Não me virei.

Nem sequer lhe dei um único olhar.

— Nosso fim — disse, minha voz completamente plana.

Seus passos se aproximaram. E então ele me viu.

No momento em que seus olhos pousaram nos meus ferimentos, toda cor drenou do rosto dele.

Ele correu em minha direção, alcançando minha perna, mas sua mão tremeu violentamente no ar.

— Sua perna... seus ferimentos... Quem?! Quem fez isso?! Eu disse para protegerem você! — Sua voz era um som cru e estrangulado, uma mistura de pura fúria e agonia. Um incêndio selvagem se acendeu em seus olhos dourados.

Observei-o, meus próprios olhos frios e vazios.

Que performance brilhante. A imagem perfeita de um companheiro devastado, descobrindo tarde demais.

Ele provavelmente pensou que poderia me enganar.

Mas ele não sabia. Eu havia ouvido a ordem dos próprios lábios dele. Aquela que me jogou no inferno.

Fazendo o papel do companheiro devotado agora? Isso só me deixava enjoada.

— Você não sabe? — perguntei, minha voz calma.

— Sei do quê? — ele rugiu, perdendo cada grama de sua compostura Alfa. — Quem machucou você? Me diga! Juro que vou fazê-los pagar...

— Você — interrompi-o. — Você me machucou.

Byron congelou, seu rosto uma máscara de confusão e descrença.

— Eu? Sandra, do que você está falando? Como eu poderia...

— Três dias atrás, você me entregou àqueles lobos solitários. — Minha voz era uma coisa morta e sem emoção, como se estivesse recitando fatos sobre um estranho. — Você disse a eles para me "vigiarem".

— Disse para mantê-la segura! Para impedi-la de fazer algo estúpido! — Ele balançou a cabeça em agonia, e uma terrível realização pareceu surgir nele. Seu rosto se transformou em pedra, suas feições contorcendo com uma raiva nascida de traição. — Foi Ariana...

— As marcas do chicote de prata. — Ignorei sua desculpa, apontando para minhas costas. — A perna quebrada. Três dias sem comida, sem água.

Forcei-me a ficar de pé, dor atravessando meu osso despedaçado.

— E tudo que Ariana me contou pessoalmente. Sobre nosso filhote. Sobre a maldição da minha mãe. E sobre como você sabia. Como estava envolvido desde o início.

Cada palavra era um golpe de martelo, atingindo-o repetidamente.

Ele apenas ficou ali, atordoado em silêncio. Qualquer desculpa que tinha morreu em sua garganta.

Ele olhou para mim, seus olhos implorando.

— Sandra, eu estava errado... Eu estava tão errado... Mas por favor, apenas me dê mais uma chance. Amanhã... depois da cerimônia, tudo vai acabar. Vou consertar tudo. Vou curá-la, tirarei Liam. Podemos recomeçar. Por favor?

Recomeçar.

Como se nada disso tivesse acontecido.

Sentei-me de volta e empurrei os papéis pela mesa em direção a ele.

— Assine isso.

Byron franziu a testa, pegando o documento.

Quando leu as palavras — Acordo de Dissolução de Vínculo de Companheiros — um tremor violento percorreu seu corpo, como se uma faca de prata tivesse acabado de ser cravada em seu peito.

O sangue drenou de seu rosto bonito.

Ele olhou para cima, seus olhos despedaçados e implorando.

— Não... Sandra, você não pode — sua voz era um sussurro cru e quebrado. — Somos companheiros... um presente da Deusa... Você não pode simplesmente desistir de nós.

— Você desistiu primeiro — disse calmamente. — Assine. É minha única condição para fazer meu papel na sua cerimônia.

— É apenas um pedaço de papel! — ele rosnou, sua voz grossa de dor enquanto agitava o acordo. — Não pode mudar nosso vínculo! Nada pode!

— Então assine e prove o quão confiante você está — disse, minha voz como gelo. — Se é tão sem sentido, do que você tem medo?

Minhas palavras despedaçaram sua última defesa.

Medo.

Sim, ele estava com medo.

Byron me encarou por um longo momento, a luz em seus olhos morrendo, deixando nada além de cinzas.

— Tudo bem — ele cuspiu, a palavra arrancada de sua garganta. — Se... se isso faz você se sentir melhor... se é isso que você quer... Vou assinar.

Ele puxou uma caneta do paletó, mas sua mão estava tremendo tanto que ele vacilou com a tampa.

Ele nem mesmo leu os termos. Seus olhos estavam fixos na linha de assinatura.

Ele assinou seu nome, cada letra parecendo ter sido esculpida de sua própria carne.

— Feliz agora? — Ele empurrou o acordo de volta para mim, seus movimentos rígidos, sua voz oca e morta. — Pode se preparar para a cerimônia agora?

Nesse momento, seu comunicador zumbiu.

Ele se encolheu como se assustado de um pesadelo e o atendeu rapidamente.

— O quê? Agora? Tudo bem, estou a caminho.

Ele encerrou a ligação e me deu um último olhar profundo, sua expressão impossível de ler.

— A cerimônia é às oito da manhã amanhã. Estarei esperando por você, Sandra.

Então ele saiu a passos largos da sala, suas costas carregando um novo tipo de peso. O peso da derrota.

Esperei até que seus passos tivessem sumido completamente antes de me mover.

Primeiro, fiz três cópias do acordo. Deixei uma sobre a mesa e coloquei duas na minha mala.

Então, comecei a fazer as malas.

Não muito. Apenas algumas mudas de roupa e alguns documentos importantes.

E o colar de prata que minha mãe me deu, a única lembrança que não podia suportar jogar fora.

Vinte minutos depois, um carro preto parou na porta dos fundos da casa.

Os homens do meu pai.

Arrastei minha mala para fora da porta, dando uma última olhada no lugar que uma vez chamei de lar.

Três anos de acasalamento. Três anos de confiança. Três anos de amor.

Tudo era mentira.

— Senhora, devemos ir — o motorista disse suavemente.

Assenti e entrei no carro.

O motor ligou, e o carro se afastou do território Blackwood.

Sentada no banco de trás, fechei os olhos. Alcancei o fio tóxico e desgastado do nosso vínculo... e com um ato final de vontade, eu mesma o rompi.

Pela primeira vez em três anos, eu estava verdadeiramente livre.

A liberdade fria e afiada da vingança.

Na cerimônia da Lua de Sangue amanhã, Byron e Ariana estavam prestes a receber o primeiro de muitos "presentes" que havia preparado para eles.