Não perguntei por que eles estavam na toca que era para nós dois. Não perguntei por que Emma estava tocando no que não era dela. Não lembrei a ele como sangramos nossos dedos costurando os brasões da nossa família no forro daquele vestido de casamento sob a luz da lua.
Nada disso importava mais.
Não quando eu só tinha dois dias restantes.
A dor se espalhava pelo meu coração.
Dois dias. Depois disso, eu estaria longe.
De volta às Montanhas Ironclaw. De volta à minha alcateia de origem.
Eu já tinha começado a me desligar — separando roupas, preparando suprimentos, memorizando rotas de fronteira.
Cada momento agora era um passo para longe dele.
Estar com Logan já foi tudo o que eu queria. Na época da universidade, ele me fazia sentir escolhida, como se a lua tivesse sussurrado meu nome na alma dele.
Mas desde que Emma reapareceu, eu sentia aquele fio desfiar.
Sempre havia uma nova desculpa. Um motivo para não aparecer. Uma mensagem sem resposta.
Eu me lembrei daquela celebração da alcateia algumas luas atrás. Eu tinha dado apenas alguns goles de vinho de raiz de sangue antes de sentir o efeito. No caminho de volta do banheiro, ouvi a voz dela se elevar acima das conversas:
— Logan, eu juro… Você é o único companheiro que eu vou querer nesta vida.
Silêncio.
Todos sabiam que Logan e eu já estávamos namorando oficialmente, ligados pela alma. Não formalmente selados, mas testemunhados pelo conselho e pelos espíritos.
Eu fiquei parada ali, congelada.
Esperando que ele dissesse algo. Que traçasse o limite.
Mas tudo o que ele disse foi:
— Vou buscar uma bebida de gengibre para ela. Ela vai ter dor de cabeça depois.
Foi naquele momento que eu senti.
A mudança.
Então, forcei minha voz a ficar neutra.
— Tudo bem. Se o vestido de casamento está arruinado, jogue fora. Não importa mais.
Ele hesitou, surpreso.
Eu senti o fio entre nós se afinar ainda mais — já fraco, como uma brasa moribunda do vínculo.
— Mais alguma coisa? — Eu perguntei, agora firme.
— Não. — Ele disse.
Quando eu estava prestes a desligar, ouvi a voz dela novamente.
— Logan, e essas camisas? Devo dobrá-las para você?
Fim da chamada.
Eu imaginei o rosto dele endurecendo.
— Não toque nas minhas coisas. — Visualizei ele dizendo, com a voz cortante. — Eu mesmo cuido delas. Só estou ajudando você a se acomodar. Já volto.
O suspiro choroso de Emma, sem dúvida, calculado como uma arma.
— Você vai me deixar? Você disse que não me abandonaria… Eu só tenho você…
A voz dele, suavizando-se, como sempre fazia com ela.
— Eu não vou te abandonar. Mas, Emma… Você precisa aprender a se virar sozinha. Se não fosse pela sua lesão, Rae e eu já teríamos completado o vínculo.
Mas eu não estava lá para ouvir isso.
E não importava.
Eu já estava meio caminho fora.
Ele veio mais tarde naquela noite.
Eu ainda estava dobrando as últimas capas de viagem, colocando pederneiras, ervas e selos marcados pela lua em uma sacola quando a porta se abriu.
Logan estava ali, os olhos dele varrendo o quarto — meio vazio, sem palavras.
— Rae…
Eu não parei de arrumar minhas coisas.
Ele deu um passo à frente.
— Eu voltei para dizer isso direito. Me desculpe… Por como eu tenho agido. Por como as coisas aconteceram.
Eu o encarei de relance, sem dizer nada.
A voz dele ficou mais suave.
— Sobre o casamento… Não há pressa agora. O novo lugar ainda nem está pronto, alguns móveis nem chegaram. Eu falei com os anciãos e adiamos a cerimônia.
Eu fechei a aba da minha sacola.
Ele hesitou, então acrescentou:
— Além disso… Emma vai partir em breve. O tratamento dela no exterior… Eu prometi ir com ela. Só para ajudá-la a se estabelecer. Ela nunca teve ninguém ao lado dela, ninguém nunca defendeu ela. Espero que você entenda… A condição dela é crítica, e agora, eu sou tudo o que ela tem.
Ele me olhou então, como se aquilo fosse algo razoável de se dizer. Como se não fosse me destruir.
— Espero que você entenda. Ela precisa de alguém. Eu volto em algumas semanas. Vamos resolver as coisas.
Foi naquele momento.
Naquele momento que o último fio se rompeu.
Eu me endireitei, encontrei o olhar dele e sorri — frio, distante.
— Então você deveria ir.
Ele recuou, ligeiramente.
— Rae…
— Eu entendo perfeitamente. — Eu disse. — Você fez sua escolha. E eu fiz a minha.
As sobrancelhas dele se franziram.
— Você… Está indo para algum lugar?
Ele estremeceu, só um pouco.
— Rae… Não fique brava, tá? Quando eu voltar, vamos fazer a cerimônia de vínculo, exatamente como você queria. Eu prometo.
— Eu não estou brava. Vá cuidar da Emma. — Eu disse com um pequeno sorriso, mas meus olhos permaneceram fixos no rosto dele, memorizando-o pela última vez. No meu coração, eu sussurrei: “Se você sair agora, não volte. Eu não vou esperar.”
Talvez ele tenha sentido que algo estava errado, porque ele estendeu a mão, tentando me confortar.
— Rae, você realmente é a melhor companheira do mundo. Eu sou tão sortudo por ter você.
— Está ficando tarde. — Eu disse, engolindo o nó na minha garganta. — Vai arrumar suas coisas. Você não tem um voo amanhã de manhã?
Eu estava esperando — rezando — que ele dissesse que não ia. Que ele ficaria, que ele escolheria a mim.
Mas, em vez disso, ele apenas me puxou para um abraço, depois se virou e foi embora.
Eu fiquei ali até a silhueta dele desaparecer na esquina. Então, lentamente, limpei as lágrimas do rosto, peguei minha mala e tirei meu celular.
Eu joguei o chip fora. Saí da minha identidade de lobisomem com os Eastside Moonclaws.
“Logan, que nunca nos encontremos novamente.”