O restaurante ficava no topo de um prédio comercial de luxo. Luz baixa, garçons treinados para não ouvir nada, e um sistema de segurança digno de embaixada.
Melina chegou antes. Vestia preto absoluto â um vestido de seda com recortes sutis e uma fenda discreta que escondia uma lĂąmina presa Ă coxa. Cabelo preso, batom vinho, olhos delineados como duas promessas de perigo. Sentou-se Ă mesa reservada, pediu um Malbec argentino e esperou. O garçom trouxe a taça, serviu em silĂȘncio. Ăs 21h05, Miguel apareceu. Usava um terno cinza, com lenço bordado. O mesmo perfume de sempre â o maldito amadeirado que Melina reconheceria mesmo no escuro. Quando se sentou, ela sequer ergueu os olhos. Bebeu mais um gole. SĂł entĂŁo falou: â A pontualidade Ă© a Ășltima gentileza dos canalhas. Ele sorriu, como quem ouve uma piada que jĂĄ sabe de cor. â VocĂȘ estĂĄ linda. Como sempre.