131. Gaiola Dourada
Caroline Hart
Acordei como se um caminhão, daqueles imensos e carregados até o teto, houvesse passado por cima de mim.
Cada músculo queimava num protesto lento. Minha cabeça parecia presa entre duas placas de ferro, rangendo a cada respiração. O chão gelado e úmido sob mim grudava na pele. No ar, o cheiro forte de mofo misturava-se a algo seco, metálico. Sangue. Um gosto de ferrugem pairava na boca, como se eu tivesse mordido o próprio medo.
Não via a luz do sol, mas sentia. Lá fora, o dia já tinha nascido. Aqui dentro, só escuridão. As paredes eram de pedra antiga. Puxei os dedos, procurando apoio, mas os pulsos estavam presos. Correntes finas, frias. As pernas também. Nada de movimento. Nada de fuga. Tentei lembrar o que tinha acontecido antes de apagar. Fragmentos vieram como cacos: uma voz, um grito, cheiro de terra molhada e... silêncio.
Quantas vezes eu já tinha sido sequestrada esse ano? Três? Quatro? Se eu contasse, dava um filme. E eu precisava que esse tivesse final feliz.