Capítulo 31 – O Fim do Vínculo, o Início da TempestadeKan se aproximou, segurando o que restava da pulseira de ligação que um dia atara Maya a ele — o vínculo espiritual além da conexão de lobo. A mesma pulseira que, certa vez, lhe revelara onde Maya estava, mas que só se ativava duas vezes: uma, quando ele se aproximasse dela pela primeira vez; e outra, quando ela se afastasse ao ponto de o vínculo desaparecer. E naquele momento... o vínculo estava indo embora.— Mas eu a quero de volta.— Então você precisará do vínculo das três bênçãos que foram transformadas em três Caídos — disse a mais velha das Oráculos.— E de uma gota de seu sangue. Para trazer à tona o traço que ela tenta esconder.Kan estreitou os olhos, confuso.— O que eram essas três bênçãos que foram transformadas em Caídos?— Você é descendente de deuses. Não precisamos ser precisas para que você entenda. Sabe que o preço de uma revelação exata seria a nossa juventude — murmurou uma delas.— Três bênçãos que se tornar
Cap. 32: Meu lar é onde sou aceita.Enquanto isso, em uma casa elegante nos arredores da cidade, Lana encontrava os pais em clima de tensão. Ela havia sumido por um tempo sem nem mesmo entrar em contato com seus pais, mas finalmente decidira voltar. Os olhos dos pais estavam marcados por cansaço e preocupação, mas disfarçavam.— E Maya? — Lana perguntou com frieza, contrastando com sua aparência agora diferente e mais madura, usando um vestido longo vermelho que desenhava todas as curvas de seu corpo, assim como seu batom rubro como o próprio sangue e o delineado bem marcado nos olhos, deixando seus traços evidentes com um ar de elegância.A mãe desviou o olhar. O pai foi quem respondeu.— Maya... morreu. Não foi necessário entregá-la a nenhum companheiro, apenas peguei o carro e a levei comigo. Quando saí da cidade, ela começou a reagir à distância... e não resistiu.Lana, por um segundo, pareceu estagnar, mas, em vez de dor, um sorriso se formou lentamente em seus lábios.— Ótimo.E
Cap. 33 A adaga adormeceu?Cael estava ali, sentado na ponta de um dos sofás, observando tudo com aquele mesmo sorriso tranquilo, quase orgulhoso da cena. Quando ela cruzou o olhar com ele, ele deu de ombros dizendo que estava tudo bem então ela se aproximou sentando ao seu lado, ela não conseguiu explicar como conseguia se manter próxima de humanos sem que a adaga reagisse, talvez, so talvez aquilo reagisse a criaturas místicas e magia.— Você precisava de roupas. Eles gostam de ajudar. E você tem um estilo interessante — disse, apontando para a saia longa e o casaco grosso que ela ainda usava. — Meio élfico, meio fugitiva de reino perdido.Ela sorriu pela primeira vez, sem culpa.Era um sorriso pequeno, mas sincero.Naquela noite, Maya recebeu um novo quarto no andar de cima, ao lado de Bia. As janelas davam para os telhados da cidade, onde luzes tremiam como estrelas artificiais. Era um quarto simples, com uma cama estreita, uma escrivaninha e um armário. Mas era o melhor lugar ond
Cap. 34: Dois humanos cheio de mistério.O silêncio se instalou na sala por alguns segundos, antes de Cael finalmente soltar o ar com força, como se estivesse segurando dentro de si desde o momento em que ela se encostou em seu ombro.— Quando será que ela vai contar que está grávida? — ele perguntou, a voz baixa, quase um sussurro de preocupação.Bia levantou os olhos do tablet, girando levemente os ombros como se espantasse uma tensão antiga.— Vai demorar, ainda mais que ainda não esta evidente. Mas… a gente vai ter que cuidar dela do mesmo jeito.Cael assentiu devagar, encostando-se no encosto do sofá, olhando para o teto alto com uma expressão inquieta.— Fiquei surpreso que ela não desconfiou quando eu falei dos enjoos… Achei que ia me fuzilar com os olhos e perguntar de que enjoos eu estava falando e mentir que não estava enjoada.— É porque ainda dá pra disfarçar — Bia comentou, voltando ao tablet. — A barriga ainda não tá tão visível. Mas o que ela vai fazer quando crescer de
Cap. 35: Lana encontra filhos para Kan.— Bruxos e fadas também podem fazer isso, mas fora dessas barreiras não há... ou há poucas criaturas mágicas com esse tipo de poder. Apenas alguns seres celestiais — que não se misturam com os lobos.— Mas se forem esses celestiais, seria ainda mais difícil encontrar Maya. E mesmo assim, não haveria motivo para... Além disso, não temos seres celestiais no nosso mundo. Pelo menos, não os do nosso mundo. Os que existem aqui não interferem em nada. — Kan parou de falar, pensativo.— O que foi?— Você lembra quando Nova nasceu e foi destinada a mim? — Kan perguntou ao pai, que arregalou os olhos.— Quem a trouxe até nossa planície foram os celestiais de apoio. Mas eles desapareceram assim que Nova foi morta.— Mas você também tem que se lembrar de que, quando fez a separação das criaturas, baniu algumas que estavam fora da nossa categoria aceitável. Tem certeza de que não havia nenhum deles?— Não sei... Naquela época, eu não tinha uma boa detecção,
Capítulo 36 Seres disfarçados.O sol mal havia tocado as cortinas quando Maya sentiu uma agitação estranha no ambiente. Seus olhos se abriram devagar, e o murmúrio de vozes baixas à beira da cama a fez prender a respiração.— É anormal, Cael... olha o tamanho — murmurou Bia, com as sobrancelhas franzidas.— Eu sei. Se eu soubesse antes que ela estava grávida, teria providenciado um lugar menos rigoroso. Aqui não é seguro pra alguém nesse estado.Maya permaneceu imóvel, ouvindo. Assim que percebeu qual era a situação, só queria um buraco para se enfiar e fingir que nada estava acontecendo. Mas sua barriga realmente estava maior. Mais do que deveria. O que mais chamou sua atenção, no entanto, não foi a conversa em si, e sim o brilho estranho nos olhos deles. Ela não sabia se foi impressão ou se seus olhos ainda estavam se ajustando à luz, mas jurou ver algo brilhar nos olhos dos dois por nanossegundos. Algo... não humano. Talvez fosse só sua cabeça.De repente, Cael se afastou, puxando
Capítulo 37 : Visita à criatura do terraço e a partida.O elevador não subia até ali.Bia e Cael subiram pelas escadas estreitas, que rangiam a cada passo. O ar ficava mais frio. Mais denso.O último andar da república era como uma masmorra esquecida, envolta em sombras e silêncio.Cael usava a lanterna do celular, mas a luz parecia fraca, sufocada pela própria escuridão.Chegaram à porta interditada.Bia tirou uma chave de dentro da blusa. O som metálico ecoou no corredor vazio quando ela a girou.A porta se abriu com um lamento baixo, como se a casa protestasse. Lá dentro, o ar era quase sólido.E sobre uma cama enorme, feita de camadas de mantas escuras e ossos trançados, uma criatura repousava.Não era humano.Tinha pele opaca, acinzentada, quase translúcida. Olhos fechados, rosto alongado, braços longos e finos demais, como raízes envelhecidas. O peito subia e descia devagar… cansado.Quando sentiu a presença deles, abriu os olhos.— Vieram se despedir. — A voz da criatura era ba
Capítulo 38 – Filhos da Tempestade NascemA chuva caiu sem aviso. Pingos grossos estouravam contra o telhado da pequena casa escondida nas montanhas. O céu se tornara cinza, carregado, como se um presságio estivesse se concretizando. Lá fora, o vento uivava como uma fera prestes a despertar. Já tinham se passado dois meses naquele lugar, e agora parecia que o momento tinha chegado.No quarto, Maya arqueava o corpo de dor, as mãos agarradas ao lençol úmido de suor. A gravidez, que mal completava o sexto mês, tinha avançado de forma surreal. O tempo parecia ter cedido espaço à vontade de algo maior.— Não... agora não... — sussurrou, sentindo a contração rasgar seu ventre como se fosse feita de fogo e aço.No andar de baixo, Cael estava em pé, imóvel, os olhos voltados para o teto, como se pudesse ver através das paredes. A casa inteira vibrava com uma energia primitiva, antiga, que mexia com as entranhas do mundo invisível.Bia, nervosa, atravessava a sala de um lado ao outro.— Ela va