Lady Red - Assassina da Máfia
Lady Red - Assassina da Máfia
Por: Sol Bellini
Prólogo

Clara Tommaso

Londres, 20 de janeiro de 2020

 Agora sei o que significa o ditado “lobo em pele de cordeiro”. Para ser honesta, descobri da pior forma possível. O amor da minha vida, um crápula nojento, por ganância matou o próprio filho no meu ventre. Sou princesa em uma máfia italiana, e minha primeira missão é matar um agente da MI6, conhecido como Jack Brow, mas como qualquer jovem imatura, apaixonei-me e entreguei-me inteiramente para o maldito policial. Temos regras claras de não ter envolvimento emocional com nenhum verme fardado. 

 Presa e entregue a escuridão em uma cela nos esgotos de Londres é a minha condição atual, embora, com essa lição, eu tenha aprendido a nunca confiar em alguém. E se eu sair daqui viva, pode ter certeza que serei o pesadelo de quem cruzar o meu caminho. Solitária, desnutrida e sem esperança, seria uma forma até tranquila de me descrever, entretanto, estou aqui há três meses, com comida regrada: um pão seco e, algumas vezes, arroz puro. Por semana, recebo duas garrafas de água com um litro em cada.

 Ouço vozes no corredor, e como fazem dias que busco soluções para fugir, coloco meu plano em prática. Deito na cama feita de concreto coberta com apenas uma espuma fina que fede a merda, e finjo morte, até que um dos soldados se pronuncia na minha grade com ignorância: 

 — Levanta, imunda! Hora de comer.

 Pela primeira vez, eles estão me dando comida depois de alguns dias. Durante esse tempo regrei minhas últimas refeições e até experimentei comer baratas por questões de sobrevivência. Estou tentada por um prato de refeição, todavia é um sacrifício que pode me tirar daqui. Resisto, paralisada, e torcendo para que ele entre para conferir se estou viva. 

 — Não está ouvindo? Mandei se levantar para pegar a porra da sua marmita. 

 Mantenho minha postura. Nos últimos dias, um deles deixou um grampo de cabelo cair bem próximo a minha cela, o qual peguei e guardei para a ocasião certa. Não sei se deixou cair propositalmente, caso meu pai o tivesse enviado ou não, porém, não perdi a chance de aproveitar a oportunidade de cair fora desse lugar. Em silêncio fiquei, nenhum dos meus músculos mexeram. 

 — Que merda! — Ele liga o rádio e fala: — A vagabunda italiana morreu, vou verificar. 

“ — Porra, quando os superiores souberem, fodeu! Ela era importante.”.

 Ouço a porta de aço ser aberta, preparo-me psicologicamente para agir rapidamente, escuto os passos do homem vindo até mim. Meu coração acelerado mostra minha adrenalina preparada para agir e utilizar a chance de cair fora desse inferno, mas, antes de fugir, vou me certificar de matar Jack. O guarda se aproxima e me vira para verificar o meu pescoço, abri os olhos e enfiei o grampo no olho dele, depois golpeei sua mandíbula com o dorso da minha mão direita, tirando dele qualquer defesa. Aproveito a oportunidade para pegar as chaves e a arma na cintura do oficial. Levantei correndo e saí trancando-o na minha ex-cela.

 — Obrigada, babaca! — Fui até as celas vizinhas, abri algumas e depois entreguei a chave para que as outras abrissem e libertassem todos, era uma prisão unissex. Não tínhamos liberdade de sair para um banho de sol, só ficávamos nas celas ou éramos levados para ser torturados. Se eu causasse um tumulto, os guardas despreparados não conseguiriam conter nossa rebelião. 

Como previsto, meus planos dão certo, vencemos os oficiais no subsolo. Chegamos no topo onde havia aviões, essa era nossa chance de escapar, mas… no meio dos fugitivos há um piloto de avião? De uma coisa é certa, eu saio daqui nem que seja a pé. Observo todos ao meu redor, buscando alguém que tenha experiência com aeronaves. 

 — Itália, eu sei pilotar — diz uma mulher negra. 

O nome “Itália” foi dado pelos guardas, eles sempre nos chamavam pelo nome de nosso país de origem, e essa que fala comigo é a minha vizinha de cela.

 — México, leve todas daqui, irei entregar para um oficial um presente de despedidas. 

 — Vai perder sua chance de sair daqui. 

 — Cuido da minha vida! Sigam para a pista de decolagem e me esperem por três minutos. Se eu não chegar, sigam sem mim.

 Ela balança a cabeça em negação, mas estou decidida, Jack me pagará por matar meu filho. Corro sem saber exatamente para onde estou indo, só quero chegar até ele. Entro em um corredor e me deparo com um guarda, atiro certeiro em seu tornozelo e ele cai no chão, aproveitando a oportunidade para pegar a pistola dele, que ao conferir, só tem três balas.

 — Onde está a porra do seu superior? Jack Brow…

— No fim do corredor, na piscina. Por favor, não me mate! — implora ajoelhado, juntando as mãos como se me fizesse uma prece. Dei uma coronhada no idiota e segui pelo fim do corredor.

 Corro até essa piscina e o observo conversando com uma mulher, ambos estavam rindo. Ele passa as mãos carinhosamente na barriga dela. Caramba, isso é um chute em meu abdômen. Eu ainda tenho sentimentos pelo Jack, entretanto, agora eles estão sendo substituídos por ódio. Observo em volta e não tem mais ninguém, quando nossa rebelião começou no subsolo, muitos guardas foram enviados para lá, e pelo visto o imbecil não desceu, achando que tudo estava contido. Aproximo-me dos dois, atirando primeiro nele, na perna. Pretendo fazer Jack sofrer. Ele se vira em minha direção e a mulher ao seu lado, com medo, grita.

 — Cala a porra da boca! — vocifero.

 — Clara! — espantado, Jack me chama. 

 — Oi, Jack, não estou com tempo para dialogar, minha carona está saindo em minutos, então vamos ao nosso acerto de contas.

 — Não, Clara, podemos conversar. — Ele se levanta e eu atiro novamente na outra perna, fazendo-o cair mais uma vez. — Porra! 

 — É melhor ficar quieto — zombo.

 — Querida, corra — o babaca pede para a mulher ao lado dele.

 — Se correr, eu atiro! — alerto, mirando agora a pistola na direção dela.

 — Você não teria coragem, ela está grávida.

 — Tenho uma coragem filha da puta. Se ela correr, morre. 

 — Sei que não fará isso, por passar o mesmo, perdeu seu filho. — Jack faz questão de me lembrar da pior dor que sofri.

 — Por isso mesmo que tenho coragem de sobra. Além disso, eu nunca entrego meus movimentos, eu digo xeque-mate. — Sorri amargamente, aproximo-me de ambos, parando apenas poucos metros de distância.

 — Não fode, Clara! — Jack esbraveja.

 — Não fode? Me tirou tudo quando me fez abortar meu filho na base da violência, eu sangrei por dias, tive dores que você não faz ideia! — brado, revoltada.

 — Esse filho que tanto fala, morreria assim que nascesse. — Meus olhos se enchem de lágrimas diante das palavras desse monstro. — Você sabe que não vai longe, que vai voltar para o esgoto onde é o seu lugar. 

 — Uma vida pela outra, Jack. — Sem pensar duas vezes, atiro na mulher ao lado dele. 

 — Não! — grito enquanto a pegava nos braços conforme caía, meu tiro foi certeiro, na testa. Atirei para matar. — Não! Meu Deus, eu vou matar você, Clara!

 — Não sofra, vai se encontrar com ela em breve… — Aponto a pistola para ele e aperto o gatilho, mas o tiro falha, estou sem munição no pior momento. Ele levanta com dificuldade, então essa é minha deixa, corro o máximo que posso. 

 Que droga, eu devia matá-lo! Preciso sair daqui antes que mais guardas se reúnam. Dessa vez, se Jack me pegar, ele irá me matar.

 Corro desesperadamente, por sorte não tem nenhum soldado por onde passo, devem estar concentrados no avião que os outros presos pegaram. Embora eu esteja imensamente feliz por fugir desse lugar, ainda sinto remorso por não matá-lo. Corro como se fosse a única coisa que sei fazer, e quando chego na pista, o avião já está pronto para decolagem. Agora ou nunca. Os guardas começam a me seguir enquanto vou de encontro à minha liberdade. 

 — Corre, Itália! — grita outras presas no avião. 

 Tento, mas sinto um tiro em minha barriga. A sensação queima. Perco as forças e caio no chão. Enquanto estava caída, ouvia os gritos das presas e o som dos soldados se aproximando, levanto e aperto meu ferimento o mais forte possível, correndo fracamente pela pista de voo. É a minha chance. Síria sai do avião, correndo, e se aproxima, leva meu braço ao ombro dela e assim corremos juntas. 

 — Eu só vou atrasá-la… 

 — Você salvou todas nós, estou retribuindo o favor, agora cala a boca e corre.

 Sorri fracamente. O clima em Londres está congelante, me causa arrepios, meus dentes batem. Esse é o mês mais frio nesse país. Os guardas não param de atirar, mas, mesmo assim, estamos conseguindo fugir. De repente, um tiro acerta Síria na perna e ela grita; falta pouco, é a nossa liberdade. Feridas e fodidas psicologicamente, conseguimos entrar no avião. Os outros presos ajudaram nós duas, depois as portas se fecham, então bato a cabeça no chão assim que o avião-cargueiro vira, um sinal de que acabou de decolar. 

 Pela primeira vez, respiro fundo, ainda estou com dor no abdômen. Um homem de cabelo negro, másculo e jovem se aproxima de mim. Sento e o afasto, interrogando:

 — O que pensa que está fazendo? — Ele levanta as mãos para o alto em sinal de rendição.

 — Sou Rocco, também italiano, e quero ajudá-la com o seu ferimento.

 — Rocco, qual é o seu pecado? Não te conheço…

 — Sou um ex-policial. Me envolvi com a Máfia Tommaso na Itália dias atrás por te entregar um grampo. 

— Meu pai te enviou? 

— Sim, mas fui descoberto no mesmo dia, tentei passar uma arma na sua comida, e esse crime me custou a liberdade. Foi o motivo de você ter ficado sem comer por alguns dias.

— Eu comi, eles não me deram nada por três dias, mas encontrei minha própria comida. Você era corrupto? Como conheceu meu pai?

— Quantas perguntas! Posso responder enquanto verifico o seu ferimento?

— Se meu pai te enviou, então confio em você. Obrigada pelo grampo, foi útil.

— Disponha... mas, pensei que usaria no mesmo dia…

— Devagar, devagar, se vai longe. Só faço as coisas com maestria, meu caro. — Sorrio convencidamente.

 — Você é uma mulher intrigante, Clara. — O canto da sua boca se curva em um sorriso um tanto atraente.

 — E você, pelo visto, está acostumado com mulheres fáceis. Eu mesma cuido do meu ferimento, Rocco! — Pronuncio o nome dele lentamente, tirando suas mãos da minha cintura.

 Levanto com dificuldade, pego das mãos de Rocco um kit de primeiros socorros e sigo procurando por um banheiro. 

 — Clara — viro para Rocco, que ri e continua: —, quem teima com um teimoso, perde tempo e juízo.

 — Que bom que sabe. — Dou uma leve piscadela para ele.

 Entro no banheiro, olho para o espelho e posso comprovar o quanto eu estou destruída. Levanto a camisa laranja do presídio e verifico que o tiro foi de raspão. Solto a respiração que estou segurando sem perceber. Juro para mim mesma que mataria Jack Brow. Hoje não deu, mas isso não significa que em breve não cumprirei minha promessa. Volto a observar meu reflexo no espelho e juro mais uma vez mentalmente:

“Você vai matar esse filho da puta em breve, não se preocupe, o que espera por Jack é muito pior do que ele te causou. De hoje em diante, você é Lady Red, a assassina implacável da máfia, será temida por toda a Itália, e nenhum homem irá dominar seu coração. O Red significa vermelho, uma referência ao sangue de todos

que você irá derramar. Clara Tommaso morreu, agora és Lady Red, o diabo de saia, o pesadelo de todos!”.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo