Capitulo 3: Yomon-Son, Taberna Sangue de Serpente

     Musicas tocadas em instrumentos de corda e cantadas a plenos pulmões misturava-se aos gritos denunciando a distancia uma festa acalorada na taberna de Mariah, a velha guerreira aposentada fora uma grande combatente que se enchera de glória na sua juventude, agora beirando seus sessenta e cinco anos investira o ouro que não gastara nas tabernas de antes em sua própria taberna que se tornara a mais procurada pelos guerreiros errantes de Hyperion e dos países e províncias que constituíam o império, a velha guerreira era de baixa estatura, mas de braços e corpo fortes, cabelos grisalhos curtos, e rosto redondo sempre alegre, esta aparência em parte inofensiva já custara muitos dentes e ossos quebrados para os mais desavisados, pois apesar da aposentadoria Mariah não perdera nada da força e maestria nas lutas corpo a corpo nem no manejo da espada que usava de bom grado contra qualquer valentão que por ventura tentava aproveitar-se de sua acolhedora e alegre casa.

     Nesta noite em especial uma grande celebração acontecia regado a muito vinho e carne assada, pois o mais controverso grupo de mercenários acabava de regressar de uma missão bem sucedida em um reino próximo, os dragões de ferro liderados por Décimo trazia uma soma grande em ouro e jóias que gastavam com gosto na taberna que era praticamente a casa deles, aproveitavam a noite antes de voltarem para relatar o ocorrido ao líder e fundador da irmandade conhecida como os dragões vespertinos, o misterioso sacerdote que beirava em aparência seus sessenta e sete anos, cabelos pretos lisos e curtos, olhos também pretos, pele branca e rosto sério, era talvez a única pessoa que conseguia de certa forma controlar o grupo de guerreiros comandados pelo Décimo Cavaleiro que não servia reis ou generais algum e carregava uma aura de morte e ódio sobre si, Tarcilio carregava um coração enorme, sua fachada de dureza se devia graças à solitária e reclusa vida que levara outrora, tinha uma missão a qual não podia dividir ou delegar a mais ninguém.

     Enquanto aguardava paciente o dia em que finalmente poderia cumprir sua missão e descansar em paz, decidiu fundar a irmandade dos dragões vespertinos reunindo em um único grupo os guerreiros errantes que rondavam sem rumo os impérios unidos vendendo suas espadas, organizou-os em grupos e transformou-os de errantes a soldados especiais que vendiam seus trabalhos aos reis submissos aos imperadores, mas que tinham limitados poderes sobre suas terras, o que ele queria na verdade era organizar uma tropa especial de guerreiros fortes e corajosos diferente dos soldados mal treinados e acostumados a inimigos mais fracos e o apoio dos exércitos dos grandes impérios, ele mais que ninguém sabia que chegaria a hora em que precisaria formar novamente o grupo dos dez caídos outrora, os maiores guerreiros de Hyperion. Tarcilio cuidava dos guerreiros feridos, oferecia treino e armamentos de qualidade e abrigava-os em seu palacete, tinha como seu braço direito Sebastian o comandante da guarda de elite imperial que fora designado pelo imperador Greiton Arion para acompanhar de perto esta associação, um guerreiro de pele branca, físico forte e duro, cabelo preto curto, sempre bem disposto, envergando uma armadura branca com detalhes dourados, duro com seus afazeres que eram de natureza administrativa, os pagamentos, as avaliações de novos candidatos e acima de tudo os relatórios ao imperador, Sebastian era o contrario de Décimo era um verdadeiro militar, totalmente obediente às regras e comandos, como Décimo era exímio espadachim, e muito bom em combates físicos.

     Na taberna Sangue de Serpente, em uma mesa mais afastada Décimo apoiado ao encosto de uma grande cadeira assistia impassível a algazarra na mesa a sua frente, onde um grande grupo de homens rudes assistiam eufóricos uma disputa de queda de braço, na mesa os competidores mediam forças em pé de igualdade, um guerreiro gordo, alto, careca e cheio de tatuagens forçava ao máximo seu pulso contra o do adversário, conforme o suor escorria por entre veias estufadas a vermelhidão de sua pele branca denunciava que já não tinha de onde tirar mais força, do outro lado da mesa sua rival pelo contrario parecia tranqüila com a certeza da vitória sorria para o adversário, Valéria de cabelos cumpridos loiros, corpo musculoso mas proporcional em sua forma, alta, olhos azuis ferozes e braços fortes com os quais manejava habilmente um vigoroso machado em uma mão e uma espada em outra quando nas batalhas, usava uma armadura marrom de couro, uma grande saia do mesmo material que batia abaixo do seu joelho formada por tiras grossas unidas por uma malha de aço fina, braceletes e botas, trazia estampada no rosto uma beleza rara que contrastava com seu semblante duro, decididamente derrubou o braço do adversário na mesa enquanto virava de uma vez sua caneca de vinho na boca, os homens ao redor deles começaram a fazer uma grande algazarra escarnecendo do guerreiro derrotado, incrédulo e ao mesmo tempo furioso o guerreiro fez menção de levantar ao mesmo tempo que berrou para Valéria:

     --SUA CADELA! VOCÊ ROUBOU! VOU PARTILA AO MEIO!

     --Eu não faria isto se fosse você mandrião!

     O homem inclinou o corpo levando a mão à espada, mas antes que conseguisse Valéria já de pé desferiu um soco de cima para baixo que acertou em cheio o topo da cabeça do guerreiro jogando-o ao chão desacordado, os amigos do incauto homem não gostaram e partiram para cima dela, o primeiro levou um soco no estomago e também foi ao chão, agarrou o segundo dando uma chave com o braço em seu pescoço e chutou a cara do próximo quebrando seu nariz e arrancando alguns dentes, mais homens juntaram-se ao redor dela mas foram caindo um a um.

     De longe Décimo somente observava tomando tranquilamente sua caneca de vinho com os pés apoiados encima da mesa, era de estatura média, cabelos cumpridos pretos já sortido de vários fios brancos assim como sua barba que batia abaixo do pescoço, olhos pretos, pele parda, usava uma armadura branca já meio escura com detalhes pretos, sentados ao seu lado direito estavam à sua pequena e jovial escudeira chamada Jessi uma adolescente de dezessete anos e o seu arqueiro Elder, ambos amigos de Décimo, a garota era de baixa estatura, mas bastante enérgica, tinha os cabelos curtos e olhos pretos, era branca, esperta e inteligente era talvez a única criatura que ainda conseguia fazer Décimo rir vez ou outra, já o jovem arqueiro de vinte anos era sua contra parte, de altura mediana, loiro de olhos azuis e pele branca, muito quieto e de rosto carrancudo, como Décimo também era um espadachim ótimo apesar de ter na mira de uma flecha sua melhor qualidade, assistiam a cena onde vários homens eram arremessados a distancia pela feroz guerreira Valéria, Jessi com sua empolgação de sempre tentava convencer os dois guerreiros a apostar com ela na luta afim de arrancar-lhes ouro como já fizera outras vezes, Elder tentava inutilmente controlar a euforia da agitada “caçula” da estranha família, de repente uma grande mão negra pousou no ombro de Décimo chamando-lhe a atenção o guerreiro olhou para traz e viu Ninrood seu grande irmão de armas, vindo das distantes terras dos homens de ébano, agora era um guerreiro impar que se igualava em ferocidade com Décimo, fora resgatado por Décimo e Tarcilio  de uma mina de escravos com outros  homens de varias nações a muitos anos atrás, era muito alto e forte, pele e olhos pretos, cabelos grades trançados batendo as suas costas, carregava tatuagens tribais  na maior parte de seu corpo e no rosto que circundavam seu olho esquerdo e desciam até seu maxilar, símbolos de sua antiga tribo das terras negras, ele e Décimo conheceram-se a muito tempo atrás, a primeira vez que se viram o guerreiro negro estava contido por correntes e obrigado a trabalhar com muitos outros dos seus compatriotas nas pedreiras de um pequeno reino, Décimo com a ajuda de tarcilio libertou a todos! O grande guerreiro grato decidiu ficar ao lado de Décimo e do sacerdote e logo acabaram virando grandes amigos e nunca aceitavam uma missão separados! O guerreiro de ébano perguntou para o amigo:

     --Não seria melhor apartarmos a briga?

     --Deixe meu irmão! Valéria esta só se divertindo e eu também! O que veio fazer aqui? Não tinha ido ver nosso amigo Tarcilio para entregar-lhe a parte dele?

     --Sim, e tenho uma nova missão para nós, ele me pediu para que eu falasse com você, pois acha que não vai querer aceitar!

     --Se ele pediu para você falar comigo é porque eu não vou querer mesmo!

     --Olhe Décimo, a missão é muito importante para o império, vamos lá facilite só desta vez!

     --Me fale, enquanto ainda tenho vinho!

     --Desta vez a situação parece grave, o próprio imperador pediu para te chamar.

     --Há! Arion quer meus serviços, aquela víbora não consegue colocar seus soldados inúteis para resolver seus trabalhos sujos!

Neste momento Sebastian entrou na taberna e tendo ouvido o que o guerreiro falara retrucou com autoridade:

     --Meça as suas palavras Décimo, pois Tarcilio tem o imperador em alta consideração, assim como eu também!

     --Eu imagino Sebastian principalmente depois que ele nomeou Beltran como general no seu lugar, e mandou você vir vigiar os Dragões Vespertinos!

     --Cale-se atrevido! Eu mesmo decidi vir para os dragões!

     --Eu também já tive minhas experiências com o imperador, não se esqueça de que sou o único sobrevivente dos dez cavaleiros de Hyperion!

     --Que por sinal morreram na batalha de Monte Morte sob seu comando, você nunca nos revelou por que só você voltou!

     Ao ouvir isto Décimo levantou-se furioso, Sebastian conseguira atingir seu ponto fraco, aproximou-se dele e ficaram encarando-se, os dois guerreiros tinham uma rixa muito grande desde a juventude, mas tudo ficou muito pior anos depois, quando Décimo abandonou tudo o que havia prometido proteger tornando-se um paria, agora eram totalmente o contrario um do outro, Décimo o rebelde e Sebastian o obediente, o clima mudou no local com o encontro dos dois e até Valéria parou segurando um homem desmaiado pelo colarinho, quando o clima entre os dois já estava insuportável Jessi colocou-se entre eles e falou:

     --Acalme-se Sebastian, você sabe que Décimo fica assim de mau humor depois de uma missão para os reinos menores, pega leve ta! Décimo, vamos ouvir a proposta do imperador, quem sabe ele tenha algo mais alegre e lucrativo, eu adoraria viajar um pouco e você esta me devendo uma, afinal foi por sua culpa que ainda sinto o gosto da orelha daquele guarda que tive que morder na ultima missão!

     --A garota tem razão, mais do que você soldadinho ou seu imperador! Falou Décimo provocativo e ao mesmo tempo contrariado!

     --Ainda vou fazer você engolir a sua arrogância!

     --Chega Décimo e Sebastian!

     Desta vez a ordem definitiva veio de Tarcilio que sabendo do temperamento de Décimo, e a rixa com Sebastian tanto quanto seu ódio pelo imperador decidiu ir pessoalmente à taberna para o espanto geral de todos.

     Décimo e Sebastian viraram-se para ele e ficaram quietos, então Tarcilio voltou a falar:

     --Eliel Revencroft, eu sei de sua aversão ao imperador Arion, então vou te pedir para esquecer que o pedido vem dele, eu te peço por todos nós, vocês os Dragões de Ferro são nosso melhor grupo de guerreiros, conhecendo sua história eu não te pediria isto se não fosse muito importante, os dragões só irão se você for!

     --Eu não me importo com os problemas do imperador, ele que resolva isto como puder!

     --Se o problema fosse somente do imperador eu até entenderia, mas é muito, além disto, é o segundo império destruído por Anothron, você não se importa mesmo com toda aquela gente? Todo o sofrimento causado aquele povo? E pior, você deixaria o mesmo acontecer com o nosso próprio Império? Com todos os reinos e cidades aos nossos cuidados? Viraria mesmo as costas para eles? Eu não acredito que faria isto, olhe para dentro de si mesmo Eliel e veja no que esta se transformando, se abandonar toda esta gente a própria sorte não será melhor que Arion!

     --Esta bem! Mas eu tenho duas condições e a primeira só vou falar com o calhorda se os demais concordarem, segunda não prometo nada!

     Tarcilio olhou para os demais que concordaram de prontidão, sem argumentos Décimo aceitou fazendo uma careta e falando:

     --Tudo bem, vou falar com ele imediatamente!

     -- Obrigado Décimo você e Sebastian podem ir agora.

     --Como assim eu e o soldadinho?

     --Sim! Você me impôs duas condições, agora eu vou te impor uma condição para permitir que os demais Dragões de Ferro possam ir, quero que Sebastian vá com vocês!

     --Jogada suja!

     --São tempos difíceis e você esta a cada dia mais ranzinza, eu jogo com as armas que tenho!

     --E eu tenho outros assuntos na irmandade, não vou perder tempo viajando por ai com este psicopata!

     --Ora Sebastian, você fica muito tempo ocupado com os assuntos internos, quero que vá com eles e resolva de uma vez suas diferenças, só precisam de um pouco de ação lado a lado, não se preocupe com nada eu cuido de tudo por aqui! Tenho certeza de que vão voltar aos abraços!

     Totalmente surpreso com a decisão de Tarcilio, Elder cochichou no ouvido de Jessi:

     --Se não se matarem antes!

     --Esta certo! Mas fale para este fantoche não ficar no meu caminho, não o quero chorando caso se machuque, não quero errar um golpe de espada em ninguém!

     --Agora chega vocês dois, temos noticias de que o reino de Morgoth foi destruído totalmente, aniquilado por Anothron, você Sebastian tem as suas contas para acertar com o bruxo, e você Décimo já se esqueceu do Monte Morte? Já se esqueceu de que Anothron foi o responsável por tudo aquilo?

     O ódio agora ficou vivo nos olhos do guerreiro, o Monte Morte foi o local onde os cavaleiros imperiais conhecidos como os Dez de Hyperion, seus amigos foram massacrados sob seu comando, a muito ele tencionava matar Anothron por isto, fora ele quem invocara o próprio inferno contra eles levando-os a uma morte terrível. Sem falar mais nada caminhou na direção do seu cavalo montou e seguiu para o castelo Sebastian olhou para Tarcilio e falou:

     --Ele vai ficar furioso quando souber que a missão não é de ataque e sim de escolta.

     --Ele vai ficar MUUUUITO BRAVO! Mais eu sei que vai aceitar, afinal é uma forma de prejudicar Anothron! E você? O que esta esperando?

     --Já estou indo, não quero perder isto por nada!

     A curiosidade típica dos jovens fez Jessi perguntar para tarcilio algo que dificilmente seria respondido:

     --Afinal das contas por que Décimo odeia tanto o imperador Arion?

     --Se eu te respondesse isto, pode ter certeza de que Eliel nuca mais olharia na minha face nem na de vocês, e certamente iria embora para nuca mais voltar a por os pés em Hyperion, o melhor que vocês poderiam fazer é deixar o passado dele morto e esquecido, a propósito vocês já sabem disto, mas vale à pena lembrar, nunca perguntem ou faça menção sobre o Monte Morte para ele.

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