Cruel? Jamais imaginei que esse seria o veredicto que Theo proferiria a meu respeito.
Com pressa, enxuguei as trilhas de lágrimas que insistiam em deslizar pelo meu rosto e inspirei profundamente.
— Então, faça o aborto do meu bebê.
— Não.
Theo freou de forma abrupta, imobilizando o carro à beira da estrada, e em seguida se voltou para mim com um olhar inflamado pela raiva.
— Você está louca? Como pode pensar nisso? Eu não abrirei mão nem do seu bebê nem do bebê de Elena.
No dia seguinte, diversos guerreiros lobisomens cercaram nossa casa, e Theo me trancou no quarto, confiscando meu celular e cortando, de uma vez, meu contato com o mundo exterior.
Numa certa manhã, fui despertada pelo tumulto que vinha do piso inferior.
Ao descer, avistei Elena e sua mãe à porta, orientando os trabalhadores a transportar as bagagens para o interior da casa.
Assim que a mãe de Elena me avistou, zombou:
— Você realmente não tem vergonha, está grávida de um filho bastardo e ousa viver com Theo.
Logo em seguida, ela abraçou os ombros de Elena e prosseguiu:
— Você é uma tola, sofreu tanto por Theo! E Theo ainda não rejeitou essa mulher barata!
— Mãe, pare de falar sobre isso. Tudo isso foi minha escolha! — Disse Elena, baixando a cabeça e fingindo o sofrimento.
Enquanto a mãe de Elena conduzia as bagagens para o andar de cima, Elena me lançou um sorriso repleto de escárnio:
— E daí se você é a companheira do Theo? E daí se meu bebê não é dele? Meu lugar em seu coração é bem mais alto do que o seu.
Por alguns instantes, a encarei, e num impulso irrefreável, lhe propinei um tapa retumbante no rosto. Elena levou a mão à bochecha avermelhada, enxugou discretamente algumas lágrimas e fixou o olhar na distância.
— Aria, por que você está me tratando assim? Eu não estou tentando roubar Theo de você. —Ela chorou de maneira ostensiva.
— Aria! — Ecoou a voz de Theo por trás. — O que você fez com Elena?!
Virei a cabeça e avistei Theo furioso. Foi então que percebi: ela havia arquitetado toda a encenação para ele!
Elena rompeu em choro ainda mais intenso, atraindo também a atenção de sua mãe, que me fitou com um olhar repleto de ferocidade.
— Essa mulher traiu você. Ela engravidou de outro homem. Por que você ainda não a rejeitou? —Indagou a mãe de Elena.
— Theo, enquanto ela permanecer aqui, minha filha, Elena não estará segura! Se você não a expulsar, eu levo Elena para casa!
Elena, então, se lançou nos braços de Theo, entre lágrimas, e me brindou com um sorriso sutil.
Theo permaneceu em silêncio por um longo tempo e, no exato instante em que Elena julgava que seu ardil estava surtindo efeito, ele a empurrou suavemente e se aproximou de mim.
— Se você quiser, pode levar Elena para casa, mas eu não vou pedir que minha companheira saia.
Elena nos fitou, estupefata, e partiu enfurecida.
— Você feriu minha filha, Theo. Isso não pode continuar assim. Ela carrega seu filho e precisava se sentir amada. Agora, exijo que, ao menos, se compense com ela, lhe concedendo o melhor quarto!
Theo fixou seu olhar em mim, e compreendi que ele exigia um sacrifício. Sem demora, fui conduzida ao diminuto quarto no primeiro andar.
Theo justificou que aquela medida era pelo bem da criança de Elena e que se tratava apenas de um arranjo provisório, que duraria alguns meses.
— Não se preocupe, estou apenas tentando apaziguar temporariamente a Elena e sua mãe. Logo, lhe devolverei um quarto adequado. — Disse ele ao me transferirem.
Não levantei objeções, pois a localização do meu confinamento já não me importava, já que um novo plano se formava em minha mente.
Todos os dias, divagava sobre como escapar dali, a ponto de solicitar auxílio a Elena; para minha surpresa, a única pessoa que supostamente desejava minha partida de Theo se recusou a ajudar.
— Aria, já que Theo não quer que você vá embora, como eu poderia a ajudar? Você realmente não entende o vínculo entre ele e mim. Nós crescemos juntas e temos uma confiança inquebrável.
Naquele instante, me deparei com um brilho de determinação e seriedade nos olhos de Elena, o que me fez duvidar de minhas próprias convicções, pois parecia que Theo e Elena compartilhavam uma confiança que nenhum outro seria capaz de abalar.
Diariamente, ao retornar para casa, Theo narrava histórias de ninar para a criança que Elena carregava em seu ventre.
Sempre que ele adentrava o meu quarto, já por volta das 23 horas, eu simulava o sono.
O cômodo que me servia de abrigo se assemelhava a um modesto alojamento para criados, enquanto Elena dominava todos os ambientes da casa — um reservado para a criança, outro destinado aos seus ensaios musicais, e os demais para a armazenagem de seus pertences.
Eventualmente, Theo passou a dormir no quarto de Elena para zelar por ela, contudo, certa noite, se aproximou da minha cama e sacudiu meu ombro.
— Você está dormindo? — Perguntou ele com voz suave.
Ao notar meu silêncio, ele continuou:
— Eu sei que você não está dormindo.
Virei para o lado direito, me afastando dele.
— O que você quer?
— Aria, você realmente me odeia tanto assim agora? Você realmente não confia no meu amor por você? — Sua voz exalava uma dor profunda.
Senti, por um breve instante, uma compaixão que logo repugnei, pois, depois de tudo o que ele me fizera, como poderia eu confiar em suas palavras? Silenciosamente, derramei algumas lágrimas, mas me esforcei para não as demonstrar.
— Não se preocupe, ainda assim eu carregarei nossa criança até o fim. Mas você deve saber que me trancar aqui não é bom para nossa criança. Me deixe respirar ar fresco, devolva meu celular e permita que eu fale com minha mãe. Eu também espero ter umas conversas íntimas com minha mãe.
Theo se aproximou por trás de mim e me envolveu em seus braços.
— Tudo bem, contanto que você esteja tranquila e descansando, eu deixarei você fazer o que quiser. — Disse ele com um tom levemente excitado.