Capítulo 5 – A Entrevista

Marilda Campos era uma excelente jornalista, muito reconhecida no meio social em que vivia, uma profissional competente e levava bem à sério seu trabalho. Diante das novidades trazendo à tona a possibilidade de o herdeiro dos Guimarães Velasco ainda estar vivo e toda a história sobre sua suposta morte não passar de uma farsa criada para ocultar a verdadeira condição em que ele se encontrava.

 Teve a infeliz ideia de investigar à fundo e com isso acabou comprando para si graves problemas. Colocando em risco a própria vida e a dos demais que amava. Seguiu pistas que a levaram ao início de tudo.  Desde a aprovação de Luís Gustavo nas faculdades de Direito Medicina e Engenharia na Universidade Federal do Pará e em outras duas instituições de ensino superior particulares.

 Até quando o candidato às vagas sofreu um terrível colapso mental. Perdendo o juízo e ficando impossibilitado de prosseguir com a formação académica. De acordo com os documentos encontrados nos arquivos dessas instituições. O mesmo foi conduzido para tratamento psiquiátrico por um familiar de nome não especificado e nunca mais retornou para reclamar sua aprovação.

Marilda, sempre perspicaz em seus objetivos, deu continuidade às investigações no intuito de descobrir o paradeiro do suposto morto. Visto que os indícios afirmavam ele ainda está vivo em algum lugar daquela imensa cidade. Ampliou sua busca pelos hospitais psiquiátricos na esperança de encontrar algum profissional da área que pudesse dar qualquer informação que ajudasse a elucidar o caso.

E, depois de tantas idas e vindas, conheceu Joana Darc, uma senhora de cinquenta e cinco anos que na ocasião era enfermeira numa das alas do antigo hospital de tratamento para doentes mentais Juliano Moreira. Ela e outras eram responsáveis em cuidar dos pacientes que passavam por aqueles tipos de terapias monstruosas, como ela mesma descreveu: 

  — Há, minha filha, era uma tristeza só vê aqueles pobres coitados recebendo descargas de choques elétricos todos os dias, na desculpa de que aquilo serviria para ajudar na cura da loucura deles. Quer saber? Eles ficavam eram ainda mais loucos

 — E a vocês presenciaram tudo de perto?

 — Sim, minha filha, bem de pertinho sem nada poder fazer para ajudá-los 

 — E quem dava a ordem para que os pacientes fossem tratados com toda essa crueldade? 

  — Ora, menina, os médicos! Eram eles quem determinavam quem, como e quando os doidos deveriam receber tratamento de choques

    — E a senhora lembra o nome de algum desses pacientes que viveram naquela ala em que trabalhou, dona Joana?

    — Ora, e como poderia esquecer, criatura? Claro que me lembro do nome de todos os pacientes que cuidei. Nós convivemos por muito tempo ao lado deles, formamos um tipo de família

   — Ótimo! Então me fale: A senhora porventura conheceu um jovem de aproximadamente uns vinte dois a vinte cinco anos, por nome Luís Gustavo?

   — Há, o Gustavinho que pirou depois de ter passado no vestibular? Mas claro, minha filha, lembro sim daquele pobre rapaz

   — Muito bem, então me diga tudo o que lembrar a respeito desse paciente

   — Bem, o que ficamos sabendo foi que ele pertencia a uma família muito chique, tinha sido adotado como filho único de uma milionária conhecida como a senhora da borracha, porque vinha da linhagem de antigos donos de seringais na Amazônia.  E que depois do coitado ter ficado todo desmiolado ela p interno lá no Juliano e abandonou o pobre diabo a própria sorte. Nunca mais ela voltou para pelo menos ver se o coitadinho ainda estava vivo. 

  — Dona Joana, me diga: Quantos anos a senhora acha que esse paciente permaneceu internado como um indigente depois que foi largado naquele hospital? 

   — Olhe, eu ainda continuei trabalhando lá por quinze anos, cuidando deles e só sai após o fechamento do hospital 

  — E ele permaneceu por lá todo esse tempo?

  — Sim, ninguém era liberado.  Somente depois que o governo decidiu extinguir a unidade de tratamento psiquiátrico que todos eles foram lançados nas ruas 

  — Certo. Então, levando em conta que ele deu entrada no hospital na faixa etária que lhe descrevi anteriormente, é possível que ele esteja com menos de cinquenta anos de idade, certo?

  — Sim, caso ainda esteja vivo deve ter no máximo uns quarenta e cinco

  — Perfeito, dona Joana. Muito obrigada por sua valiosa atenção e pelas informações fornecidas para minha pesquisa 

 — O prazer foi todo meu em poder ajudar, minha filha 

  A jornalista Marilda Campos já tinha em mãos provas e informações suficientes para iniciar a busca pelo desaparecido, tudo indicava que Luís Gustavo estaria vagando pelas ruas e ela pretendia encontrá-lo. A parte mais difícil seria identificá-lo entre tantos outros mendigos espalhados pela cidade, principalmente levando em conta sua aparência atual.

 Completamente mudada em relação ao que era vinte anos atrás.  Passou a circular em seu carro por todos os lados na esperança de localizá-lo. Seria como buscar uma agulha num palheiro. Era algo quase impossível, mas com persistência certamente teria êxito. Deu total prioridade às áreas de maior aglomeração de pedintes, como feiras livres e praças.

 Onde geralmente eles iam pedir comida e reuniam-se para descansar dos labores diários. Em nenhuma das praças visitadas até então teve sucesso, restando apenas a maior para encerrar a incansável procura.  A Presidente Vargas era a mais ampla e movimentada de todas as demais praças públicas de Belém, frequentada por todos os tipos de pessoas das diversas camadas sociais.

 Devido a exuberante beleza através de seus monumentos históricos. As árvores frutíferas centenárias, o espaço reservado ao lazer e a vasta opção de atrações presentes por lá todos os finais de semana para o entretenimento de seus visitantes. Se o moribundo ainda estivesse vivo e ao relento com certeza estaria naquele lugar. Ela passou a entrevistar pacientemente todos os moribundos que achava encaixar dentro do perfil criado.

A partir das informações colhidas com a enfermeira. Levava em conta a idade e aparência física.  Alguns estavam com a mente tão confusa que se tornava impossível qualquer diálogo. Já desanimada, após tantas tentativas em vão, sentou-se num dos diversos bancos de cimento bruto existentes no largo da praça, trazia consigo uma bolsa de couro marrom. Uma câmera profissional com a qual captou imagens dos entrevistados para uma futura melhor análise.

Um pequeno gravador de voz, onde gravava as conversas, um bloco de papel com pauta e uma caneta para anotar as observações mais importantes. Seu olhar investigativo pairou sobre os quatros cantos do local, até onde fosse possível visualizar. E inesperadamente percebeu alguns dos sem teto reunidos num coreto cerca de uns cem metros adiante.  Com um salto seguiu em direção ao lugar na esperança de finalmente concretizar sua busca pelo indigente.

Ao chegar ali deparou-se com vários abandonados sentados ao chão, comendo frutos maduros que caíram das árvores durante a forte ventania ocorrida horas antes. Na parte direita do ambiente via-se um homem deitado sobre papelotes e um saco cheio de coisas imundas ao seu lado. Pelo que observou nos outros nenhum se encaixava na descrição de Luís. Então optou em esperar que o idoso acordasse de sono para entrevistá-lo.

Com a chegada da estranha os pedintes se assustaram e fugiram, ela permaneceu aguardando para colocar em prática o plano. Passaram-se várias horas até que ele acordasse, mas ela o aguardou, o infeliz, finalmente, desperta e ao deparar com a linda mulher a lhe observar, ficou à princípio surpreso.

 Porém, em seguida retira-se sem dar importância àquela que o observava.   Marilda, então, decide intervir e segura-o pela velha camisa. O tecido antes branco estava imensamente manchado. Com um grande adesivo quase imperceptível da virgem santa Maria estampado na parte frontal, que lhe deram durante as festividades do círio de Nazaré ocorrido meses atrás. Ele se volta para encarar seriamente aquela que ousou impedir sua caminhada e fica preso olhar daqueles lindos olhos azuis da jornalista.

 Que educadamente pede que lhe permita alguns minutos de atenção.  Ele atende o pedido e em poucos minutos já estão conversando amigavelmente como se fossem antigos conhecidos. Ela usou de estratégia para prender o interesse do entrevistado. Com assuntos assimiláveis como falar sobre a praça e da beleza natural que nela existia, o homem cuja mentalidade atrofiou e raciocinava com grande dificuldade pôde, entretanto, compreender o que a linda moça lhe dizia.

 E de boa vontade lhe respondia claramente suas indagações. Pois vivia ali por vários anos e sabia tudo sobre o lugar.  Aos poucos a conversa foi se tornando mais interessante ao ponto em que Marilda começou a investigar as origens do idoso. Lhe fazendo relembrar o passado. Houve certa dificuldade, pouca clareza das lembranças e uma confusão de ideias desconectadas, mas aos poucos ela foi juntando detalhes importantes.

 Até concluir que de fato aquele era o homem por quem tanto tinha procurado.  Depois de leva-lo a banca de venda de comidas típicas e pago ao novo amigo uma deliciosa refeição a jornalista despede-se dele. Entrando em acordo que continuaria vindo visitá-lo todos os dias para que pudessem conversar. Em troca ela lhe garantiria sempre mais um novo e delicioso almoço como aquele.

Ele concordou alegremente com a proposta, afinal, era a garantia de alimentação diária garantida, quem recusaria tamanha oferta? Nos dias seguintes os dois mantiveram o rotineiro encontro e a conversa. Apesar de desenvolver-se bem lentamente, trazia resultados positivos.  Ela já tinha certeza de que aquele pobre diabo era mesmo o antigo herdeiro dos senhores da borracha.

Queria, no entanto, saber mais sobre a completa loucura até o exato momento onde se encontravam, todas as dificuldades enfrentadas. O sofrimento no asilo, aa torturas e o abandono. Mas como ele entraria em detalhes sobre tão vasto assunto com a memória atrofiada, enlouquecido e sem a menor noção da realidade? À princípio, quando foi vitimado pela perda quase total da consciência.  Luís Gustavo foi levado à presença dos maiores profissionais na área de tratamento psiquiátrico do país, até no exterior.

 E nada pôde ser feito para restaurar sua saúde mental, devido o atraso na medicina nesse campo em particular. Entretanto, no decorrer de duas décadas os avanços foram significativos e outros métodos foram criados para resolver certos distúrbios mentais e ocorreu o abandono dos temíveis tratamentos de choques que aumentavam ainda mais o sofrimento dos acometidos de doenças mentais.

 Marilda, após semanas continua sem muito êxito nas entrevistas. Então decidiu buscar maiores informações sobre o avanço na ciência para recuperação das atrofias mentais e descobriu que havia a possibilidade de reverter a atual situação de Luís desde que pudesse conduzi-lo ao Sul do país e interná-lo em uma das clínicas especializadas no assunto. Desde que pudesse pagar pelas altas dispersas exigidas.  Claro que esse seria o maior empecilho, ela era uma jornalista de enorme destaque num dos grandes jornais da capital.

 Entretanto, seu baixo salário não lhe oferecia as condições necessárias para arcar com tamanhos gastos. Foi aí que teve a ideia de procurar Alessandra Arrais, uma antiga amiga dos tempos universitários. Formaram-se juntas na mesma época, ela em jornalismo e a amiga em Direito.  Apesar de seguirem caminhos diferentes mantiveram laços estreitos e a amizade perdurou por décadas.

Porém, Alessandra conquistou o título de excelentíssima juíza Direito e em seguida ocupou um importante cargo no Tribunal de Justiça do Estado. Tornando-se uma interessante personalidade no âmbito social paraense. A visita da amiga, depois de algum tempo ausente, foi recebida com muita alegria e as duas trocaram confidências, relembrando bons momentos vivenciadas no passado. Por fim, a jornalista revela a magistrada a verdadeira razão de sua visita.

 Explicando em detalhes o resultado de sua pesquisa e expondo todas as provas concretas encontradas durante a investigação. Alessandra, que era uma das maiores opositoras da senhora da borracha, não apenas por entender que sua atitude de boa samaritana não passava de uma máscara que deveria ser lançada por terra. Como pelo fato de entender que toda a herança dos Velasco havia sido adquirida indignamente. 

Através da exploração das famílias pobres dos seringueiros que trabalhavam dia e noite em troca de um salário miserável, enquanto os patrões enriqueciam disparadamente. O interesse da juíza pelo caso alegrou Marilda. Que esclareceu a importância de restaurar a mente de Luís Gustavo afim de ajudá-lo a lembrar de toda sua história.

E usá-lo como principal testemunha contra Naomi, destruindo por completo seu prestígio e império.  Alessandra era uma mulher de muitas posses e influências, poderia facilmente conseguir uma vaga num dos muitos hospitais particulares de tratamento moderno de distúrbios mentais em São Paulo. E suas perspectivas quanto a isso não estavam erradas, aconteceu exatamente como planejado.

O mendigo finalmente foi resgatado e um projeto colocado em ação.  Depois de ter vivido durante cinco longos anos como indigente na praça foi levado para a capital paulista. e internado no maior e mais requisitado hospital psiquiátrico do país. Desde o momento de sua chegada ali bons profissionais dedicaram todo seu tempo em tentar de todas as formas possíveis restaurar a consciência do paciente. Lógico que seria uma tarefa dificílima, devido longos períodos em que ele esteve exposto à doença e seu cérebro desconectado do mundo exterior.

 Totalmente alienado da realidade. Porém, de acordo com os resultados dos exames preliminares sua cura era possível. Haviam grandes chances de recuperar boa parte da memória e lhe devolver lembranças e recordações que o ajudariam a se atualizar no presente, com a possibilidade de recobrar quase que completamente a consciência. Essa declaração dos especialistas trouxe maior esperança a Marilda que não via a hora de esclarecer toda a verdade envolvida na vida daquele infeliz. Luís ficou internado sob intenso tratamento por seis meses na sem receber qualquer visita.

Somente após este prazo lhe foi permitido manter contato com outras pessoas que não pertencesse a equipe médica que o assistia. A sala para receber os visitantes era ampla e bastante confortável. Marilda se acomodou ali por alguns minutos até que o paciente recebeu autorização para se dirigir ao local. O homem que se aproximava dela na companhia de um enfermeiro parecia estranho, vestia roupas limpas com cabelos e barba aparados e com uma aparência vários anos mais jovem.

 Aproximou-se e ao sentar na poltrona de couro preto tudo admirava. Fitou seus olhos azuis e esboçou um largo sorriso. Sinceramente, ela não foi capaz de reconhecê-lo e expressou um riso sem graça, amarelado, como se estivesse mal situada diante do acontecimento. Ele, então, percebendo a timidez da visita lhe estendeu a mão e anunciou seu nome:

     — Olá, sou Luís Gustavo, muito prazer Ela ficou atônita com a declaração do moço elegante que permanecia sorridente à sua frente, e timidamente correspondeu a gentileza, estendendo-lhe a mão para cumprimentá-lo:

    — O prazer é todo meu! Não consigo acreditar ser você mesmo, como pode ser possível?

   — Desculpe, já nos conhecemos antes?

   — Não lembra mesmo de mim?

   — Não, seria impossível esquecer olhos tão lindos. Me avisaram que alguém desejava falar comigo e vim ver de quem se tratava, porém não me recordo de tê-la visto antes, me desculpe

   — Entendo, e o que lembra a respeito de sua vida?

   — De tudo, menos de conhecer você

  — Interessante

  — O que seria tão interessante eu lembrar tudo sobre mim e não de você? Me diga, de onde nos conhecemos?

  — Meu nome Marilda Campos. Sou jornalista e a das pessoas responsáveis por sua internação neste hospital

  — Desculpe, mas a última lembrança que tenho é de ter sido internado numa ala psiquiátrica por minha mãe, anos atrás e nunca mais tê-la visto. Pareço ter despertado de um sono profundo ou de um pesadelo, tudo ainda está meio confuso para mim

  — Lembra qual o seu nome?

  — Sim, Luís Gustavo, único herdeiro de Naomi Guimarães Velasco, vulgo senhora da borracha

  — E qual sua última recordação do contato com sua mãe?

  — Lembro-me claramente de tudo até o internamento no hospital psiquiátrico, porém, o que aconteceu no decorrer dos anos me vem na mente em fragmentos

   A resposta de Luís deixou a jornalista abismada com o milagre feito por Deus, através da medicina, na vida daquele homem que parecia não ter mais qualquer solução. Ali estava o antigo moribundo da praça totalmente restaurado da loucura que quase destruiu por completo sua percepção com a realidade, mantendo-o preso em um mundo obscuro por tanto tempo. Apesar dos bons resultados, foi decidido que o paciente permaneceria internado sob observação. A equipe médica prosseguiu com a avaliação por mais seis meses, para garantir uma recuperação mais confiável.

 Doze meses mais tarde, após o início do tratamento, ele por fim foi liberado e levado para casa. Como não tinha residência fixa, Marilda o hospedou em sua residência para poder acompanhar de perto a evolução de seu restabelecimento. Não era preciso pressa, tudo deveria fluir naturalmente.  Eles saiam, jantavam fora e iam ao cinema. por diversas ocasiões os dois passaram pela praça presidente Vargas. E ele se emocionou ao lembrar os cinco anos vividos ali em total abandono.

As roupas imundas que vestia, os restos de comida retirados das latas de lixo em frente aos luxuosos condomínios. Onde por várias vezes foi tratado com brutalidade. A seu pedido ela o levou ao Ver-O-Peso para matar a saudade dos tempos em que viveu por lá como ajudante de feirantes.  Aos poucos e com a ajuda da nova amiga. Ele ia recuperando gradativamente a memória e suas lembranças se tornaram mais reais e completas.

Podia lembrar até de pequenos detalhes do seu passado, antes esquecido na escuridão da loucura na qual se perdeu, durante vinte anos. Conversavam pelas madrugadas em busca de tentar ir mais fundo nos detalhes.  Aqueles que porventura permaneciam ocultos no seu subconsciente.

Essa terapia contribuiu muito para firmar melhor as ideias que pouco a pouco surgiam e lhe faziam ficar sintonizado com os fatos presentes. Enquanto ele reencontrou a si mesmo e saia definitivamente daquele mundo irreal no qual viveu penitente por duas décadas, ela anotava todas as suas evoluções e criava uma extraordinária história a ser contada futuramente a outras gerações.

Alessandra, como sempre bastante apressada, queria revelar publicamente o acontecido. Mostrar aos paraenses a verdadeira face da suposta defensora dos desvalidos e guardiã dos menos favorecidos. Seu maior propósito era desmascara a senhora da borracha. E desmoronar seu império de enganos e mentiras. Principalmente naquele momento em que ela pretendia participar do próximo pleito político, concorrendo ao governo do Estado. Se além da influência que já possuía na sociedade ocupasse o governo, qual o limite do poder que teria nas mãos e o que poderia fazer contra aqueles que, como ela e a médica assassinada.

 Se opusessem a seus atos injustos e corruptos?  Naomi não era nem um pouco diferente de seus antepassados. Todos eles enriqueceram às custas da exploração de gente carente de sustento. Aquelas dispostas a tudo para adquirirem uma porção de alimento para dar aos filhos. Que, iguais a eles, cresceriam no meio do mato como animais, sem qualquer educação e noção do certo ou errado.

Para mais tarde servir de boias frias nas plantações de seringais, colhendo o rico produto que enriqueceria seus senhores.  Os tempos dos seringais passaram, a modernidade chegou e se tornou difícil manter o trabalho escravo. Explorando tais famílias, pagando o suor do trabalhador com pratos de comida.

Porém, nada a impediria de usar outros métodos, mesmo os mais convencionais, para alcançar seus objetivos inescrupulosos. Tentar impedir de todas as maneiras que isso viesse a acontecer deveria ser a principal missão da juíza e de todos os seus aliados.  Era ano de eleição e a maldita assassina estava entre os candidatos com maiores chances de irem para o segundo turno. Era necessário que aproveitassem aquele período eleitoral para deslanchar sobre ela toda a sujeira guardada debaixo do tapete, mostrar aos eleitores tudo de ruim que ela tinha feito às escondidas.

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