RECOBREI A CONSCIÊNCIA com uma pontada que disparou no canto da minha testa. Um chiado escapou da minha garganta seca, e eu forcei meus olhos a se abrirem. O primeiro detalhe que meus olhos captaram foi o teto de pedra acima de mim, gelado e áspero. Uma sensação de pavor se espalhou por meu peito, como se algo horrível estivesse prestes a acontecer. O medo se instalou em mim com uma intensidade aterradora, como se uma premonição sombria tivesse se apoderado do meu ser.Eu não sabia onde estava, mas sabia que não era bom.Tentei me apoiar em algo para me levantar, mas meu corpo foi recusado com um grito silencioso de dor, e eu caí de volta, sentindo o chão frio e liso contra a minha pele. Meu corpo protestou em cada movimento, como se cada fibra estivesse atordoada. Minhas mãos tremiam, eu tentava entender o que havia acontecido, mas a dor na testa me impedia de pensar com clareza. Pisquei algumas vezes, tentando focar a visão, e então olhei para o teto de pedra acima de mim. O espaço o
DESPERTEI LENTAMENTE, AINDA imersa na névoa do sonho. Espreguicei-me, sentindo a suavidade do colchão acolhedor sob meu corpo, mas, ao tentar abrir os olhos, percebi o peso de chumbo sobre minhas pálpebras, como se algo me impedisse de despertar totalmente.Foi então que, instantaneamente, concluí que ainda estava sob o efeito do sonífero.― Senhorita, ela está acordando. ― a voz monótona de Clemence ecoou ao longe, e uma onda de alerta percorreu meu corpo.― Até que fim. ― ouvi uma voz feminina e vagamente familiar comemorar com um tom leve de impaciência. ― Já estava na hora.Nesse instante, senti o colchão afundar ao meu lado.― Angeline, você precisa acordar. ― a voz falou como se estivesse lidando com uma criança.Lentamente, abri os olhos, tentando focar na figura de cabelos loiros que se inclinava sobre mim. Minha visão estava turva e minha mente ainda embaçada. Tentei emitir alguma palavra, mas minha voz se recusava a sair. Meus lábios estavam secos e colados, como se algum tip
DEFINITIVAMENTE, EU NÃO estava ficando louca. Havia alguém ali comigo, na escuridão, e não podia ser uma ilusão. O som daquela voz ecoava na minha mente como um sussurro dissonante, me lembrando de que eu não estava sozinha — e isso estava longe de ser um alívio. Quem mais estaria preso nesse lugar? Outro prisioneiro como eu? Ou, pior, um dos vampiros de Henry, rondando como uma sombra, esperando o momento certo para atacar?O pavor rastejou pela minha espinha como dedos frios e invisíveis. A escuridão absoluta tornava tudo ainda mais aterrorizante. Eu podia sentir minha respiração acelerada, meus sentidos aguçados, cada nervo do meu corpo em alerta máximo. O que quer que estivesse ali, parecia interessado na minha marca. Mas por quê? Qual era o verdadeiro propósito dessa presença oculta?O silêncio ao meu redor era insuportável, como se o próprio ar estivesse suspenso, aguardando um desfecho que eu não queria enfrentar. A qualquer momento, um ataque poderia vir — de qualquer direção.
DEPOIS DE REPASSAR pela terceira vez o que precisava fazer para escapar daquela prisão e despertar o poder selado, a insegurança começou a se arrastar sobre mim como uma sombra sufocante. E se eu falhasse? E se, ao invés de libertação, eu trouxesse apenas ruína? O peso da responsabilidade se transformava em um fardo insuportável, pressionando-me até os ossos. Eu nunca quis uma vida grandiosa, apenas um clichê confortável; uma casa simples cercada por um gramado verdejante, pais admiráveis, um futuro acadêmico repleto de promessas e Nate. Mas essa não era a realidade traçada para mim. Por mais que eu desejasse, tentasse ou fingisse pertencer a esse ideal, ele nunca me pertenceria. Meu destino já estava escrito, e nele, eu não passava de uma peça num tabuleiro de xadrez, onde as regras não eram minhas. O destino movia as peças, guiava os passos, e quando o xeque-mate chegasse, eu teria que estar preparada.Independentemente de quem caísse pelo caminho.Desafiar Henry pela segunda vez não
O DESESPERO RUGIU dentro de mim, ensurdecedor como um alarme disparado diretamente em meus tímpanos. Dor, raiva e frustração se retorciam dentro do meu peito, serpenteando pelos meus nervos, sobrecarregando cada fibra do meu corpo até que o esgotamento físico e mental se tornasse inevitável. Era como lutar contra a correnteza de um mar revolto, nadar com todas as forças apenas para ser arrastada para as profundezas. O esforço era inútil.Eu estava afundando.E olhar para Karyn naquele estado fazia cada gota de resistência se esvair.A dor era lancinante.Uma dor que não vinha de ferimentos visíveis, mas que dilacerava por dentro, uma dor que me desmanchava pouco a pouco. Como se a mulher forte, astuta e inabalável que ela costumava ser tivesse desmoronado, reduzida a nada diante da cena diante de mim. Eu não sabia se a dor que sentia era a minha própria, ou a dela, mas era impossível ignorar.Há quanto tempo estávamos presas? Dois dias? Três? Não havia como saber. Mas, ao ver Karyn naq
O FOYER FOI tomado pelo caos. Caçadores emergiam de todos os lados, saltando das janelas despedaçadas e avançando pelas portas com precisão calculada. Vestidos com trajes escuros de combate, empunhando lâminas afiadas e bestas carregadas, eles se moviam com uma fúria inabalável. Vampiros rosnavam em resposta, os olhos ardendo em um brilho feroz, encurralados como feras prestes a atacar.Braddock permaneceu firme à frente de seu bando, como um predador protegendo seu ninho. O corpo gigante estava retesado, pronto para o confronto, as presas expostas num sorriso de puro ódio.— Como ousam profanar nosso domínio?! — ele rugiu, a voz reverberando pelo saguão, gotas de saliva escapando de sua boca retorcida.Um dos caçadores, um homem alto e corpulento, avançou sem hesitação. A arma cintilava sob a luz instável das chamas ao redor.— Viemos resgatar o que nos pertence. — ele declarou com desprezo. — Vocês já são assassinos vis, agora se tornaram ladrões também? Sua raça não passa de escória
A mulher recordava com nitidez a primeira vez que cruzara aqueles imponentes muros de concreto, encimados por cercas elétricas e vigiados de perto por caçadores estrategicamente posicionados nas torres de observação. A base militar, com sua estrutura austera e decadente, mantinha a mesma aparência de abandono, oculta no coração da densa floresta e esquecida nas páginas de mapas desatualizados de Nova Jersey. Naquele tempo sombrio, ela havia adentrado ao local escoltada ao lado do pai, cuja presença fora requisitada com urgência devido ao desaparecimento inexplicável de cinco jovens — um mistério que pairava como uma sombra sobre a região. Uma lembrança dolorosa se instalou em seu peito ao reviver aquele dia fatídico. O interrogatório que seu pai enfrentara fora mais excruciante do que as intermináveis aulas de cientologia da professora Rabello, cujo tom monótono transformava cada minuto em uma tortura silenciosa. Sentada em uma sala escura, ela observava seu pai relatar, com um pesar
Inverness, Escócia 1752Uma tempestade descomunal banhava o mundo em um manto de trevas inquietantes desde o cair da tarde. Nuvens pesadas de um cinza profundo como o carvão, tomavam o céu, apagando qualquer vestígio da lua e das estrelas. O vento, feroz e inclemente, bradava em uivos que carregavam a essência da fúria, enquanto relâmpagos riscavam o firmamento com uma luz branca e crua, cada clarão era como uma lâmina que feria os olhos. Beleza e perigo entrelaçados, anunciando que a noite não pertencia mais aos homens, mas às forças que os superavam.No vilarejo aos pés das Montanhas de Krane, a tempestade não era a única ameaça. Os moradores, encurvados sob o peso da calamidade, enfrentavam algo muito mais antigo e terrível que a ira da natureza. Um terror sombrio, quase inominável, pairava sobre eles como uma maldição, espreitando nos cantos mais profundos de suas mentes e corações.Evangeline cambaleava sob a chuva incessante.As suas mãos se apoiavam nos joelhos trêmulos, que lat