Fernanda Castellane:A brisa morna e salgada da praia acaricia meus cabelos, fazendo-os dançar suavemente contra meu rosto. Meus pés afundam na areia úmida enquanto ondas pequenas, tranquilas e geladas beijam meus tornozelos antes de recuar, deixando rastros espumantes na areia úmida. O sol queima minha pele, mas a brisa salgada do mar ameniza o calor.Estar assim com ele, em um ambiente tão tranquilo, ainda é algo que preciso me acostumar. Parece irreal.O rosto dele parece sereno sob os óculos escuros, uma expressão rara, relaxada, parece quase feliz. Quase consigo ver o Pietro de uns cinco anos atrás, antes de tudo acontecer.— Ei, tira uma foto minha — peço, sorrindo enquanto paro e faço uma pose divertida, jogando os cabelos para o lado.Ele ergue o celular e tira algumas fotos minhas. Sorrio naturalmente para a câmera, a luz dourada da manhã refletindo em meus olhos. Logo depois, Pietro se aproxima e estica o braço, virando a câmera para uma selfie nossa juntos. Sua expressão é
Fernanda Castellane:Pietro permanece imóvel por alguns segundos, seus olhos fixos nos meus. O silêncio que se instala entre nós quase consegue abafar o som tranquilo do mar ao fundo. Engulo em seco, arrependida por deixar escapar algo tão direto, tão cru.— Te dei uma pequena passagem, e você já quer ir direto para o destino final? — ele provoca, o canto de sua boca se curvando em um sorriso divertidoO sangue sobe às minhas bochechas tão rápido que sinto o calor invadindo até as orelhas. Eu me sinto como uma adolescente que acabou de fazer uma confissão tola. Tento virar o rosto, fugindo da intensidade de seus olhos, mas ele imediatamente segura meu queixo com firmeza e gentileza ao mesmo tempo, impedindo-me de desviar o olhar.— Ei — sua voz suaviza. — Não precisa ficar envergonhada. É só que talvez aqui não seja o melhor...— É o melhor lugar sim! — interrompo com convicção, minha voz saindo mais alta do que eu pretendia, um ímpeto incontrolável tomar conta de mim. Meu coração bat
Pietro Castellane:O caminho de volta para casa é silencioso. Não porque não haja nada a dizer, mas porque há coisas demais pairando no ar entre nós. Fernanda está ao meu lado no carro, com o rosto virado para a janela, aparentemente perdida em pensamentos. O brilho do sol destaca os traços delicados do seu rosto, e eu aproveito para observá-la discretamente enquanto o Uber dirige para nós.A lua de mel passou rápido demais e, ao mesmo tempo, pareceu durar meses. Não entendo como esses dias foram capazes de me fazer sentir coisas que jamais imaginei sentir, foi muito melhor do que qualquer fantasia que eu já tive com ela. Cada momento passado com Fernanda foi intenso, doce, surpreendente.Tê-la pela primeira vez naquele dia na praia foi algo que ultrapassou qualquer expectativa que eu pudesse ter, e as outras vezes, na pia, na mesa, no banheiro, cada uma foi melhor do que a outra, está dentro dela é como estar no melhor lugar do mundo. Sua entrega completa, a confiança que ela deposit
Pietro Castellane:Inquieto e impaciente, ando de uma lado para o outro na sala de espera, ao lado da sala de cirurgia, incapaz de permanecer parado. Meu olhar se desvia insistentemente para o relógio de pulso. A ansiedade devora cada minuto lentamente. Nunca imaginei que uma cirurgia pudesse parecer tão longa para quem estava desse lado esperando por notícias. Quanto tempo mesmo dura uma cirurgia para colocar um marcapasso? Quarenta minutos? Uma hora? Duas?As luzes da rua começam a ascender, consigo ver pelas janelas abertas dessa sala, que apesar de grande, sinto-a minúscula.Cada segundo que passa parece ser mais lento que o anterior. Gabriel ainda é tão pequeno, tão frágil. Meu coração se contrai de medo só em imaginar todas as complicações que podem surgir. Respiro fundo, passando as mãos pelos cabelos, sentindo a tensão em cada músculo do corpo.Um som de saltos batendo no piso polido me faz virar, a esperança de que seja Débora ou algum outro médico trazendo notícias me enche
Fernanda CastellaneA luz baixa da sala é o único brilho que me acompanha, refletido discretamente no vidro da televisão enquanto a série Rainha Charlotte continua tocando. Estou largada no sofá, só de robe, as pernas dobradas sob o corpo e uma garrafa de vinho descansando preguiçosamente na minha mão.Charlotte acabou de dar uma resposta afiada para o rei, e eu dou uma risada baixa.Tão poderosa.Tão dona de si.Queria me sentir assim agora.Pego o celular para ver as horas.21h30, então vejo a mensagem dele... ele vai vim... não, já deve está chegando! porra! tem uma hora que ele enviou essa mensagem.— Droga... — murmuro, me sentando de forma mais ereta.Meus pés deslizam sobre o chão frio da cozinha. Abro a geladeira, fecho. Olho para a bancada. Nada me inspira, não, não tem nada rápido e fácil para preparar.— Não vai dar tempo de preparar nada pra ele...Meu olhar vai para o forno do fogão, a ideia simplesmente surgindo na minha cabeça. Mordo lábio.— Comer... — abro um sorriso,
Três dias depois...Fernanda Castellane:Finalmente o dia de voltar a rotina de fauldade e hospital chegou, estrango a paz de uma mulher recem casada. Tem apenas três dias que comecei a morar oficialmente com Pietro, e não consigo descrever nenhuma sensação melhor do que poder dizer que tenho uma marido .Mesmo que seja por um contrato...Não importa, enquanto for válido, Pietor é meu marido e fim.E, o que me deixa ainda mais feliz é fato de ele ter me permitido mudar para o quarto dele." Vai facilitar suas lições matinais, já que as noturnas sempre nos deixam exaustos." - minhas palavras ensaiadas ecoam, mordo o lábio segurando o riso com a lembrança.Ele soltou uma risada baixa, daquelas que ele faz quando está tentando esconder que está sorrindo. Não discutiu. Só puxou o lençol de lado e me deixou entrar. Foi no segundo dia que, depois da loucura deliciosa da noite onde fui seu jantar e tive que servi a osbremessa na cama, ele me puxou de leve para o peito dele.E foi assim que p
Fernanda Castellane:O vento sopra com força leve sobre o terraço, trazendo consigo um frio discreto que arrepia meus braços por baixo do jaleco. As luzes do hospital tremeluzem à distância, e o céu, salpicado de estrelas, parece mais silencioso do que deveria.Tiago está encostado na mureta, com os braços cruzados e o olhar perdido no horizonte. Seu corpo está aqui, mas tudo no modo como se mantém afastado me diz que ele queria estar em qualquer outro lugar, longe de mim.— Me trouxe aqui só pra ficar me encarando? — ele pergunta sem virar o rosto, o tom carregado de mágoa e ironia mal disfarçada.— Ti... — minha voz sai hesitante. — Por que está se comportando assim comigo? Eu sou sua amiga...— Não. Não somos amigos, Fernanda.As palavras dele são como um tapa inesperado. Arregalo os olhos, dando um passo para trás, como se o chão tivesse se tornado instável de repente.— Nã-ão...? — sussurro, quase sem acreditar.Tiago finalmente vira o rosto, e quando nossos olhares se encontram,
Fernanda Castellane;A casa está cheia. E eu nem tinha me tocando a saudade que tinha disso.O som das vozes misturado às risadas, os passos apressados dos gêmeos correndo pelo corredor com Pietro atrás deles, tentando manter o tom sério enquanto esconde o sorriso… tudo isso aquece a minha pele, o peito, o estômago. É como se, finalmente, essa casa grande e silenciosa tivesse encontrado alma.Gabriel repousa no colo da minha mãe, Cristiane, que o embala com um movimento suave e constante, como quem já nasceu sabendo como fazer isso. Ela murmura baixinho uma antiga canção de ninar, a mesma que cantarolava pra mim quando eu era pequena e tinha pesadelos.Luciana, com os cabelos presos em dois coques meio tortos, sorri encantada. Seus olhos brilham ao ver Gabriel se mexer, e suas mãozinhas expressivas se movem no ar, contando uma história muda que só ela compreende por inteiro. Ao lado, Luciano está debruçado sobre uma caixa de brinquedos, mergulhado no próprio universo de descobertas, c