Eu procurei minha amiga advogada e pedi a ela para me ajudar a imprimir duas cópias do acordo de divórcio.
Ela olhou para mim com um ar de hesitação.
— Alice, sobre a morte da sua mãe, sempre senti que há algo estranho.
— O que há de estranho?
— Foi tudo muito tranquilo, não acha? Eu já estava preparando como lidar com o caso se o culpado não confessasse.
— Ele apareceu de repente, se entregou e confessou. Embora tenhamos encontrado provas, tudo aconteceu de maneira muito fácil. Estranho.
Meu coração deu um salto, como se algo estivesse se encaixando na minha mente.
— Florinda, pode verificar uma conta para mim?
Ela balançou a cabeça, mas me indicou um detetive particular.
Eu me senti sendo atraída por algo, como se uma verdade estivesse prestes a ser revelada.
Com o acordo em mãos, fui à empresa de Valentim.
Assim que entrei, ouvi os funcionários comentando.
— Ela é amiga do Sr. Pascoal? Dizem que acabou de voltar do exterior, sinceramente, acho que ela combina mais com o Sr. Pascoal.
— Também acho, ela é tão bonita, tem mais classe que a esposa do Sr. Pascoal.
— Olha só a bolsa dela, cheia de diamantes, nem consigo imaginar o quanto custa.
No escritório do último andar, eu parei na porta e ouvi uma voz familiar.
— Noemia, já faz um mês que não nos vemos, sempre quis te procurar, mas nunca encontrei um motivo apropriado.
— Pois é, estou tentando engravidar, e o Henrique não fica tranquilo me deixando sair sozinha.
— É mesmo?
O tom de Valentim estava carregado de desapontamento, mas ele forçou um sorriso.
— Vai ser mamãe, parabéns.
— Obrigada, e sobre aquela questão de três anos atrás, foi graças a você...
— Já passou, desde que você esteja feliz, nada mais importa. Sei que você não machucou ninguém de propósito.
Noemia riu de forma espalhafatosa, a última sílaba de sua fala subiu delicadamente.
— Quando éramos crianças, você dizia que seria meu cavaleiro e me protegeria para sempre, fiquei tão emocionada, mas se a Alice soubesse, certamente não ficaria feliz.
Noemia sempre soltava insinuações contra mim.
Como se ela tivesse passado por uma grande injustiça, e eu fosse a vilã.
Eu captei uma palavra-chave na conversa deles, três anos atrás?
A única coisa que sei é que, três anos atrás, minha mãe foi atropelada e morreu, logo depois Noemia foi para o exterior, supostamente para estudar, e Valentim me pediu em casamento...
Foi o começo do meu pesadelo.
A linha de pensamento parecia cada vez mais clara, mas continuei fingindo ignorância e empurrei a porta.
Ao me ver, Valentim estava surpreso.
— Alice, o que faz aqui? Com tontura, por que não descansa em casa?
Eu sorri e olhei para Noemia.
— Vim ver se no escritório do meu marido há algo que não deveria estar aqui.
Noemia ficou ligeiramente chocada e estava prestes a falar quando eu já tinha desviado o olhar.
— Você disse que se eu sentisse sua falta eu poderia ligar, mas você não atendeu.
Valentim, nervoso, pegou o celular, que mostrava duas ligações perdidas minhas.
Parecia que ele havia silenciado o celular para poder conversar com Noemia.
— Alice, não esperava que você ficasse tão em cima do Valentim, assim ele ficará exausto.
Noemia passou a mão no cabelo, seus olhos brilhando com satisfação.
— Homens precisam de um pouco de liberdade, sabe?
— Obrigada pela dica, mas, para alguns homens, não importa o quão atentamente você os observe, não tem ideia do que eles estão pensando.
Valentim estava visivelmente tenso, e imediatamente veio segurar minha mão.
— Eu não sou esse tipo de homem, nós e Noemia somos amigos...
Vendo seu desespero, eu sorri.
"Ele não estava preocupado com minha opinião, mas sim com o que eu poderia pensar sobre Noemia, com medo de que eu causasse problemas para ela."