquele lugar significava para mim. Ele costumava ir lá, para sentar comigo e encontrar inspiração.
Mas agora, quando olhei para ele, ele evitou meu olhar.
— Um hobby de mulher? — Ela zombou. — Você acha que suas bugigangas são mais importantes que o herdeiro Falcieri?
— Um hobby? — Minha voz estava quieta. — Esse é meu trabalho.
— Trabalho? — A Madre zombou. — Alessia, você se casou nesta família há cinco anos. Seu único dever era continuar a linhagem. Agora que Livia está cumprindo esse dever, que "trabalho" você precisa?
Livia escolheu aquele momento para começar a soluçar, uma mão na barriga, a outra enxugando os olhos.
— Mãe, por favor, deixe para lá. Sei que sou apenas uma viúva, não tenho direito de pedir nada. Eu viveria nos estábulos se isso significasse que o bebê nasceria em segurança.
Ela ergueu o rosto molhado de lágrimas para Caius.
— Tudo que quero é dar a você um filho saudável...
Por um momento fugaz, o vi lutar, pego entre seu dever com a família e comigo. Mas no final, ele me abandonou.
— Alessia, é apenas temporário. Depois que o bebê nascer, construirei um ateliê maior e melhor para você.
— Pelo futuro desta família... você não pode fazer este sacrifício?
Olhei para este homem.
Ele estava destruindo tudo que eu prezava pelas mentiras de outra mulher.
Minha égua, meu ateliê, minha dignidade.
Mas nada disso importava mais.
— Tudo bem. — Eu disse, minha voz uniforme. — Tirarei minhas coisas até a noite.
Caius ficou atordoado, claramente não esperando que eu cedesse tão facilmente.
— Você não precisa ter tanta pressa...
— Obrigada, Alessia! — Livia cantarolou, o interrompendo. As lágrimas em suas bochechas ainda estavam molhadas, mas um sorriso malicioso já brincava em seus lábios. — Caius, estou desejando trufas brancas italianas. Você poderia ir buscá-las pessoalmente para mim?
A atenção de Caius mudou instantaneamente. Ele se sentou de volta ao lado dela, acariciando gentilmente sua barriga.
— Claro. Mandarei vir as mais frescas de Milão.
Me virei e caminhei para longe, cada passo como andar em facas.
De volta ao meu ateliê, comecei a embalar. Cada ferramenta de design, cada esboço.
— Senhora, o que está fazendo? — Minha assistente, Sarah, perguntou, seus olhos arregalados.
— Embale todos os meus pertences pessoais. — Eu disse, minha voz como gelo. — Não toque em uma única coisa que pertença à família Falcieri.
Sarah me olhou com preocupação.
— Mas suas peças, todo seu trabalho árduo...
— Não será desperdiçado. — Eu disse, tocando gentilmente um anel de rubi inacabado. — Elas verão a luz do dia em um lugar melhor.
Logo. Tudo isso acabaria logo.
Tarde naquela noite, Caius bateu na porta do meu quarto temporário.
Seus olhos estavam cheios de culpa.
— Alessia, sei que isso é injusto com você.
— Quero o divórcio, Caius. — Minha voz era quieta, mas firme como pedra.
— Divórcio? Por causa de um quarto? — Ele soou incrédulo. — Alessia, pare de agir como uma criança mimada. Você é a Dona desta família. Comece a ver o quadro maior.
— Uma vez que Livia tenha o bebê, tudo voltará a ser como era. Eu prometo.
Voltar a ser como era?
Que risível. O passado onde ele pessoalmente destruiu meus sonhos?
Depois que Livia se mudou para meu ateliê, ela se tornou ainda mais descarada. Ela agia como a senhora da casa, exigindo a atenção constante de Caius e nunca permitindo que ele me visse sozinha.
A única vez que o via era na mesa do café da manhã, cercado pela família.
E toda vez, Livia embalava sua barriga, atraindo toda a atenção para ela e seu "futuro herdeiro".
Três dias depois, era meu aniversário.
Para minha surpresa, Caius se lembrou.
Ele me encontrou na biblioteca, sua expressão pesarosa.
— Alessia, é seu aniversário. Quero passar o dia com você.
— Reservei uma ilha particular para nós. Tem a melhor instalação de paraquedismo do estado. Você sempre quis tentar.
Justo quando eu estava prestes a responder, Livia apareceu, flanqueada por dois seguranças.
— Caius. — Ela murmurou com um sorriso secreto. — Acho que nosso filho quer dizer olá.