ISABELLA
Tiros. Gritos. O cheiro de pólvora no ar.
Estou agarrada à minha mãe, chorando desesperada. Meu coração b**e tão forte que parece querer rasgar meu peito. Por que isso está acontecendo? Por que querem nos machucar?
A porta é arrombada com um estrondo que ecoa por toda a sala. Um homem surge na entrada.
— Te achei, sua desgraçada — ele rosna, o sotaque estranho tornando suas palavras ainda mais aterrorizantes.
Ele aponta a arma para mim, um sorriso macabro no rosto. O som do disparo explode nos meus ouvidos.
— ISABELLA! — O grito da minha mãe é a última coisa que escuto antes da escuridão me engolir.
Acordo ofegante.
O despertador toca ensurdecedor ao meu lado. Meu coração ainda está disparado, e a sensação horrível do sonho persiste. De novo, esse pesadelo. Se eu contar para minha mãe, ela vai dizer que minha imaginação é fértil demais. Mas por que isso parece tão real?
Sacudo a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Hoje é o primeiro dia do último ano da escola. Graças a Deus.
Levanto cedo para me arrumar com calma, mas parece que todos os meus irmãos tiveram a mesma ideia. O corredor está um caos.
— MÃE! O Otto não sai do banheiro! — Livia,minha gêmea, grita sem um pingo de paciência.
— OTÁVIO, saia do banheiro para suas irmãs se arrumarem! — Mamãe fala… estranho. Sua voz tem um tom urgente, diferente do habitual.
— Eu entrei agora! — Otto reclama do outro lado da porta.
— Anda logo, caramba! — Livia b**e na porta com força.
O clima no corredor muda. Todos se entreolham, confusos. Mamãe nunca se coloca contra Otto.Tem algo errado.
— Vocês estão sabendo de alguma coisa que eu não sei? — Oliver, o gêmeo de Otávio, pergunta, desconfiado.
— Eu, hein? Não sei de nada. — Livi dá de ombros.
Olho ao redor, algo me incomodando profundamente.
— Onde está Owen? Ele sempre sabe de tudo antes da gente.
— No quarto dele não tá. — Oliver abre a porta e confirma.
Um nó se forma no meu estômago. Tem algo acontecendo e não é bom.
Me arrumo o mais rápido que posso e desço para a cozinha. Meus irmãos vêm logo atrás.
— Bom dia, mamãe. — Otto, o puxa-saco de sempre, tenta quebrar o clima estranho.
— Bom dia. Sentem e comam rápido. Vocês vão para a escola com seu tio.
Ela nem olha para a gente. Está inquieta, andando de um lado para o outro, o celular apertado na mão.
Ninguém ousa falar nada. Apenas comemos em silêncio, trocando olhares preocupados.
Quando tio Lucas chega, está ainda mais agitado do que mamãe.
— Cunhada, pegue Ayla e vamos rápido. Eles nos acharam.
O garfo escorrega da minha mão.
— Ai, meu Deus… — Mamãe começa a chorar.
Meu peito aperta. Quem nos achou? Quem está nos procurando?
— O que está acontecendo? — Livia pergunta, a voz trêmula.
— Que porra é essa?! — Otávio se exalta.
— Não temos tempo para explicar! Peguem só o essencial e vamos sair daqui! — O desespero na voz de tio Lucas nos faz levantar num pulo.
Corremos pelo quarto, pegamos mochilas, roupas, qualquer coisa que dê para carregar. O medo cresce a cada segundo.
No carro, mamãe me entrega Ayla, minha irmã mais nova. Seu olhar está sombrio.
— Para onde estamos indo? E onde estão Rafael e Owen? — A pergunta sai da boca de mamãe como um sussurro.
— Rafael mandou levar vocês para o aeroporto. Vamos voltar para Nova York . Meu pai está juntando aliados para esta guerra.
Guerra?
Mamãe solta um soluço.
— Eu não queria outra guerra, Lucas…
Meus olhos se arregalam.
— Guerra?! Que guerra?!
— Do que vocês estão falando?! — Oliver se intromete.
— Isabella, Oliver, agora não.
— Mas—
— NÃO! — Tio Lucas nos corta, sua voz afiada como uma lâmina.
O carro atravessa ruas desconhecidas até pararmos em um aeroporto clandestino. Um jatinho nos espera. Lá dentro, meu pai e Owen estão armados.
Armados.
Otto dá um passo para trás.
— Que merda tá acontecendo aqui?
A tensão explode no ar.
Livi cruza os braços.
— Ou vocês explicam agora ou eu não entro nesse avião!
— Livia! — Mamãe a repreende, mas seu tom é fraco.
Papai solta um longo suspiro.
— Entrem no avião. Eu explicarei tudo.
Mamãe hesita, os olhos carregados de dor. Ela não quer contar a verdade.
E agora, mais do que nunca, eu preciso saber de que diabos estamos fugindo.