Meses depois...
A mansão Volkhov se estendia imponente sobre as colinas de Monte Carlo, cercada por segurança privada, jardins meticulosamente aparados e a vista infinita do mar Mediterrâneo. Ali, onde o luxo era regra e o silêncio custava mais que qualquer palavra, vivia Lukenne Volkhov von Eisenberg — o titã de aço da nova Europa. No interior da sala envidraçada, ele observava os gémeos brincando no jardim com Yanika Ferrari. Havia algo nela que desarmava sua mente de ferro. Yanika ria, sentada na relva, as mãos sujas de tinta das atividades que preparara para Leon e Liya. Aquela mulher tinha mais amor em um toque do que Yonya em todos os presentes comprados em Paris. Yonya, por sua vez, estava em Milão, como de costume. “Negócios de imagem”, dizia ela. Mas Lukenne sabia: negócios para ela eram compras, festas e fotógrafos. Ele serviu-se de um scotch envelhecido, olhos ainda fixos na cena do jardim. O vento soprava o vestido leve de Yanika contra suas curvas discretas. Lukenne engoliu seco. Aquilo era errado. Era perigoso. Era inevitável. — Você vai ficar aí me observando ou vai me chamar pra dentro? — a voz de Yanika surgiu como uma brisa quente em seus ouvidos. Lukenne virou-se, surpreso. Ela estava ali, à porta. Trazia Liya nos braços, com uma coroa de flores improvisada. A cena parecia saída de um conto de fadas… ou de uma armadilha para sua sanidade. — Eu... só estava apreciando a dedicação — disse ele, controlando a respiração. — Ou talvez mais do que isso? — Yanika sorriu, cúmplice e atrevida. Liya pulou dos braços dela e correu em direção ao irmão. — Você sabe que isso é loucura, não sabe? — ele murmurou. Ela se aproximou. Os olhos castanho-mel dela subiram devagar até os seus. — E desde quando os homens como você fogem da loucura? O silêncio entre eles disse mais que mil confissões. E ali, no coração de uma casa cheia de ausências, nascia um desejo que ameaçaria destruir tudo que haviam construído. ...meses antes O entardecer lançava uma luz dourada sobre os jardins do Hotel du Palais, em Biarritz, enquanto os convidados começavam a ocupar as espreguiçadeiras em torno da piscina decorada com orquídeas e velas. Era um encontro discreto, exclusivo e sofisticado, reunindo alguns dos casais mais influentes da Europa para um fim de semana de relaxamento e conexões. Yanika caminhava em silêncio ao lado de Arrow Winchester, seu noivo. Ela usava um vestido de seda vermelho, justo na cintura e com uma fenda generosa que deixava suas pernas torneadas, grossas, douradas à mostra. O decote em V era ousado que deixava seus seis fartos evidentes, mas elegante, e um colar de rubis destacava-se contra sua pele morena clara e reluzente. Ela sabia que estava linda, mas não havia vaidade excessiva em seus gestos. Era natural. Arrow, por outro lado, estava mais preocupado com as fotos que postaria nas redes sociais. Seu blazer azul-marinho combinava com o brilho de seu sorriso artificial, e seus olhos estavam sempre em movimento — procurando aprovação, curtidas invisíveis, aplausos silenciosos. — Amor, hoje vamos jantar com aquele tal de Lukenne, o noivo da Yonya, lembra? — disse ele, ajustando o botão do casaco. — Cara cheio da grana. É meu amigo de infância, mas é estranho... sério demais. — Aquele que vive na Alemanha? — perguntou Yanika, curiosa. — Esse mesmo. Bilionário, frio, reservado. Mas é meu irmão, de certa forma — respondeu com orgulho. Yanika sorriu, tentando esconder o desinteresse que sentia pelo namorado naquele momento. O nome de Lukenne ressoou em sua mente. Ela o conhecia apenas de conversas com Yonya, sua melhor amiga, que o descrevia com frases vagas: "Ele cuida de tudo, eu só aproveito" ou "Ele gosta de controlar, mas isso é bom para mim." Yonya era assim. Linda, fútil, cheia de energia para boutiques, salões de beleza e viagens, mas desinteressada quando o assunto era estabilidade emocional ou, recentemente, maternidade. Quando Lukenne apareceu, vindo do fundo do salão, Yanika sentiu a respiração falhar por um segundo. Alto. Altíssimo. Imponente. Um homem de presença absoluta. O terno preto realçava sua postura ereta, os ombros largos e a expressão cortante. Seus olhos eram frios como aço, analisadores. Ele não sorria. Não precisava. Bastava estar ali para ser notado. Yonya vinha ao seu lado, rindo alto, carregando sacolas de compras mesmo dentro do evento. Usava um vestido curto, branco e brilhante, mais adequado a uma festa de verão em Ibiza do que a um jantar formal. — Yani! — gritou, correndo para abraçá-la. — Finalmente! Você vai amar meu noivo. — É um prazer finalmente conhecê-lo — disse Yanika, estendendo a mão com educação. Lukenne apertou sua mão com firmeza e por um instante o tempo parou. O toque foi breve, mas algo percorreu os dedos de ambos como eletricidade estática, discreta e impossível de ignorar. Ele não disse nada, apenas a olhou — profundamente, com algo que misturava curiosidade, cautela e algo mais... escondido. Yanika engoliu em seco. Durante o jantar, Lukenne falava pouco. Observava. Apenas interferia quando necessário. Seu tom de voz era baixo, grave, e seus olhos raramente piscavam. Quando Yonya falava de compras em Paris ou de spas em Bali, ele mantinha o olhar firme em sua taça de vinho, como se o mundo inteiro não fizesse sentido. Mas, discretamente, observava Yanika. Ela, por sua vez, se sentia inquieta. Havia algo naquele homem que a desequilibrava. Não era apenas beleza — era poder. Era o silêncio cheio de autoridade. E, ao mesmo tempo, era a sensação de que por trás daquela muralha de gelo existia uma alma intensa, faminta de paz. E ela... era paz. --- Os meses seguintes trouxeram mais encontros casuais. Viagens, jantares, pequenos eventos sociais. Arrow continuava fútil e distraído, Yonya agora grávida se irritava com as mudanças no corpo, evitava consultas e se recusava a abrir mão de sua rotina de luxo. — Bebês são um problema, Yani — disse Yonya certa vez, com um tom quase infantil. — Não vou deixar um filho me prender em casa. Lukenne pode cuidar dessas coisas, ele já manda em tudo mesmo. Yanika sentia a preocupação crescer, não só pela sua amiga, mas também pelo futuro crianças, sim crianças, são gémeos, que lhes espera. Lukenne estava cada vez mais fechado. Mas era com ela que ele buscava conselhos, e refúgio nesse caus que ele se encontrava nesse momento. — Ela está distante — disse ele numa noite, no terraço da casa de campo onde o grupo passava o fim de semana. — Age como se o filho fosse um fardo. Eu não sei como lidar com isso. — Fale com ela, com paciência — respondeu Yanika tentando consolar e apaziguara situação. — Mas também com firmeza. Você é mais racional do que ela, Lukenne. E... você se importa. Ele a olhou com atenção. — Você me entende melhor do que qualquer pessoa, Yayá.– chamou com o apelido que ele lhe atribuira. — Isso não devia ser verdade... — disse ela baixinho, e seus olhares se encontraram em silêncio. Eles nunca disseram nada. Nunca fizeram nada. Mas sabiam. E o mais assustador era que essa conexão, nascida de olhares, frases contidas e conselhos noturnos, crescia como um segredo impossível de eliminar. --- Sete meses depois, chegou o dia do noivado. A cerimônia foi organizada com pressa. Yonya exigiu tudo: flores importadas, vestido de marca italiana, champanhe francês. Falava o tempo todo, não sobre o bebê, mas sobre a lua de mel em Dubai, sobre as joias que queria ganhar de presente. Lukenne estava elegante, mas frio. Um guerreiro mascarado. Uma parede de gelo que só Yanika conseguia atravessar com um olhar. Ela estava deslumbrante no vestido azul de cetim, justo, com um corte nas costas e brincos de safira. Caminhava pelo salão como se não pertencesse àquele mundo, mas fosse sua rainha. Durante a troca de alianças, Lukenne olhou para Yanika. Por um instante, apenas um, eles se permitiram o mais leve e proibido dos gestos: um olhar que dizia tudo e não dizia nada. Ela respondeu com um sorriso calmo. E virou o rosto, como quem recua de um abismo. Nada foi dito. Mas tudo já estava mais do que explícito.