Chase Harrison
O som da bengala ecoava como um martelo no maldito corredor. Cada batida contra o piso de mármore soava como um anúncio de guerra, e eu já sabia que vinha encrenca. Não precisava levantar a cabeça dos papéis espalhados sobre a mesa para entender que o velho Harrison estava a caminho. Aquele passo ritmado, firme, irritante. Ele sempre fez questão de ser ouvido antes de ser visto, como se o mundo inteiro tivesse a obrigação de se preparar para a chegada dele.
Não levantei. Não tirei os olhos dos relatórios. Não demonstrei nada além de tédio, mesmo quando a porta da minha sala se abriu sem cerimônia, como se ele ainda fosse o dono do Capitólio.
— Diga que é mentira. — A voz rouca, mas carregada de autoridade, cortou o ar antes mesmo de eu me dar ao trabalho de olhar.
Mantive a caneta entre os dedos, rabisquei mais uma assinatura, e só então levantei os olhos, encarando o velho de pé, apoiado na maldita bengala.
— É mentira. — Respondi seco. Sem entonação, sem explicação.
E